Chefe da maior milícia do Rio, Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, foi preso. divulgação

Rio-  Luis Antônio da Silva Braga, chefe da maior milícia do Rio e preso no último domingo (24), vai passar por audiência de custódia na tarde desta terça-feira (26). A sessão, prevista para às 13h, será realizada por videoconferência. O miliciano está detido na Penitenciária Laércio Costa da Silva Pelegrino, conhecida como Bangu 1, no Complexo de Gericinó.
A prisão de Zinho foi negociada entre os advogados do miliciano e a Polícia Federal e a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro. O miliciano tem, pelo menos, 12 mandados de prisão expedidos pela Justiça. Foragido desde 2018, Zinho comandou as recentes ações criminosas que pararam a Zona Oeste.
O criminoso é alvo de seis denúncias do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Sendo elas, por homicídios, lavagem de dinheiro, corrupção de policiais e extorsão. Zinho também é acusado de ser o mandante da morte do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho. 
Jerominho
As investigações apontaram que a execução foi motivada por uma suposta tentativa por parte do ex-parlamentar de retomar o comando da milícia que atua na Zona Oeste.
Jerônimo Guimarães Filho e Maurício Raul Attalah foram baleados em agosto de 2022, na Estrada Guando Sapé, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. Jerominho morreu logo após os disparos, mas Maurício passou um mês internado no Hospital Municipal Rocha Faria antes de morrer. Imagens capturadas por câmeras de segurança flagraram o momento do ataque. Três homens encapuzados e armados descem do carro segundos depois que o ex-vereador também deixa o volante do veículo em que estava. Eles fazem pelo menos dez disparos e fogem. A ação dura pouco mais de dez segundos.
Integrante do grupo miliciano Liga da Justiça, que atuava no Batan, comunidade da Zona Oeste do Rio, Jerominho foi vereador pela cidade do Rio e é irmão de outro integrante da milícia, o ex-deputado estadual Natalino Guimarães.
PM morto em Seropédica 
Luís Antônio da Silva Braga e outros quatro homens se tornaram réus em março deste ano pelo homicídio qualificado do policial militar Devid de Souza Matos, morto com tiros de fuzil em Seropédica, na Baixada Fluminense, em 2021. A denúncia foi enviada para a Justiça em 11 de janeiro de 2023 e recebida pelo Juízo da 2ª Vara da Comarca do município.
O crime ocorreu na Estrada da Comporta, no bairro Canto do Rio, durante confronto com as forças de segurança do 24º BPM (Queimados). Segundo as investigações, a equipe que o agente fazia parte foi até o local para verificar uma informação de que milicianos estariam reunidos com mototaxistas. As investigações ainda apontaram que os policiais foram recebidos a tiros pelos criminosos. De acordo com a denúncia, Zinho concorreu para o crime pelo fato de exercer a liderança do grupo paramilitar do qual os demais acusados são integrantes. 
Homicídios na Baixada
 O Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) determinou a prisão preventiva de Zinho em julho deste ano por dois homicídios cometidos em abril do ano passado, em Seropédica, na Baixada Fluminense. Integrantes da milícia chefiada pelo réu, Alan Ribeiro Soares, o 'Nanan', e Thiago Rodrigues Zarur também foram denunciados pelos assassinatos.
As vítimas são André Luiz Rosa de Sousa e Leandro de Oliveira Moreno, ex-integrantes da milícia comandada por Danilo Dias Lima, o Tandera. De acordo com a denúncia do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), os dois teriam ingressado na milícia de Zinho dois meses antes de serem assassinados.
André e Leandro seriam responsáveis por instalar TV a cabo clandestina (gatonet) somente na comunidade Jesuítas. No dia do homicídio, entretanto, os dois estariam realizando o serviço fora da área determinada por Zinho. Com isso, Nanan e Thiago Zarur receberam a ordem matar a dupla a tiros.
Organização criminosa e lavagem de dinheiro
O Ministério Público do Rio (MPRJ) denunciou em outubro do ano passado Zinho e outros 22 suspeitos de integrar a maior milícia do estado. Outras lideranças também foram denunciadas. Dentre elas, Rodrigo dos Santos, o "Latrell", preso em março do ano passado, e Geovane da Silva Mota, o "GG", detido na Operação Dinastia. 
Dois familiares de milicianos, incluindo a mãe de Latrell, foram denunciados por lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público do Rio (MPRJ), o miliciano utilizou a conta bancária da suspeita para movimentar cerca de R$ 4 milhões obtidos de maneira ilícita pelo grupo criminoso. Já os outros 21 integrantes são suspeitos de organização criminosa, clonagem de veículos, tráfico de armas, extorsão, roubo, receptação e corrupção ativa. 
Operação Dinastia 1
A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público (MPRJ) realizaram uma operação em agosto do ano passado para cumprir 23 mandados de prisão e 16 de busca e apreensão contra milicianos da quadrilha chefiada por Zinho. Na ocasião, oito pessoas foram presas.
De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, as investigações revelaram um esquema de extorsão, posse e porte de armas de fogo de uso permitido e de uso restrito (fuzis), comércio ilegal de armas de fogo, corrupção ativa de agentes das Forças de Segurança, além de diversos homicídios, que são incessantemente planejados e executados pelos milicianos em face de criminosos rivais, que integram a milícia comandada por Danilo Dias, o "Tandera".
Ainda conforme o MP, as provas evidenciam uma 'matança' generalizada de milicianos rivais ou aliados que prejudiquem as atividades do grupo. A investigação ainda revelou que há criminosos destacados exclusivamente para levantar incessantemente dados pessoais e vigiar alvos da quadrilha.
Operação Dinastia 2
No último dia 19, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) realizaram a segunda fase da Operação Dinastia que teve como objetivo prender Zinho e outros 11 integrantes de seu 'bando'. Cinco pessoas foram presas em bairros da Zona Oeste.
Segundo a PF, a ação visou desmantelar o núcleo financeiro da organização criminosa, identificando toda a estrutura de imposição de "taxas" ilegais a grandes empresas e pequenos comerciantes locais, bem como as contas correntes beneficiárias que recebem as cobranças. Ainda de acordo com a PF e MPRJ, durante as investigações foi possível identificar e individualizar cada integrante que compõe o 'bonde do Zinho'.
Quem é Zinho?
O criminoso assumiu a liderança da milícia que atua em Campo Grande, Santa Cruz e Paciência em 2021, dois meses após a morte de Wellington da Silva Braga, o Ecko, seu irmão e antigo líder do bando. Wellington foi um dos responsáveis por expandir os domínios da organização fundada por outro irmão, Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, que morreu em 2017. Ambos faleceram após confrontos com policiais.
Antes de se tornar líder, Zinho integrou a organização ao ficar encarregado da contabilidade do grupo, ficando ligado a atividades de lavagem de dinheiro. Ele é um dos sócios da Macla Extração e Comércio de Saibro, empresa de extração de areia e saibro em Seropédica, na Baixada, com sede no Recreio. Segundo a polícia, a Saibro teria faturado R$ 42 milhões entre 2012 e 2017 e era usada para lavar o dinheiro da milícia.
Ao assumir a liderança do grupo, Zinho acabou rompendo com algumas alianças antigas. Um deles é Danilo Dias Lima, o Tandera, considerado seu principal rival atualmente. No passado, Zinho controlava boa parte da Zona Oeste do Rio e Tandera, áreas da Baixada Fluminense. Com o rompimento da aliança, os dois passaram a travar uma guerra sangrenta por territórios.