Erasmo CarlosDivulgação/Guto Costa

Rio - O cantor Erasmo Carlos morreu aos 81 anos, nesta terça-feira, no Rio. A causa da morte ainda não foi divulgada. Um dos maiores nomes da música brasileira, Erasmo havia sido internado por conta de uma síndrome edemigênica no Hospital Barra D'Or, na Zona Oeste do Rio, no dia 17 de outubro, mas recebeu alta no início do mês. De acordo com as primeiras informações, Erasmo voltou a ser internado há cerca de uma semana e, nesta terça-feira, foi intubado.
O veterano faria shows nos Estados Unidos nos dias 4 e 10 de novembro, mas precisou cancelar as apresentações por questões de saúde. Antes de sua nova internação, Erasmo chegou a publicar uma foto falando sobre sua alta do hospital. "Bem simbólico... Depois de me matarem no dia 30, ressuscitei no Dia de Finados e tive alta do hospital! Obrigado a Deus, a todos que cuidaram de mim, rezaram por mim e se torceram pela minha recuperação. Essa foto com a Fernanda traduz como estamos felizes", escreveu.
O Tremendão, como era conhecido, deixa a mulher, Fernanda Passos, com quem se casou em 2019, e dois filhos: Gil e Leonardo, frutos do casamento com Sandra Sayonara Saião Lobato Esteves, a Narinha, que morreu em 1995. O veterano já havia perdido o filho do meio, Alexandre, também do relacionamento com Nara. O jovem teve morte cerebral após um acidente de moto, em 2014.
Este mês, Erasmo Carlos foi vencedor no Grammy Latino pelo álbum "O Futuro Pertence À... Jovem Guarda", na categoria de "Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa". Em 60 anos de carreira, ele colecionou grandes sucessos como "É Preciso Saber Viver", "Além do Horizonte", "Emoções" e "Gatinha manhosa", todas escritas em colaboração com Roberto Carlos, com quem firmou parceria de décadas na música, na TV e no cinema.
Legado
Erasmo Carlos deixa um enorme legado para a música brasileira. O cantor, compositor e instrumentista foi um dos pioneiros do Rock no Brasil. Nascido e criado na Tijuca, na Zona Norte do Rio, Erasmo Carlos aprendeu a tocar violão com Tim Maia. Ele chegou a fazer parte de um grupo que contava com Tim Maia e Roberto Carlos, mas a banda chegou ao fim após um desentendimento entre o Síndico e o Rei.
Depois, Erasmo foi arranjar trabalho como assistente do apresentador e produtor Carlos Imperial - por intermédio de quem viria a tornar-se crooner do grupo Renato & Seus Blue Caps, em 1962. Com Erasmo dividindo os vocais com o baixista Paulo César, Renato & Seus Blue Caps publicaram seu primeiro LP para a Copacabana. Não muito depois, os Blue Caps acompanhariam Roberto Carlos na gravação de "Splish Splash", numa versão para o português feita por Erasmo. O sucesso do disco garantiu não só a contratação de Renato & Seus Blue Caps pela CBS, como também o nascimento da lendária parceria entre Roberto e Erasmo.
Ao lado de Roberto Carlos e Wanderléa, Erasmo Carlos foi um dos principais símbolos da Jovem Guarda, movimento musical dos anos 1960 e 1970. A Jovem Guarda agrupou as influências do pop britânico e ganhou popularidade definitiva a partir de setembro de 1965, quando a TV Record estreou o programa "Jovem Guarda".
Apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderléa em São Paulo por três anos seguidos, o programa deu visibilidade para que Erasmo e Roberto se tornassem os principais nomes e também compositores do movimento.
Influenciado pelo movimento tropicalista e pela música negra americana, Erasmo cravou uma sequência antológica de discos durante toda a década de 70, como “Carlos, Erasmo...” (1971), “Sonhos & Memórias 1941-1972” (1972) ou “Pelas Esquinas de Ipanema” (1978). Tal fase desembocaria, já no início dos anos 80, em período de grande sucesso comercial, com os discos “Erasmo Carlos Convida...” (1980), “Mulher (Sexo Frágil)” (1981) e “Amar Pra Viver ou Morrer de Amor” (1982).
Em 2001, o cantor completou 60 anos e lançou seu 22º disco, “Pra Falar de Amor”.. O show desse álbum foi lançado depois em CD e DVD. Erasmo vinha rodando o Brasil com as apresentações de "O Futuro Pertence À... Jovem Guarda" e, este mês, ganhou o Grammy Latino na categoria de "Melhor Álbum de de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa" por conta deste trabalho.
Apesar de ter se mudado da Tijuca para São Paulo aos 22 anos de idade, a relação de Erasmo Carlos com o bairro carioca ficou eternizada na música "Turma da Tijuca", mesmo nome que se deu ao grupo de artistas que iniciou sua carreira na região. Nesta terça-feira, a morte do cantor foi lamentada pelo presidente da Associação de Moradores Nova Tijuca, Jaime Miranda: "Ele sempre deu valor, sempre lembrava que era tijucano. Muito triste", disse.
Além disso, Erasmo foi torcedor apaixonado pelo Vasco da Gama e se consagrou como vascaíno entusiasmado ao escrever a canção "Nosso Vasco Campeão". "É com profundo pesar que recebemos a notícia do falecimento do ilustre Vascaíno e símbolo da música brasileira, Erasmo Carlos. 'Sai da frente, que o nosso Vasco vai passar...' Sabemos que sempre estará conosco. Descanse em paz, Tremendão", lamentou o perfil oficial do clube.