Flordelis está presa desde agosto de 2021, dias após ter seu mandato cassado pela CâmaraFernando Frazão/Agência Brasil
De acordo com a Justiça do Rio, em razão do número de réus, a expectativa é de que a sessão de julgamento ocorra em mais de um dia. A previsão é de que, após o início do primeiro dia do júri, às 9h, a sessão seja interrompida por volta das 20h, sendo retomada às 9h do dia seguinte.
Acusação
Flordelis é acusada de ser a mandante do crime e responderá por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.
Já a filha biológica, Simone dos Santos Rodrigues, e os filhos adotivos Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira responderão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Enquanto, a neta Rayane dos Santos Oliveira, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.
Simone, presa desde 24 de agosto de 2020, é acusada de ter prestado auxílio a Flordelis no plano para matar Anderson, ajudando a convencer o irmão biológico, Flávio dos Santos, a cometer o crime. Ela também responde pelas tentativas de envenenamento contra a vítima e de integrar a associação criminosa comandada pela mãe. O irmão, no entanto, já foi julgado em novembro do ano passado e denunciado como autor dos disparos que provocaram a morte do pai.
Em depoimento, ela negou o envenenamento, mas disse que planejou a morte do padrasto por conta das investidas sexuais por parte dele. Simone confessou que deu R$ 5 mil para que a irmã Marzy a ajudasse. “Eu disse: Marzy me ajuda, estou passando por maus momentos. Eu não tinha um plano, estava desesperada. Depois que fiquei doente, ele ia no meu quarto. Sei que ela ia dar o dinheiro pro Lucas, mas depois que dei o dinheiro não sei o que houve”, contou em depoimento em 2021.
Simone disse à juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, que flagrou o padrasto se masturbando em seu quarto, ao lado da cama que ela dormia. Ao ser questionada sobre o suposto namoro com Anderson do Carmo antes do casamento dele com a mãe, Simone disse que nunca teve nenhum tipo de relacionamento amoroso com o padrasto. Ela contou que a mãe era cega pelo pastor e por isso não contava sobre as investida dele. “Tinha medo dela não acreditar em mim, ele tinha uma lábia muito boa”, disse.
A ré ainda confessou ter jogado os celulares da mãe, do irmão e também filho biológico de Flordelis, Flávio dos Santos e do pastor Anderson do Carmo no mar da praia de Piratininga, na Região Oceânica de Niterói. Ela disse que pegou o telefone de Flávio pouco antes da prisão, ainda no enterro do pastor. Os três aparelhos eram considerados pela polícia como peças chaves na investigação.
Simone foi casada com um irmão afetivo, André Luiz de Oliveira, que chegou à casa de Flordelis quando a deputada ainda morava no Jacarezinho. O casal, que começou a se relacionar no início dos anos 1990, registrou como filha, em 1993, a primeira criança acolhida por Flordelis, Rayane dos Santos, que a deputada diz ter tirado de um lixão. André e Rayane também estão presos, acusados de envolvimento no plano para matar Anderson e serão julgados nesta segunda (7).
Marzy Teixeira da Silva - filha adotiva
Marzi Teixeira da Silva, filha adotiva, presa desde 24 de agosto de 2020, confessou à justiça, em janeiro de 2021, que procurou o irmão Lucas Cézar para planejar a morte do pai. Lucas, no entanto, que também é filho adotivo de Flordelis, já foi condenado em novembro do ano passado por homicídio triplamente qualificado a 9 anos de prisão em regime inicialmente fechado. Ele foi acusado de ter sido o responsável por adquirir a arma usada no assassinato do pastor.
Em seu depoimento, Marzy disse que ofereceu R$ 5 mil para que o irmão matasse o pai adotivo. Segundo ela, Lucas teria que planejar um roubo e assassinar o pastor. O pagamento ficaria no carro usado por Anderson do Carmo. Além do dinheiro, ele ficaria com o relógio usado pelo líder religioso. “Eu planejei que quando ele fosse fazer o serviço, ele pegasse o dinheiro do pastor. Ele me perguntou se a minha mãe sabia, e eu disse que não, que era um desejo meu”, contou.
Dando continuidade em seu depoimento, Marzy disse que Lucas só aceitaria o plano caso Flordelis concordasse. Ela afirma que pegou o celular da mãe e mandou uma mensagem para para tentar convencê-lo. A filha afetiva revelou que contou para a mãe que queria matar o pai e que as duas conversavam pelo celular, através de um chip desconhecido.
“Eu chamei ela e falei que precisava falar algo importante, revelei a ela todo plano. Depois contei ao Anderson e ele ameaçou me expulsar de casa. E grampear os telefones de todos. Comprei então chip pra falar com a Flor”, confessou Marzy.
A jovem chegou na casa do casal em 2008, quando tinha 24 anos. Na época, disse que a relação era boa, mas depois que ela furtou um dinheiro do irmão André, também adotivo, cerca de R$ 4 mil, em agosto de 2013, o pastor passou a humilhá- la e persegui-la e que isso causou um ódio e a levou a querer a morte do pai adotivo.
Rayane dos Santos Oliveira - neta
Rayane, presa também em 2020, foi a primeira filha adotiva de Flordelis, mas foi registrada como filha por Simone, filha biológica de Flordelis, e por André Luiz, passando a ser neta da ex-deputada. Segundo relatos, ela era considerada o xodó de Anderson do Carmo e constantemente tinha sua história contada em pregações.
Ela é acusada de também ter tentado convencer Lucas Cézar dos Santos para matar Anderson após o rapaz ter recusado a proposta da irmã Marzy. A filha de Simone ainda é denunciada por ter sido a responsável por contratar um matador de aluguel que chegou a ir até a porta da igreja para matar Anderson, mas o plano precisou ser abortado.
André Luiz de Oliveira- filho adotivo
André que faz parte do primeiro grupo de adolescentes que chegaram à casa de Flordelis, ainda na favela do Jacarezinho, se casou com Simone, filha biológica da pastora, e registrou Rayane como filha. No entanto, mesmo após a separação do casal ele continuava morando na casa da família em Pendotiba, em Niterói.
As trocas de mensagens em aplicativos entre Flordelis e André são, para os investigadores, as provas mais contundentes da participação da ex-deputada na morte do marido. Nos diálogos, Flordelis deixa claro a existência do plano para envenenar a Anderson e matá-lo e o filho adotivo mostra total apoio a mãe.
Outros réus já julgados e condenados
Em sessão de julgamento que teve início no dia 12 de abril deste ano, se encerrando já na manhã do dia 13, o Tribunal do Júri de Niterói condenou outros quatro réus. O filho biológico de Flordelis, Adriano dos Santos Rodrigues, foi condenado a quatro anos, seis meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto por uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada; o ex-PM Marcos Siqueira Costa, a cinco anos e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado; e sua esposa Andrea Santos Maia, a quatro anos, três meses e dez dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto. O filho afetivo Carlos Ubiraci Francisco da Silva foi condenado pelo crime de associação criminosa armada a dois anos, dois meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente semiaberto. No dia 28 de abril, a Vara de Execuções Penais do TJRJ concedeu liberdade condicional a Ubiraci.
Em novembro de 2021, o Tribunal do Júri de Niterói condenou Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da ex-deputada federal Flordelis, a 33 anos 2 meses e 20 dias de reclusão em regime inicialmente fechado por homicídio triplamente qualificado consumado, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada. Ele foi denunciado como autor dos disparos que provocaram a morte do pastor Anderson. Na mesma sessão de julgamento, Lucas Cezar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis, foi condenado por homicídio triplamente qualificado a nove anos de prisão em regime inicialmente fechado. Ele foi acusado de ter sido o responsável por adquirir a arma usada no assassinato do pastor.
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