Desde a reabertura do comércio de rua, o Centro de Campos tem visto grande movimento - Jean Barreto
Desde a reabertura do comércio de rua, o Centro de Campos tem visto grande movimentoJean Barreto
Por Leonardo Maia
Campos - Campos caminha para uma reversão no processo de reabertura da economia. Depois de várias semanas de relaxamentos sucessivos que culminaram, há cerca de 10 dias, na liberação do funcionamento de bares, restaurantes e academias, o número de casos de coronavírus voltou a crescer acentuadamente e a lotação das UTIs aumentou. Começa a circular nos corredores da prefeitura a inevitabilidade da adoção da fase laranja, o lockdown parcial na escala de risco da pandemia de covid-19 estabelecida pelas autoridades de saúde municipal.
"Eu não sei como eles (prefeitura) vão fazer, mas vamos ter que voltar para o nível laranja", diz à reportagem um profissional da área médica que atua diretamente no enfrentamendo ao coronavírus e pede para não ser identificado.
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Campos está no estágio amarelo, nível intermediário do plano de retomada da atividade econômica da prefeitura, desde o início de julho. Mas ao longo desse período houve liberações graduais de setores importantes, como comércio de rua, igrejas, parques, shoppings. Com os bares, restaurantes, academias e clubes esportivos de volta às atividades, o único segmento importante que ainda se mantém de portas fechadas são as escolas, faculdades e universidades.
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Em nota, a prefeitura confirma o crescimento da curva de casos e não descarta a possibilidade de endurecimento das restrições. E garante que "as predições feitas pela equipe técnica levam a crer que não há tendência ao colapso do sistema de saúde, mesmo com esse aumento. (...) Está sendo feito monitoramento diário com consolidação semanal dos indicadores. Se houver piora nos indicadores do modelo, há volta para fases de maior rigor quanto ao isolamento, como já informado desde o início da flexibilização".
 
Desde a reabertura do comércio de rua, o Centro de Campos tem visto grande movimento - Jean Barreto
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Caso se confirme, o retrocesso no processo de reabertura e a reinstituição de medidas mais rigorosas de isolamento se deverá, principalmente, pela irresponsabilidade e descaso de grande parte da população com a gravidade da covid-19.
No primeiro fim de semana de liberação dos bares e restaurantes, as calçadas da Avenida Pelinca, ponto nobre da vida social campista, ficaram cheias de pessoas circulando como se não atravessássemos uma pandemia que praticamente paralisou o mundo. Muitas delas, a maioria jovens e adolescentes, circulavam sem máscaras, desrespeitando o decreto municipal que torna o item obrigatório.
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"Lamentamos profundamente o fato de que parte da população não respeita o isolamento, a necessidade de distanciamento social ou o uso de máscaras, que são obrigatórios e extremamente necessários para enfrentar o novo coronavírus", aponta Felipe Quintanilha, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico. "A Prefeitura de Campos está buscando alternativas, ainda que tenhamos extrema dificuldade. Não há fiscalização que dê conta se a população não colabora".
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No Dia dos Pais, os restaurantes encheram. As exigências para seu funcionamento foram cumpridas: controle de acesso, diminuição do número de mesas, garçons com luvas, máscaras e face shield, cardápio com QR code para que o cliente pudesse fazer a leitura dos itens no próprio celular. No entanto, do lado de fora, filas e filas de gente aglomerada que ansiava há meses pela oportunidade de se reunir.
"Se as pessoas respeitassem as regras e levassem a sério a doença, poderíamos de fato ter reaberto algumas coisas", avalia um médico ouvido pela reportagem, que confirmou que mesmo com a entrada na fase amarela a ocupação dos leitos de hospitais caía gradativamente, até a semana passada, quando aumentou a internação de pacientes com sintomas da covid-19.
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Fiscal da Superintendência de Posturas observa loja que desrespeitou o decreto do lockdown, em Campos - Divulgação prefeitura de Campos
Os hospitais particulares da cidade confirmaram nos últimos dias uma demanda maior pelos leitos de UTI, mas ainda com alguma margem de segurança. No Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC), centro de referência montado pela prefeitura ainda em março, quando a cidade notificava pouquíssimos casos, a ocupação dos leitos de tratamento intensivo superou os 70%, conforme apurou a reportagem. Há muitos leitos clínicos disponíveis, porém.
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A prefeitura informa que a ocupação de leitos de UTI na rede pública no município é de 64%, e de 44% dos leitos clínicos.
"Mas não dá para reabrir bares e academias. A frequência de higienização dos equipamentos de uma academia é impossível de ser realizada. E você teria que trocar a máscara de 20 em 20 minutos, por causa do suor", exemplifica um outro profissional da linha de frente, que se diz cansado do embate diário com o coronavírus há pelo menos quatro meses.
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Fiscais da Secretaria de Segurança Pública de Campos fecham estabelecimento aberto irregularmente durante o lockdown - Divulgação prefeitura de Campos
A pressão de empresários e comerciantes pela flexibilização do isolamento também foi fator para o que pode ser apontado por alguns como uma precipitação por parte do poder público. No entanto, o prefeito Rafael Diniz alertou, ao anunciar cada etapa da reabertura, para o risco de ser forçado a apertar as proibições novamente caso a população não contribuisse com o esforço de buscar um equilíbrio.
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"As decisões que venho tomando na pandemia são neste sentido: preservar a vida e a saúde das pessoas", reafirma Diniz. "Todas as ações tomadas foram baseadas em critérios técnicos das autoridades em Saúde. Embora houvesse pedidos para que a reativação das atividades econômicas acontecesse bem antes, isso só aconteceu quando os dados apontavam que era seguro".
"De toda forma, a cada flexibilização, alertei que, caso fosse detectada a necessidade de voltar para fases anteriores, assim seria feito".