Erick Bernardes
Erick BernardesDivulgação
Por Irma Lasmar
SÃO GONÇALO - Fatos, curiosidades e até lendas urbanas - que retratam épocas, crenças e modus vivendi dos gonçalenses - integram o recém-lançado livro Cambada 2, de Erick Bernardes, uma continuação de Cambada, lançado há alguns meses pela editora Apologia Brasil. As obras contam um pouco mais da história de São Gonçalo, mergulhando com primor no passado de recantos pouco conhecidos e nas origens pouco exploradas dos muitos bairros do município. O lançamento da publicação coincide com a posse do autor na Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), como membro pesquisador.
Você sabia que o Vulcão de Itaúna, apesar do formato, não é de fato um vulcão? E que o bairro Parada 40 possui um relógio solar dupla face raríssimo no mundo? Ou que Rio do Ouro assim se chama porque um trem teria descarrilado e seu carregamento em ouro derramado para um rio da região? Sabia também que Várzea das Moças assim se chama em homenagem às filhas de um certo fidalgo morador do lugar? E que o sub-bairro Coroado ganhou esse nome porque parecia a cidade homônima retratada na telenovela Irmãos Coragem? Estas e outras respostas estão na obra do escritor e professor, formado em Letras pela Uerj.
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"Ouvia muitas histórias e estórias contadas por meus pais e avós sobre a cidade e resolvi pesquisar algumas delas para publicar. Primeiro lancei o Panapaná, meu livro de contos, que interessou o editor de um jornal local, o qual me cedeu espaço nas páginas das edições de domingo. Escrevi, em formato de crônicas, sobre Luz Del Fuego, o Palacete do Mimi - frequentado por grandes escritores modernistas - e as locomotivas da região. Quando completaram 40 textos, publiquei-os nesta obra, Cambada, através da editora do próprio jornal", conta Erick, lembrando que o primeiro título faz menção ao coletivo de borboletas (e dá nome a um dos contos) e o segundo, ao coletivo de caranguejos - animal de mangue (vegetação comum em várias regiões de São Gonçalo), resistente e de fácil adaptação, do qual o escritor se apropriou como símbolo do povo gonçalense.
Devido ao conteúdo e à repercussão do Panapaná, Erick foi convidado a palestrar em várias escolas da cidade, inclusive em sub-bairros que ele próprio pisou pela primeira vez, como Pantanal e Buraco do Pato, por exemplo. E nessas incursões, permeadas de mais conversas com populares, surgiu a continuação, a partir de 40 novos textos. No número 2, são contados "causos" de outras localidades de São Gonçalo antes desconhecidas da literatura histórica municipal, mesmo ficcional, como Legião e Conga.
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"Muitas são narrativas orais, de conhecimento público, mas sem confirmação documental, o que nos faz crer que são permeadas de lendas urbanas, o que, contudo, não tira seu valor e sua importância para a cultura da região, principalmente porque a população acredita nelas e faz delas referenciais em suas próprias vidas", explica ele, que tem esses depoimentos gravados em áudios e vídeos, podendo, segundo o escritor, virar documentário um dia.
Outra delas, adiantada com exclusividade pelo jornal O Dia, foi sobre "o índio do Arsenal", até então tido pela maioria da população como um herói histórico, talvez até personagem da fundação da cidade. Contudo, o "Arariboia de São Gonçalo", na verdade, é uma representação religiosa de Oxóssi, orixá da umbanda ali instalado pela dona de um terreiro na localidade. 
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Erick leciona Literatura e Redação para o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio. Mestre em Estudos Literários pela Faculdade de Formação de Professores da Uerj (FFP) e doutorando em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense (UFF), atualmente ele se preocupa em recuperar a história oral de São Gonçalo e Niterói por meio da literatura. É prefaciador de livros, crítico literário e criador de folhetos de cordel sobre sua cidade natal em parceria com o poeta e amigo Zé Salvador, pelo qual Erick afirma ter uma gratidão eterna pelos ensinamentos que este mestre do cordel lhe proporcionou. Também colabora com um jornal e uma revista local, além de ser colunista e editor de um periódico literário.
Antes da pandemia, além de se dedicar às crônicas e às palestras sobre sua cidade, Erick se aventurou a fornecer argumentos para a produção de cordéis do poeta Zé Salvador, fazendo também a revisão dos mesmos. Isso o levou a se aproximar do universo dessa literatura e também com a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), onde assistiu a algumas plenárias e criou laços de amizade com os membros cordelistas. Até que seu nome foi cogitado para ingressar na entidade como membro pesquisador, por intermédio de Zé e também de outro a acadêmico, Erinaldo Santos. O ingresso do professor gonçalense foi votado e aprovado em janeiro deste ano.