Rio - De origem etíope, o café desempenha papel relevante na história da humanidade. Ao longo dos séculos, o fruto se espalhou pelo mundo e hoje é cultivado em mais de 70 países, tornando-se mola propulsora de muitas economias. Não à toa, é louvado todo 14 de abril, quando é comemorado o Dia Internacional do Café. No Brasil, o grão também tem grande importância, sendo responsável por uma época áurea da região denominada Vale do Café — o interior dos estados do Rio e de São Paulo —, com diversas fazendas produtoras.
Tais propriedades, aliás, hoje em dia, compõem um autêntico passeio turístico-cultural. No interior do Rio, o Vale do Café contempla 32 fazendas históricas, sendo que apenas oito delas oferecem visitas guiadas regularmente, entre outros eventos. Em Barra do Piraí, a Fazenda Alliança e a Ponte Alta; em Vassouras estão a Cachoeira Grande e a São Roque. Na cidade de Paulo de Frontin, a Fazenda de Palmas; em Valença, a Vista Alegre; e em Rio das Flores ficam a Paraízo e a União. Todas, é claro, esbanjam opulência, charme e muita história.
Imponência define muito bem a Fazenda Paraízo, em Rio das Flores, de propriedade do casal Paulo Roberto e Simone Belfort, cuja família está à frente da propriedade desde 1912. Uma das joias do Vale do Café, foi construída entre 1845 e 1853, tendo pertencido à Domingo Custódio Guimarães — o Visconde do Rio Preto.
Aberta à visitação desde o ano 2000 — é preciso agendar com até um dia de antecedência —, a fazenda impressiona pelo casarão de 2.200 metros quadrados, com dois andares e 58 cômodos, um símbolo da opulência agrícola da época. De acordo com Simone Belfort, o interior preserva mobiliário original da primeira metade do século XIX, com tapeçarias, cristais e pratarias, entre tantas outras relíquias.
“Há lustres de cristal, papéis de parede e afrescos do pintor espanhol Villaronga. O engenho de café tem maquinário americano, algo raro na época. Outro atrativo é a iluminação a gás da casa, modernidade que só chegou à cidade de São Paulo quase trinta anos mais tarde. E a cozinha continua da mesma maneira até hoje, fogão à lenha”, enumera, orgulhosa, a proprietária.
Em Vassouras, a Fazenda Cachoeira Grande, originalmente uma propriedade de Francisco José Teixeira Leite — o Barão de Vassouras —, que promove visitas guiadas desde 1999. A atual proprietária Nubia Caffarelli destaca que o local tem várias preciosidades. Entre elas, um exemplar do primeiro modelo de pianoforte, de 1803, fabricado em Hamburgo pela Baumgarten & Heinz.
Ainda segundo a proprietária, há também outras relíquias, como um lustre que pertenceu ao Palácio Imperial de Schoenbrun, de Viena, e hoje adorna o salão principal da Cachoeira Grande, e uma cadeira reclinável que foi de Dom Pedro II. Já na sala de refeições, os visitantes podem ver de perto o cardápio de um jantar servido, em 1884, em homenagem à Princesa Isabel e ao Conde D’Eu.
“Uma vitrola RCA Victor movida à manivela também é mostrada. Ela ainda funciona e causa admiração pela sua tecnologia, que já apresenta três volumes, o que demonstra uma evolução em relação ao gramofone”, ensina a proprietária Nubia Caffarelli.
A Fazenda Vista Alegre, em Valença, também reúne mobiliário original do século XIX, além de diversas obras de arte, documentos históricos variados e uma extensa coleção de fotos antigas, entre outras relíquias. Como lembra a proprietária Renata Mattos, a propriedade foi aberta a visitas na década de 1990 — é preciso agendar com antecedência.
Entre os destaques da Fazenda Vista Alegre, a Escola dos Ingênuos, que foi criada na segunda metade do século XIX pelo Visconde de Pimentel. “Foi a primeira unidade de alfabetização de filhos de escravos no Brasil”, conta a proprietária Renata Mattos.
Visitas guiadas e produção sustentável de alimentos
Na Fazenda Alliança, em Barra do Piraí, além das visitas guiadas, é possível ter contato com toda cadeia de produção de alimentos sustentável. O horto e o pomar não recebem agrotóxicos, e os animais da granja — búfalas e carneiros incluídos — fornecem queijos, linguiças e carnes orgânicas, que fazem parte do cardápio idealizado pela chef Letícia Villardo.
Destaque da Fazenda Alliança é a produção, desde o início do ano, de café orgânico, que também pode ser conferida por quem visita o local. A colheita, no entanto, somente deverá acontecer daqui a dois anos. Para a proprietária Josefina Durini, plantar café foi uma forma de resgatar as origens da fazenda.
Ao mesmo tempo, a proprietária também conta que não desejava envenenar o solo e os lençóis freáticos, como também funcionários e os futuros consumidores. Assim, optou pela produção do café orgânico. “Foi escolhido por convicção, de respeito à saúde do ser humano e do meio ambiente. Queremos reescrever a produção do café na região, agora de forma sustentável em termos ambientais e sociais”, explica Josefina Durini.