Iniciativa faz parte do projeto de revitalização dos monumentos da Praça XV para celebrar Bicentenário da IndependênciaBeth Santos / Prefeitura do Rio

Rio – João Cândido, o Almirante Negro, agora está de frente para o mar, onde protagonizou um dos principais movimentos da história brasileira, a Revolta da Chibata. Sua estátua, reinaugurada nesta terça-feira (22) pela Prefeitura do Rio, foi revitalizada e reposicionada 300 metros adiante para ganhar mais visibilidade: deixou a Praça XV, no Centro do Rio, onde permanecia atrás da estação do VLT, e passou a ocupar um espaço na Praça Marechal Âncora.

"É um compromisso da Prefeitura do Rio fazer esta reparação, ouvir a sociedade civil e dar visibilidade a personagens tão importantes na história da cidade e do país. Fizemos as adaptações do espaço para dar um local de protagonismo para esse herói nacional que foi João Cândido", afirmou o secretário de Governo e Integridade Pública (Segovi), Tony Chalita.

A mudança da estátua foi executada pela Gerência de Monumentos e Chafarizes, da Secretaria de Conservação. A peça foi reposicionada em duas etapas. Primeiro, foi transferido o pedestal para o local atual, ganhando revestimento em granito e uma placa informativa. A figura em bronze, de tamanho natural e assinada pelo artista Valter Brito, passou por limpeza e aplicação de resina protetiva.

"A estátua de João Cândido ganhou uma base menor e se transformou num monumento interativo, onde as pessoas podem se aproximar e tirar fotos ao seu lado. O Almirante Negro, agora, ocupa um lugar de honra", ressaltou a secretária da pasta Anna Laura Valente Secco.

Filho do Almirante Negro, Adalberto Cândido, conhecido como Seu Candinho, ficou emocionado com a homenagem. Aos 84 anos, ele lembrou dos tempos difíceis passados por seu pai:

"A estátua ficou escondida depois que foi construído o terminal do VLT, na Praça XV. O pessoal em situação de rua tirou até a placa de identificação do monumento. Mas agora está num espaço mais bem localizado. O meu pai foi muito perseguido pela Marinha e agora esse reconhecimento deixa a todos nós, da família, muito orgulhosos", afirmou Seu Candinho.

A ação é resultado da atuação da Coordenadoria de Promoção à Igualdade Racial (Cepir), ligado à Segovi, e do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro (Comdedine). Além disso, faz parte do projeto de revitalização dos monumentos da Praça XV, dentro das ações da prefeitura para celebrar o Bicentenário da Independência. No local, foram restauradas as estátuas de D. João VI e General Osório, bem como o Chafariz do Mestre Valentim e o Marco à Fotografia.

O Almirante Negro foi eternizado também através da genialidade e talento de Aldir Blanc e João Bosco, na música "O mestre-sala dos mares", composta nos anos de 1970 e eternizada na voz de Elis Regina. A obra chegou a ser censurada pela Ditadura Militar (1964-1985).

João Cândido e a Revolta da Chibata

Filho de negros que haviam sido escravizados, João Cândido Felisberto nasceu em junho de 1880, no Rio Grande do Sul, e entrou para a Marinha aos 14 anos. O marinheiro liderou o movimento conhecido como Revolta da Chibata, que aconteceu em novembro de 1910, contra os maus-tratos sofridos pelos marinheiros brasileiros.

O movimento queria, principalmente, o fim dos castigos físicos dados a marujos considerados indisciplinados. A punição era aplicada por comandantes brancos em marinheiros que ocupavam postos mais baixos dentro da corporação - grupo formado, em sua maioria, por negros e pobres.

O nome "Almirante Negro" veio após o primeiro levante do movimento, que tomou o encouraçado Minas Gerais, uma das embarcações militares atracadas na Baía de Guanabara.

Os revoltosos afirmavam que, caso as autoridades não decretassem o fim dos castigos físicos, a cidade do Rio de Janeiro seria bombardeada. O governo brasileiro aceitou as condições dos marinheiros e prometeu-lhes anistia, desde que a rebelião acabasse. Entretanto, dias depois do fim da revolta, os rebeldes começaram a ser perseguidos.

João Cândido foi preso, chegou a ficar internado em um hospício e acabou expulso das Forças Armadas. Demitido de vários empregos por pressão de oficiais da Marinha, terminou seus dias como pescador e vendedor de peixes.