A campanha deste ano tem o lema 'Agir salva vidas', alertando que uma conversa amiga, permeada de apoio e elogios sinceros, é capaz de evitar uma tragédiaDivulgação
Estamos hoje no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (10/09), data escolhida pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para chamar atenção sobre este problema crescente e passível de prevenção. O Setembro Amarelo existe desde 2015 com o objetivo de frisar a importância de se falar sobre o assunto. A campanha deste ano tem o lema Agir salva vidas, alertando que uma conversa amiga, permeada de apoio e elogios sinceros, é capaz de evitar uma tragédia.
"Às vezes a pessoa pede socorro falando que está mal, que quer se matar e que não aguenta mais a vida. Só que muitas pessoas acham besteira, só por não compartilharem do mesmo sentimento. Tenha empatia e escute com atenção o que diz a pessoa, pois é um pedido de socorro”, orienta a psicóloga clínica gonçalense Roberta Massot, que atende no bairro Estrela do Norte.
Roberta pondera motivos como sentimentos de vergonha, culpa e dor. “Para acabar com a dor, a pessoa quer acabar com a vida. E isso não acontece da noite para o dia: vem de um histórico familiar, talvez bullying, fim de um relacionamento e até uma dispensa do trabalho. Precisamos ficar atentos aos sinais", clama ela.
Segundo o médico psiquiatra Ilton Castro, as vítimas estão relacionadas a casos de depressão, transtorno bipolar e abuso de drogas. “O suicídio é a materialização do sofrimento mental. Uma pessoa com comportamento suicida deixa rastros. Elas preferem se isolar, e quando interagem soltam frases de baixa autoestima. Frases como ‘eu não tenho valor’, ‘eu não posso’, ‘vocês viverão melhor sem mim’ sinalizam para a necessidade de ajuda profissional”, alerta.
O suicídio é hoje a terceira causa de mortes entre jovens no Brasil. Só fica atrás dos registros de violência e acidentes de trânsito. E o maior inimigo do problema é a desinformação.
"Muitas famílias ainda interpretam casos de depressão ou transtorno mental como opcionais. Um tabu que a sociedade só consegue vencer unida. Se uma pessoa sofre por problemas no coração causados por uma arritmia ou mesmo insuficiência cardíaca, ninguém questiona se a doença surgiu porque o paciente não tem Deus no coração ou está com tempo ocioso demais e deveria procurar um serviço. É preciso entender que, assim como o coração, o cérebro é um órgão e pode sofrer alterações no sistema nervoso central. Claro que este entendimento se alinha a uma análise multidisciplinar, que envolve contextos culturais, ambientais, sociais e emocionais para a conclusão de um diagnóstico”, afirma o especialista.
O escritor, cerimonialista e músico Marcelo Aceti, que coordena ações do Setembro Amarelo em Niterói, diz que a sociedade ainda engatinha em questões sobre a saúde mental devido ao preconceito e à falta de empatia.
"As pessoas preferem empurrar os problemas para longe, criando barreiras como, por exemplo, classificar o problema como frescura, falta de fé ou coisa de gente à toa. São frases de efeito, respostas fáceis e prontas que não permitem a reflexão sobre aquela realidade, que é uma das doenças mais incapacitantes do mundo. Acredita-se que 15% da população do nosso país sofra com a depressão, mais de 30 pessoas cometem suicídio todos os dias em nosso país, mas muitos ainda preferem não falar sobre isso e afastar o assunto com essa postura fraca e tola de que a culpa é do próprio doente ou que o mal em si nem existe, é só um apelo por atenção ou drama", lamenta.
Aceti explica por que o depressivo precisa da ajuda de terceiros para se curar, que são fundamentais nesse processo.
"A depressão pode minar o nosso ânimo de uma hora para outra, deturpar a imagem que temos de nós mesmos e ofuscar nossos propósitos, tornando muito difícil ver um sentido em tudo, em estar aqui e permanecer. A chamada rede de apoio, que são os familiares, amigos, pessoas que convivem e se importam com alguém que tem depressão, são peças fundamentais para lidar com a doença, principalmente quando os sintomas surgem ou uma crise desponta. São eles que nos ajudam a lembrar que nós não somos os nossos sintomas, que a nossa percepção da realidade está comprometida, e que, por pior que pareça no momento, vai passar", descreve.
