Machado de Assis - Reprodução Internet
Machado de AssisReprodução Internet
Por TÁBATA UCHÔA
Felipe Neto entrou na brincadeira do "Crie uma treta e saia", que tem feito sucesso no Twitter, nesses últimos dias. A brincadeira consiste em postar algo polêmico, mas que você acredite ser verdadeiro, e sair. Jogar a bomba e deixar repercutir. O problema é que o influenciador digital acabou mexendo com um assunto sério: Educação.

Enquanto o pessoal estava criando tretas sobre novelas, filmes e até mesmo tretas literárias inofensivas - tinha gente dizendo que um personagem é melhor que o outro, por exemplo - Felipe Neto resolveu mexer com Educação, esse assunto que infelizmente já é tão problemático em nosso país.

Dizer que "ler Machado de Assis e Álvares de Azevedo é um desserviço" não é como criar uma treta literária sobre "Quem é melhor? Harry Potter ou Percy Jackson" ou uma treta sobre "Capitu traiu ou não traiu Bentinho?". Olha o nosso Machado aí, no meio das tretas pop, Felipe Neto!

Ao dizer que a obra de Machado de Assis e Álvares de Azevedo não deve ser apresentada a adolescentes, ele está dizendo - acredito que sem se dar conta disso - que alunos que não chegarem a fazer faculdade, seja por escolha ou por falta de oportunidade, não têm o direito de conhecer esses autores. Não têm o direito de conhecer os clássicos, já que provavelmente eles não vão gostar e absorver mesmo.

E muito disso vem da crença de que a Literatura tem que ser sempre essa coisa sagrada e prazerosa. Não! Literatura é uma disciplina que faz parte do currículo escolar, assim como Física, que tanta gente odeia - eu, inclusive, odiava - e ninguém disse: "Física não deveria ser apresentada a adolescentes".

A Literatura não é só sobre achar o livro bom ou ruim, viciante ou entediante. Ela está alinhada com a História. Ao ler sobre um período, aprendemos sobre os costumes daquele período. 

Até entendo o ponto de Felipe Neto. Eu mesma fui uma adolescente traumatizada por "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Mas não é porque eu não gostei de ler Machado de Assis naquela época, que o livro não me deveria ser apresentado. Hoje em dia, justamente por conta de professores que insistiram em que eu continuasse lendo clássicos, eu amo a fase romântica do Machado de Assis. Livros como "Ressurreição", "A Mão e a Luva" e "Helena" estão entre meus preferidos. Ainda não cheguei na releitura do realismo de "Brás Cubas", mas vou chegar lá... 
A questão crucial de todo esse debate é, na verdade, como apresentar essas obras e fazer com que adolescentes entendam sua importância literária e histórica? Existem inúmeras maneiras de ensinar e talvez esteja aí o X da questão. Mas já estamos entrando de novo no campo da Educação, que não nos cabe. Temos inúmeros professores muito bem qualificados e que sabem como fazer isso.
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