Fachada da boate Buda Beach Lounge que fica no Boulevard Canal, um dos pontos mais nobres da cidade Internet
A vítima que realizou a denúncia contou que saiu da cidade do Rio de Janeiro para passar o final de semana com a família em Cabo Frio.
Ainda segundo o relato do homem, a mulher estava muito suja: “Parecia vômito, mas não consegui identificar”.
Ele relembra que ao entrar novamente no local muitas pessoas estavam comentando sobre o ocorrido e acabou pedindo para que a festa fosse interrompida. “Nesse momento ouvi as ordens do Poubel mandando que me segurassem e me chamando de viadinho de merda”, e foi impedido por cerca de sete seguranças do deputado.
“Eu lembro dele dando muita ordem: segura esse viadinho de merda, quer tumultuar minha casa’. Fazia muitas palavras de injuria e homofobia, ele estava perto de mim. Ele e os seguranças. Me seguraram, tentaram me agredir, eu me agarrei em uma estrutura do lugar e me deram um ‘mata-leão”, contou.
O homem foi retirado pelos seguranças do estabelecimento. “Me jogaram na parte de trás da boate, na rua de trás, acredito que por não haver câmeras e evitar tumulto. Cerca de 15 minutos depois, o Diogo saiu com três seguranças e começou a conversar comigo. Falei que só queria tirar minha amiga de lá e queria ir para a delegacia. Ele sabia o que tinha acontecido e ficava me enrolando. Um flanelinha passou e disse que a minha amiga estava na frente da boate. Dei a volta e quando cheguei lá, ele estava com ela e a hostess”, relata.
Uma outra amiga da vítima também prestou depoimento com uma versão parecida do crime.
INVESTIGAÇÃO SOB SIGILO
O caso foi registrado na Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (DEAM) de Cabo Frio e a investigação ocorre sob sigilo. Conforme a reportagem do RJTV2, oito pessoas já prestaram depoimento até esta terça-feira (6). Novas testemunhas deverão ser ouvidas nos próximos dias.
VÍTIMA ESTÁ EM DEPRESSÃO
Após todo o trauma vivido, a mulher está em depressão e vive trancada em casa. Segundo relato de amigos, ela e as testemunhas tiveram que excluir as redes sociais e tem vivido com medo. Inclusive, realizaram uma denúncia na Comissão de Defesa da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A vítima, que é uma mulher de 34 anos casada e tem uma filha, afirma que ela e a família estão fazendo acompanhamento psicológico e psiquiátrico.
“Está sendo muito difícil para mim e para minha família porque além de ter acontecido tudo o que aconteceu, o dono do estabelecimento está me culpando, divulgando foto minha no dia para justificar, como se eu tivesse bêbada, como se eu tivesse dando em cima dele, que nem é o acusado. Além de todo o ocorrido, o modo como os donos do estabelecimento estão lidando com a situação, tem agravado mais ainda as consequências”, conta.
Ela garante que os donos do estabelecimento estão se isentando da responsabilidade pelo o que acontece no local e dos frequentadores.
“Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer lá dentro. Eu achei que fossem se responsabilizar pela segurança de quem estava lá. Não foi isso que aconteceu, estão se isentando de responsabilidade. Os dois donos, um capitão da polícia e um deputado, eles têm conhecimento da lei. E está sendo totalmente o contrário que está acontecendo”, diz.
Além de resolver o caso, a vítima deseja entender realmente o que aconteceu.
“O que eu quero é fechar o caso, entender o que aconteceu, porque a maior parte eu não me lembro, pois estava inconsciente. Da casa eu já sei que não vou ter ajuda porque eles já mostraram que não estão a disposição para ajudar a entender tudo o que aconteceu, estão fazendo justamente o contrário: o tempo inteiro me culpabilizando por isso, como se fosse drama meu”, lamenta.
LOCAL CONTINUA FUNCIONANDO
O Buda Beach Lounge continua funcionando normalmente em Cabo Frio. Segundo a advogada do caso, a investigação não teve avanço e, até então, o deputado Filipe Poubel não prestou depoimento. Ele disse que não foi notificado.
“É mais do que necessário o comparecimento de todos para auxiliar nessa investigação. Mas o cenário que aparece é outro, proprietários não aparecem em sede policial, permanecem em silêncio e quando se apresentam colocam como se a mulher fosse culpada. Não juntam as câmeras de segurança, o sofá onde foi o delito não é apresentado. E o pior: [o local] continua funcionando como se nada tivesse acontecido”, conta.
Diversos agentes da Polícia Civil estiveram no local no início da tarde desta quarta-feira (7). A divulgação de eventos como happy hours com cantores de pagode, continua sendo feita nas redes sociais da boate.
FUNCIONÁRIOS NEGAM CRIME
Conforme o depoimento dos funcionários acusados pela vítima, eles não praticaram o crime. Um deles disse que abordou a mulher, foi correspondido e ficou com ela próximo ao balcão por um tempo.
O homem negou ter tido relações sexuais com a vítima e contou à polícia que foi ameaçado de morte por traficantes da comunidade onde mora, se tivesse “culpa no cartório”.
Já o outro funcionário garante que não esteve onde aconteceu o caso, no segundo andar do estabelecimento, não sabe quem esteve no local e não conhece a vítima.
Capitão Diogo, que ainda é lotado no 22º BPM, na Maré, em processo de demissão a pedido, disse que a mulher teria insistido em falar com ele e se insinuou, tentando beijá-lo. Ele afirmou ter ido para um dos camarotes, para evitar as investidas, e depois não a viu mais. Cerca de meia hora depois, ele viu “um tumulto”.
Através de um vídeo (veja na íntegra no final da matéria), o deputado Filipe Poubel disse que no dia do ocorrido, a boate realizava uma festa particular, sem bilheteria, e que ele estava lá apenas para cuidar da parte administrativa. Ele afirmou que não foi notificado oficialmente para prestar depoimento, mas se comprometeu a falar de maneira voluntária. “Não sou homofóbico. Inclusive, tenho funcionários no meu gabinete que são homossexuais”, declarou.
DEPUTADO E PM POSTAM FOTO COM BRINDE E SUPOSTA VÍTIMA
Em uma das imagens, os sócios fazem um brinde. Na outra, que teria sido capturada no dia do suposto estupro, o rosto de uma mulher, que é a suposta vítima, foi coberto. Na publicação, Diogo escreveu: “Só aguardando as verdades dos fatos! Toda a verdade! Quem não deve não teme!”.
A advogada da vítima considera a atitude desrespeitosa.
“O que se mostra é que infelizmente para eles a dor do outro não importa, são pessoas completamente desrespeitosas. Fazer uma festa e brindar após uma situação tão complexa é você estigmatizar cada vez mais a mulher, a vítima de crime sexual e também a homofobia que está muito presente no nosso dia a dia. O que a gente espera é que realmente seja apurado e que o acusado responda, que ele seja responsável pelos atos dele, mas a forma como eles se comportam, só demonstra o verdadeiro deboche em relação a tudo o que está acontecendo e cada vez mais reforça esse posicionamento retrógado deles, infelizmente”.
Através do instagram, o Capitão Diogo Souza hostilizou o contato de jornalistas que pediram um posicionamento. A reportagem do O Dia tentou contato com os dois proprietários. A assessoria do Deputado Felipe Poubel emitiu uma nota e um vídeo.
“O deputado Filippe Poubel não é acusado e na condição de sócio do empreendimento está contribuindo com as investigações. Sempre repudiou qualquer ato de violência contra mulheres, e demonstrou solidariedade às vítimas”.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.