Na foto, Dona Maria do Carmo, enfrentou rua com lama, em Nova Iguaçu, por causa de consulta médicaReginaldo Pimenta/Agência O Dia

Rio - O Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemadem-RJ) informou na tarde desta quinta-feira (22) que as cidades da Baixada e do Sul-Fluminense, afetadas pelo temporal que deixou mortos, desaparecidos e vítimas soterradas, seguem com risco muito alto de novas inundações e deslizamentos. Até o momento, oito pessoas morreram no Estado do Rio 
De acordo com a Secretaria de Estado de Defesa Civil (Sedec) e o Corpo de Bombeiros, é muito alto o risco geológico, correspondente a chance de deslizamento de terra, nos municípios de Nova Iguaçu, Queimados, Paracambi e Japeri, na Baixada; em Mendes, Engenheiro Paulo de Frontin, Barra do Piraí e Porto Real, no Sul-Fluminense. As cidades também estão com risco alto/muito alto de alagamentos, inundações e enchentes nesta quinta.
O órgão ainda informou que o Cemaden-RJ está acompanhando as condições meteorológicas e os níveis pluviométricos em todo o estado, enviando alertas para os municípios, quando necessário. O monitoramento é realizado em tempo real e o nível de risco pode sofrer alterações durante o dia devido a mudanças das condições climáticas.
Até o momento, bombeiros já foram acionados para mais de 135 ocorrências relacionadas às chuvas, desde esta quarta-feira (21), em todo o estado. Oito mortes já foram confirmadas. Uma pessoa está desaparecida.
Em Japeri, um menino de 2 anos e Ana Carolina Sodré, de 24, morreram soterrados nos bairros Engenheiro Pedreira e Chacrinha, respectivamente, após a queda de uma barreira. Em Nova Iguaçu, também na Baixada, dois homens morreram em decorrência das chuvas nos bairros Ipiranga e Jardim Pernambuco, além de diversas ruas ficarem alagadas e de moradores perderem móveis. Em Paracambi, a água chegou a invadir casas, mas não houve registro de vítimas até o momento. 
Já em Barra do Piraí, um deslizamento de terra atingiu uma edifício residencial de três pavimentos, deixando quatro pessoas da mesma família mortas na Rua Paula da Silveira, no Morro do Gama. Entre elas estão duas mulheres, um homem, casado com uma delas e filho de outra, e um bebê, fruto do relacionamento do casal. No local, os bombeiros ainda retiraram quatro pessoas com vida dos escombros. A BR-393, que passa pelo município e dá acesso a Volta Redonda, está interditada por causa da ruptura do asfalto devido a chuva. 
Na cidade de Mendes, outro deslizamento foi registrado. Bombeiros seguem atuando na Rua Arariboia, no bairro Vila Mariana, onde uma criança, de 6 anos, estaria desaparecida. A mãe e o irmão da vítima também foram soterrados, mas foram resgatados com vida. 

"Estamos trabalhando ininterruptamente, desde o início da noite de quarta-feira (21), para atender às emergências e socorrer as vítimas em todo o Estado. A Defesa Civil Estadual está em contato direto com as Prefeituras, desde a madrugada, colocando todos os recursos da pasta à disposição, para ajudar a população a retornar, o quanto antes, ao estágio de normalidade. A operação do Corpo de Bombeiros em resposta às chuvas conta com o empenho de bombeiros divididos em Grupos de Resposta ao Desastre (GRDs), com apoio de viaturas de salvamento, ambulâncias, barcos de alumínio para socorro a pessoas ilhadas por inundações e alagamentos, drones, aeronaves para busca de vítimas e monitoramento das áreas atingidas, cães farejadores, além de especialistas em resgate em estruturas colapsadas", afirmou o secretário Estadual de Defesa Civil e comandante-geral do CBMERJ, coronel Leandro Monteiro.
Morte de menino
Imagens que circulam nas redes sociais registraram o desespero de vizinhos tentando socorrer o menino, de 2 anos, que ficou soterrado após uma casa desabar na Rua do Mocambo. 
Após a tragédia, o avô do menino, José Carlos Amorim de Oliveira, muito abalado, revelou os momentos de tensão durante a madrugada na tentativa de resgate do neto. Ele contou, que a irmã gêmea da vítima, que também estava na casa, conseguiu ser socorrida com ajuda dos vizinhos e passa bem.
"São muitos anos nessa luta, foram diversas enchentes. Eu tenho muito a agradecer a Deus porque antes de cair aqui, caiu a parede da minha casa, e eu reuni a família toda para vir para cá, seriam 10 pessoas aqui dentro. Então assim, quando chegamos o fato já tinha acontecido, o povo arrancando na unha, com muita luta conseguimos tirar a menina, mas infelizmente o menino não aguentou", lamentou.

