No centro da hoje praça XV havia um Pelourinho. O povo chamava de Polé, daí vem a denominação Terreiro de Polé.
Em 1647 os castigos eram variados para àquela pessoa escravizada que, por alguma ventura, saísse da linha defendida pelo senhor ou pelo feitor. Não havia leis. Não havia direitos. O outro era propriedade. Quem trabalhasse menos do que o esperado ou cobrasse melhores condições, por exemplo, sabia das consequências.
As demonstrações públicas de agressão entraram para a história como verdadeiros shows de horrores, com seres humanos sendo amordaçados, tomando intensas palmatórias e, costumeiramente, chicoteados. Há quem defendesse um número limite de chicotadas, pensando na “sobrevivência da mercadoria”. Há quem ignorasse até o investimento realizado. O absurdo tinha a intenção de educar, alertar e humilhar.
Os corpos negros marcados com ferro em brasa nos remetem ao que fazem hoje em dia com os bois. Marcas comuns da época, cicatrizes são vistas até nas raras fotografias. Pimentas, sal, vinagre e limão eram aplicados por torturadores nas feridas. Era o jeito de não inflamar machucando ainda mais. Relatos de sadismo vêm aos montes, de todos os cantos do Brasil. Na Bahia, a família Garcia D´Ávila contabiliza algumas acusações.
Não existe ao certo o número de pessoas escravizadas que pisaram no Rio de Janeiro, cidade que ostentou o terrível título de maior porto de entrada de nativos africanos. Nenhuma fonte séria trabalha fora da casa dos milhões de escravizados. Para muitos historiadores, o tráfico negreiro para o Brasil começou nas caravelas de Martin Afonso de Souza, em 1538. Depois foi crescendo, crescendo e se intensificou ainda mais com a chegada da Família Real, em 1808. A região do Congo, na África, foi uma das mais ocupadas por traficantes de pessoas, colaborando para a terrível engenharia econômica que ajudou imensamente no sustento do Brasil Colônia e Brasil Império.
Em um quiosque na praia da Barra da Tijuca, um rapaz negro congolês foi cobrar pelo trabalho. Já tinha dividido com a mãe a angustia de receber menos que os colegas brasileiros. Foi espancado por cinco homens ainda não identificados. Seria para educar, alertar e humilhar? Morreu. Moïse Mugenyi, que também era chamado de “angolano” pelos clientes, tinha 24 anos. Veio para o Rio fugindo de uma guerra que aprisiona seu povo. Veio para entender que há inúmeros Pelourinhos do século XXI. Infelizmente.
Que haja investigação e punição urgente dos culpados.
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