Quando pré-adolescente, estacionava meu rosto na sacada da janela do apartamento dos meus avós e tios, no centro de Petrópolis, e ficava observando o mundo passar.
Muitas e muitas vezes, a partir desse mesmo ângulo, fomos testemunhas do rio da rua Imperador transbordar. Causava estragos. A loja de meu avô (e de alguns tios) foi vítima algumas vezes das inundações. Buscando relatos, Petrópolis sempre conviveu com as intensas chuvas.
Dia 15 de fevereiro de 2022 é outra história. É algo que nunca tinha visto. É muito fora do padrão. E, desde já, precisa ser estudado com profundidade. Tratar como excepcionalidade é esquecer o caos climático que atravessamos e ampliar a chance para que fenômenos como esse possam ser repetidos.
Na velocidade do Zap, fui recebendo imagens e mais imagens da tragédia. Parece que estamos no tsunami da Indonésia. Carros virados. Lojas sendo destruídas. Corpos na rua. O cinema Petrópolis, que tantas vezes fui garoto, sofreu as consequências. Vendo um registro aéreo, a impressão é que o centenário bar D´Angelo ficou totalmente submerso.
A praça da Águia, em frente à Câmara Municipal e ao Museu Imperial, até essa maldita pandemia surgir, era rodeada aos sábados por barraquinhas de quitutes e cervejas artesanais. A Região Serrana é um belo trajeto para quem gosta de cevada, diga-se de passagem. Pois bem, só sobrou a estátua da águia. As fotos trancam a garganta.
Fiz um vídeo mostrando o antes e depois de parte do centro histórico, começando pelo prédio onde atravessei parte da minha adolescência.
O centro histórico de Petrópolis é a área famosa e rica. A cidade é muito além disso. Diversas regiões foram brutalmente atingidas e, sem holofotes, costumeiramente ficam relegadas ao segundo plano.
Todos os anos, e os petropolitanos sabem disso, esperamos as consequências das chuvas. Tem piorado. O debate, insisto, não atravessa só reconstrução. É urgente, baseando-se na ciência, a discussão sobre um futuro que dá pinta de ser duro climaticamente. Ou iremos nos preparar seriamente ou mais uma vez iremos contar os mortos.
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