Ainda segundo o avô, o neto inalou muito gás sob os escombros devido a um vazamento por causa da queda da estrutura da casa. "Infelizmente é um município que não tem suporte, me chega aqui uma Defesa Civil que nem se quer sabe coordenar uma retirada de alguém, um bairro desse em obra e não existe uma máquina para nos ajudar, foi uma madrugada desgastante. A gente tá cansado, a gente vem com isso desde a emancipação, nunca tivemos ninguém a nosso favor", disse.
Procurada, a Prefeitura de Japeri informou que a Defesa Civil do município esteve no local durante o desabamento e ajudou no resgate das famílias e das crianças. Além de acompanhar a chegada dos bombeiros. Um dos funcionários ainda foi com a família da vítima até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Queimados.
"O Secretário de Defesa Civil estava no local e foi ele quem entregou o menino para o Corpo de Bombeiros. Durante todo o período de chuvas outra equipe estava no bairro da Chacrinha com a vítima do outro desabamento. Durante toda a madrugada, a Secretaria de Obras e Serviços Públicos e outros órgãos do governo também estiveram nas ruas, já que foram muitos os episódios e chamados dos moradores", disse em nota.
Ajuda à população
A Prefeitura de Japeri informou, por meio do Gabinete Municipal de Gerenciamento de Crise (GMGC), que abriu oito pontos de apoio para acolhimento das vítimas das chuvas. As escolas municipais, de Japeri, Aristides Arruda e Darcílio Ayres; e outras seis em Engenheiro Pedreira, as unidades Pedra Lisa, Santa Terezinha, Bernardino de Melo, Duque de Caxias, Pastor Tasso, além da Escola Etiene, já acolhem famílias desabrigadas pelas chuvas de janeiro.
Nestes locais, as equipes também disponibilizam água potável, alimentos, roupas, cobertores, kits de higiene, atendimento médico e social, entre outros serviços. Com a demanda de chuvas das últimas horas, 155,8mm em 24h, a cidade está com 22 desabrigados e 67 desalojados.
Já a Prefeitura de Queimados informou que abriu um polo de acolhimento às vítimas das chuvas logo após o fim do temporal. Em caso de risco de deslizamento, o órgão recomenda que a população procure esse ponto de apoio, mas se houver dificuldades ao sair de casa há a necessidade de acionar a Defesa Civil pelo 199.
A Prefeitura de Nova Iguaçu disse que a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) está com dez Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e quatro Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) funcionando como ponto de apoio para atender a população. As equipes estão cadastrando famílias, entregando cestas básicas, kits de higiene, cobertores e colchonete para quem precisa. Já a Empresa Municipal de Limpeza Urbana (EMLURB) segue fazendo a limpeza em toda a cidade, priorizando as regiões mais afetadas pelas fortes chuvas. Outras equipes da Prefeitura seguem atuando na cidade.
De acordo com o último boletim da Secretaria Municipal de Defesa Civil (SMDC), emitido no fim da tarde desta quinta-feira (22), 144 ocorrências foram registradas em diferentes bairros, sendo a maior parte delas por alagamentos. Até o momento há 115 famílias (cerca de 460 pessoas) desalojadas, e duas mortes confirmadas.
Em caso de emergência, a população deve entrar em contato com a SMDC pelos dos números 199 / 2667-5751 / 98160-9740. Já a SEMAS disponibilizou a Central de Atendimento do SUAS (Sistema único de Assistência Social), através do telefone (55 21 99706-8443), um canal de comunicação para a população que necessitar de atendimento da assistência social. O atendimento é 24 horas.
O município recebeu um volume de 140mm de chuva em apenas três horas, entre 19h e 22h desta quarta-feira (21), o que representa 116% na média histórica do mês de fevereiro, o que contribuiu para a entrada em estágio de alerta máximo, o que foi alterado nesta quinta-feira (22) para estágio de alerta, com previsão de chuva fraca a moderada nas próximas horas.