A Cana Brava avalia que não deverá atingir a meta prevista para este ano, por causa da estiagem Foto Divulgação

Campos - De acordo com números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho na última semana de setembro, a geração de empregos no Norte Fluminense sofreu desaceleração de 26,6%, em agosto; uma das causas apontadas foi o início do fim da safra da cana-de-açúcar.
Em postagem no portal Coneflu (Conjuntura Econômica Fluminense), o economista e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Alcimar das Chagas, avalia (conforme O Dia publicou dia 30 de setembro), que o setor agropecuário teve papel importante na desaceleração, devido à aproximação do fim da safra de cana-de-açúcar.
Na opinião do gerente industrial da Nova Usina Cana Brava (situada entre Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana), Alex Rossi, a estiagem registrada neste ano na região efetivamente afetou os produtores rurais, com reflexos nas usinas; ele concorda com o que aponta o Caged e traça um paralelo entre o quadro atual e quanto à expectativa da próxima moagem.
O Dia - Qual a sua avaliação sobre informação de que o início do fim da safra influenciou na queda da geração de empregos em agosto?
Alex Rossi - A estiagem registrada neste ano no Norte Fluminense efetivamente afetou os produtores rurais, com reflexos nas usinas e na empregabilidade. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o acumulado de chuvas em Campos entre os meses de janeiro e julho de 2022 foi de 343 milímetros – 165,7 milímetros a menos que a média histórica e inferior à última grande seca da região (2014), quando o índice pluviométrico no período foi de 445 milímetros. Houve quebra de safra pela falta de chuva. Perdem todos quando isso acontece, infelizmente.
OD - E em relação à safra, comparada à anterior?
AR - É praticamente certo que, por causa da estiagem, a usina não atingirá a meta prevista para este ano, de moer 1,1 milhão de toneladas. Devemos ficar em 600 milhões de toneladas, 35% menos que a meta que havíamos estabelecido para este ano.
OD - A partir dessa comparação, qual é a expectativa quanto à próxima safra?
AR - A expectativa é de ter uma moagem pelo menos linear com a desse ano. Vamos ter que minimizar o efeito da seca deste ano, que castigou muito o solo. Para se ter uma ideia, secou a raiz da cana plantada em maio, junho e julho, zero aproveitamento. A tendência para o ano que vem seria de queda, mas esperamos uma primavera e verão bem chuvosos. Isso ajudaria a recuperar a soca, permitindo uma moagem pelo menos nos mesmos volumes da deste ano. Embora a Nova Canabrava venha trabalhando na adoção de tecnologias de manejo sustentáveis, como a Meiosi e a irrigação de canaviais com a vinhaça (subproduto derivado da fabricação do álcool que é rico em nutrientes), o fato é que, sem chuva, não tem milagre.
OD - Até que ponto a cana-de-açúcar ainda tem influência forte na economia da região?
AR - O setor sucroalcooleiro continua tendo um forte impacto na economia da região, que é carente de empregos e de indústrias. Somente a Usina Nova Canabrava gera cerca de dois mil empregos diretos e quatro mil indiretos durante a safra, além de beneficiar cerca de 1.500 fornecedores de cana – em sua maioria, pequenos proprietários de terra dos municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana.