Viaduto Rei Alberto, na Avenida NiemeyerReprodução Internet

Nesse recesso de fim de ano, minhas batidas de pestana ao cair da tarde eram interrompidas pela luz clemente do celular. Pelo menos pra mim, esse é o sinal que alguém envia mensagem em alguma das redes sociais.
O leitor sabe da minha disponibilidade (nem sempre organizada, é verdade) de responder as dúvidas sobre história, em especial do Rio de Janeiro. Aquilo que não sei, corro atrás, sem grandes mistérios.
Pois bem, contabilizei: foram quase 100 pessoas me marcando em um vídeo no Tik Tok sobre o viaduto Rei Alberto, na Avenida Niemeyer, via que liga São Conrado ao Leblon (e vice-versa). O desejo era saber como tinha surgido esse cantinho tão pitoresco, que, apesar de não ser visto com facilidade, é alcançável sem tanto esforço. 
Respondo "aqui e agora", como diria Gil Gomes.
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Quando Alberto I pisou em terras cariocas, ele já era uma lenda militar. Chamado por muitos de Rei-Herói, o monarca belga encarou a poderosa tropa alemã na Primeira Guerra Mundial. Enquanto vários não ficariam nem para posar para foto, Alberto liderou o país, foi aos campos de batalha e conseguiu vitórias importantes. Esse homem seria recebido com todas as glórias por um Rio de Janeiro em festa. 1920 era o ano estampado no calendário.
Sabe aquela embelezada que damos para a vinda de uma pessoa especial? O Rio de Janeiro se enfeitou, prédios foram reformados e ruas foram pintadas. “ Era para belga ver!”, atualizamos a expressão. Precisávamos mostrar que o Brasil era um país moderno, atento às mudanças, capacitado ao novo. O comércio, aproveitando o buxixo, produziu até souvernirs com a estampa de Alberto. Cinemas passaram filmes alusivos à Bélgica. A construção do viaduto que recebe o nome do rapaz nasceu nesse contexto.
Após uma chegada triunfal, com direito a público chorando nas vias principais da cidade, Alberto I foi ao Corcovado (sem o Cristo), Pão de Açúcar (já com bondinho), em Petrópolis e até viu jogo de futebol nas Laranjeiras. Mas ele se esbaldou mesmo foi em um cantinho que poucos cariocas tinham costume de ir: a praia de Copacabana. Acordava super cedo e se mandava para a água. Com porte atlético, nadava de um canto para o outro, atraindo uma plateia que foi dos suspiros à tentativa de imitação. Aplausos para as peripécias aquáticas do visitante eram ouvidos.
Os 14 dias que Alberto I ficou no Rio de Janeiro mexeu tanto com os cariocas que, além de contribuir para o holofote ser virado para Copacabana, um nome começou a ganhar força nos berçários. Se hoje você conhece algum Beto, Betinho e Betão, olhe para aquele setembro de 1920.
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Nesses mais de 100 anos, o viaduto Rei Alberto testemunhou corrida de carros pela avenida Niemeyer, com direito a muitos acidentes, morte de jogador do Fluminense e da Seleção Brasileira, o Ari Ercílio, que estava pescando e foi levado pelo mar, e até uma ciclovia com nome de Tim Maia sofrer as consequências de uma...ressaca.
Questão resolvida, vamos pra próxima.