Na verdade, faz tempo que venho me dedicando a entender a imensidão do mundo a partir das suas miudezas. E isso independe de ter uma câmera melhor em mãosArte: Kiko

Em meados deste ano, troquei de celular e, assim que eu peguei o novo aparelho, fiquei entusiasmada com a definição do zoom da câmera. Uma das primeiras fotos que fiz, para testar a captura mais detalhada, foi das suculentas na janela do meu quarto. Fiquei encantada com a vivacidade do verde e de suas folhas registradas bem de pertinho pela máquina.
Na verdade, faz tempo que venho me dedicando a entender a imensidão do mundo a partir das suas miudezas. E isso independe de ter uma câmera melhor em mãos. Nas cenas mais simples, eu percebo o encanto dos detalhes. Foi assim num dia chuvoso, quando saí de casa e vi uma orquídea branca. Logo capturei com o meu olhar uma gota de água que escorria das suas pétalas, como se fosse uma lágrima. Aconteceu também numa manhã ensolarada, numa cafeteria, quando a fatia de bolo veio adornada por uma folha de hortelã. Registrei tudo, não só em cliques, mas na memória.
Eu gosto das possibilidades que a aproximação nos proporciona. Em tudo na vida. Dos detalhes de uma flor ou de um doce às sutilezas de uma pessoa. Sou fã de sorrisos, não necessariamente os de orelha a orelha, mas os expressos pelos olhos também. Quanto mais perto a gente chega, mais entendemos o outro. Acredito que, quando conhecemos um novo universo, temos a opção de apenas enxergá-lo de uma forma geral ou tentar compreendê-lo mais intimamente. Podemos julgar a postura do outro ou perceber nele algum sinal — de nascença ou da sua trajetória — que justifique algum comportamento. Entendo que, com a proximidade, há afetos que ficam desfocados e até perdem o brilho, mas há outros que se tornam mais nítidos e belos. Então, por que não apostar na segunda opção?
Talvez por ser neta de costureira, aprendi que os arremates fazem toda a diferença — e isso vale para roupas e histórias. Inclusive, admiro quem alinhava trajetórias através do coração. Vira e mexe, também me recordo de uma lojinha de bonecas que tive na infância. Os itens eram tão pequenos que precisava de cuidado para manuseá-los. De lá para cá, fui reparando que a delicadeza é fundamental para não desperdiçar os detalhes da vida.
Também me atrai a forma como os artistas apresentam algo grandioso a partir de sutilezas, como em fotografias ou pinturas. Reparei nisso recentemente ao ver restauradores trabalhando no reparo de enormes painéis de Di Cavalcanti, no Teatro João Caetano. Ali, como em muitos murais vistos pelas ruas, a gente tem a real noção de que é preciso ver de longe, mas também de perto; entender o todo, mas também enxergar cada parte dele.
Acredito que a nossa trajetória também seja assim: uma imensidão cheia de peculiaridades. Pensando bem, a tecnologia só nos ajuda a eternizar imagens, mas acho que todos nós já podemos nascer com um zoom natural para captar as miudezas da vida.