Desta linha de pensamento e ação surgiu o foco da iniciativa - intitulada Se você ama alguém que sofre… - que o filantropo conduz em parceria com o psicanalista Lenilson Ferreira e com a coordenação de Evelyn Murad. Os bate-papos, palestras e depoimentos estão sendo compilados em livro para que tais reflexões e soluções cheguem a um número ainda maior de pessoas.
Ele exalta a importância dos voluntários, o que inclui o serviço do Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece atendimento telefônico gratuito 24h em todo o país pelo número 188. Aliás, em um trocadilho oportuno, os voluntários chamam o CVV por sua pergunta habitual: Como Vai Você?
"A cada setembro, vejo cada vez mais gente aberta ao tema, instituições abraçando a campanha e fomentando o debate. Quando vejo que, hoje, jornalistas buscam dar visibilidade ao assunto, clínicas distribuindo os informativos e os bottons amarelos da campanha, quando olho para o convite que recebi da Câmara Municipal para falar em uma audiência pública sobre os caminhos que a cidade pode trilhar para lidar com este tema, vejo como seria inimaginável algo assim há 3, 5 ou 10 anos. Tenho certeza de que é só o começo, mas também estou certo de que já avançamos muito", conta Aceti, mencionando os broches com o sinal gráfico de ponto e vírgula , ao fundo amarelo, que significa a continuidade após breve pausa na escrita da própria história. Em outra leitura, o símbolo pode também representar um sorriso amarelo, quase ausente, se girarmos de lado a pontuação, que parecerá com dois olhos, um deles piscando. Para esta interpretação, o lema é: melhor um sorriso amarelo do que não sorrir.
O contexto da pandemia de Covid-19 vem sendo apontado por diversos países e organizações científicas como um alerta para um aumento ainda maior nas ocorrências de suicídio e automutilação, devido ao agravo de riscos psicossociais, medo do contágio, ansiedade, isolamento social, luto e stress das tensões relativas à infecção. "Temos todos que olhar e ouvir as pessoas com mais amor e atenção", finaliza a psicoterapeuta Roberta Massot.
Os atendimentos de primeira vez não necessitam de agendamento prévio e acontecem das 8h às 17h. O CAPS III do Centro e o CAPS AD III de Alcântara funcionam 24h para acolhimento dos usuários. “Essas unidades são destinadas ao acompanhamento de pessoas com transtornos mentais graves. Após a avaliação da primeira vez, a equipe multiprofissional define um projeto terapêutico que dirá se o usuário irá frequentar o serviço diariamente ou não. Os CAPS destinados aos usuários de álcool e outras drogas funcionam da mesma forma, porém atendem aqueles que têm desejo de tratamento”, informa o coordenador municipal de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, Edmilson Pereira.
ENDEREÇOS DOS EQUIPAMENTOS
CAPS Paulo Marcos Costa
Rua Ladislau de Andrade 44, Mutondo
Telefones: 3856-1390 e 3856-2472
CAPS Francisco dos Santos Siqueira - 24h
Rua General Antônio Rodrigues 250, Centro
Telefone: 2607-5960
CAPS AD
Rua Coronel Serrado 1.543, Zé Garoto
Telefone: 3705-1554
CAPS AD Dr. Daniel Gomes da Silva - 24h
Rua Augusto Franco 52, Vila Três
Telefone: 3606-9224
CAPSI Zé Garoto
Rua Vereador Clemente Souza e Silva 222, Zé Garoto
Telefone: 2605-1909
CAPSI Dr. Joaquim dos Reis Pereira
Rua Jovelino de Oliveira Viana 274, Alcântara
Telefone: 2725-7724
Clínica Gonçalense do Barro Vermelho
Ambulatório Ampliado Nise da Silveira
Rua Heitor Levi 34, Barro Vermelho
Telefone: 3858-2675
PAM Coelho
Ambulatório Ampliado em Saúde Mental
Rua Cândido Reis 89, Coelho
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