Flordelis e mais quatro réus são julgados pela morte do pastor Anderson do CarmoBrunno Dantas/TJRJ

Rio - O filho afetivo de Flordelis dos Santos de Souza, Alexsander Felipe Matos Mendes, conhecido como Luan, preferiu não prestar depoimento na presença da ex-deputada e de Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da pastora; Rayane dos Santos Oliveira, neta; Marzy Teixeira e André Luiz de Oliveira, filhos adotivos, durante o segundo dia de julgamento pela morte do pastor Anderson do Carmo, no Tribunal do Júri, no Fórum de Niterói, nesta terça-feira (8).
A testemunha de acusação justificou que tem sentimentos pelos réus e que não sabe qual seria a reação ao ficar de frente para eles. O Ministério Público do Rio (MPRJ) chegou a pedir para que os cinco deixassem o local para que os jurados pudessem ouvir o relato presencialmente, mas a juíza Nearis Arce decidiu que a oitiva, que começou às 13h20, fosse realizada por videoconferência.

Alexsander, hoje com 46 anos, disse em depoimento que passou a ser chamado de Luan por volta dos 15 anos e que o que chamou de "nome artístico" foi atribuído por Flordelis, que tinha o costume de renomear os filhos, tendo feito também com Simone, que passou a se chamar Andreia, com Wagner Andrade Pimenta, que recebeu o apelido de Misael, e até mesmo Anderson do Carmo, que era chamado de Miel, em referência ao nome bíblico Daniel.

No depoimento, ela também relatou que Flordelis era intitulada Queturiene, nomenclatura que faz referência a um anjo, e que era tida como uma profeta, o que fazia com que todos a respeitassem como uma autoridade religiosa. Entretanto, segundo Alexsander, a ex-parlamentar não tolerava ser contrariada. "Se você não estava a favor dela, você era o próprio demônio", afirmou.

A testemunha lembrou de uma ocasião em que estava na igreja e que Simone, que também estava no local, disse a ela, rindo, que havia colocado veneno na comida do pastor Anderson. Mesmo sem ter acreditado no que a ré disse à época, Alexsander relatou ter contado a história à Flordelis, que respondeu apenas que seria "coisa da cabeça" dele. O relato deu conta ainda de que a ex-deputada teria ficado com raiva da filha biológica, após ela dizer que não teria coragem de envenenar o pastor e pedido para Marzy assumir a função.
Até por volta das 14h30, Alexsander continuava o depoimento. Ainda nesta terça-feira (8) o inspetor da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), Tiago Vaz de Souza, que atuou nas investigações quando o delegado Allan Duarte assumiu o caso, também prestou depoimento.
Em depoimento, o inspetor afirmou que o pastor sabia dos planos para sua morte e chegou a realizar uma reunião com os membros da família para resolver possíveis insatisfações. Em que, uma das principais queixas eram relativas ao controle financeiro de Anderson. Na oitiva, Tiago pontuou uma situação em que o cancelamento de planos de saúde de filhos que já teriam como se sustentar provocou a insatisfação dos mais próximos de Flordelis que tinham a assistência médica.
Outra ocasião teria sido relatada por Lucas Cézar dos Santos, já condenado por envolvimento com o crime, durante as investigações, em que Rayane estaria insatisfeita com o salário do marido, nomeado no gabinete de Flordelis, quando ela ainda ocupava cargo de deputada federal. Por conta de uma suposta rachadinha, o promessa de pagamento de R$ 15 mil ficava em cerca de R$ 2,5 mil. A ré acreditaria que com a morte do pastor, a remuneração seria melhor.
Já foram ouvidos durante o primeiro dia de julgamento, nesta segunda-feira (7) a delegada Bárbara Lomba, que iniciou as investigações quando era titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), o delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito e Regiane Ramos Cupti Rabello, chefe de Lucas dos Santos de Souza, um dos filhos adotivos da pastora, já condenado por participação no crime. Outras 26 testemunhas de acusação e defesa, algumas delas por vídeo conferência, ainda serão ouvidas. 
Acusações

Flordelis é acusada de ser a mandante do crime e poderá responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Já a filha biológica, Simone dos Santos Rodrigues, e os filhos adotivos Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira poderão responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Enquanto, a neta Rayane dos Santos Oliveira, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.