Charlie Faria, Pedro Galdino e Leandro Barbosa prestigiam a estreia de "Alemão 2", filme protagonizado por Digão Ribeiro (de óculos escuros na cabeça)Reprodução Redes Sociais

Possivelmente eu seja tão ligado à rua por causa da sala de aula.
Sempre encontrei paralelos nas cicatrizes, no jogo de cintura, nos olhares e nas escutas. Raramente saio de fone de ouvido. Os barulhos dos carros, das conversas, da porta rangendo, do comércio fechando permitem que eu crie ou mude. O barulhos das cadeiras arrastando, dos sussurros, das risadinhas e, mais recentemente, dos celulares me dão sinais para que eu altere estratégias, performances e até conteúdos.
A rua fala. Os estudantes falam. Ambos não podem ser, em hipótese alguma, ignorados. “Ver com os olhos livres”, escreveu Oswald de Andrade.
No segundo ano do Ensino Médio, Digão Ribeiro defendia que o futuro dele seria no palco. “Arte dramática”, chegou a dizer em uma aula minha sobre construção de personagens. Alto e forte, para um desatento não parecia ter jeito. O riso largo e o jeito bonachão ainda contribuíam para o erro crasso de preconceito. O xadrez dos estereótipos sempre dá um xeque-mate quando menos se espera. A rua ensina isso. A sala de aula também. “Você vai ver, professor. Eu vou ser ator”, me disse em uma pelada que marcou minha despedida do colégio público.
Em um desses festivais do Rio, séculos depois do último abraço, vi “Praça Paris”, onde Digão já despontava como um grande ator. Enquanto o filme se desenvolvia, minha memória cambaleante trazia flashes da nossa relação professor-aluno. O abre-aspas categórico que escrevi no parágrafo anterior só fui recordar quando cheguei em casa e busquei meus cadernos inseparáveis de anotações. Digão estava no cinema, mas antes já tinha nadado contra a maré dos holofotes em grupos de teatro, inclusive sendo diretor.
Acaba de ser lançado “Alemão 2”, que conta a história de policiais civis que precisam prender um traficante poderoso no Complexo do Alemão. Tudo isso se constrói depois do esfacelamento das UPPs. Digão é o traficante. O protagonista. O protagonista em um filme repleto de atores famosos. O protagonista em uma produção de alguns milhões de reais. O protagonista de um papel complicado, dramático e intrínseco.
Cansei de subir UPPs. Cansei de ouvir moradores. Cansei de escrever, dizer e transmitir que o buraco era mais fundo que a maravilha que estavam pintando. Na época de auge da política, apresentava o “Sala Debate”, programa do Canal Futura destinado à reflexão de temas importantes. A rua não estava sendo ouvida. Os moradores, ou alunos, como queira, não estavam sendo ouvidos.
A tragédia, como sabemos e o filme ressalta, não demorou a acontecer.
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Quarteto fantástico
Os quatro da foto são meus ex-alunos. Além de Digão, Leandro Barbosa, Charlie Faria e Pedro Galdino também apontavam um futuro: o audiovisual.
Não deu outra. Viraram craques.
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Convento do Carmo
Hoje (24), após 4 anos de obras, o Convento do Carmo, no centro do Rio de Janeiro, será apresentado para autoridades.
É estimado que ainda no primeiro semestre esteja aberto ao público. Terá bistrô, biblioteca, salas de aula e até galeria de arte.
O investimento na obra foi da Procuradoria Geral do Estado. A turma da PGE, sob a batuta de Bruno Dubeux, está em uma felicidade sem igual.
Explico no vídeo a importância histórica do Convento:
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Orquestra Maré do Amanhã de graça
Falou em Orquestra, falou com essa colunista.
Olha que boa notícia: a Orquestra Maré do Amanhã irá se apresentar gratuitamente na Sala Baden Powell, em Copacabana, no sábado (26), às 18h, e no domingo (27), às 11h.
Para retirar o ingresso ( sujeito à lotação), clique aqui.

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Rua e gente: projeto do Circo Crescer e Viver
Esse colunista ficou impressionado com o projeto de mapeamento histórico desenvolvido pelo Circo Crescer e Viver, sob direção do inquieto Junior Perim.
É possível caminhar pelas ruas entendendo suas propriedades, culturas e pessoas. Tudo com olhar único.
Fica aqui a torcida para que ganhe logo a...rua.

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Até semana que vem. Voltei com pique depois dessas férias.