Movimentos culturais de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, se mobilizam para defender a importância do bairro e o colunista contribui para o debate
Antigo Palácio Real e Fazenda Imperial de Santa Cruz - Halley Pacheco de Oliveira
Antigo Palácio Real e Fazenda Imperial de Santa Cruz Halley Pacheco de Oliveira
Vamos começar pelo começo, diriam os menos nobres: duas baías disputaram a hegemonia financeira por séculos. De um lado a Baía de Sepetiba e do outro a Baía de Guanabara. Como costuma acontecer, quem vencesse a estratégica quebra de braço levava o centro econômico, a aceleração do desenvolvimento e por aí segue o baile.
Santa Cruz, na zona oeste do Rio, é uma das joias da costura de Sepetiba. Era um espaço privilegiado como meio de campo para quem ia atrás de pedras preciosas, para defesa do território português dos desejos, em especial, franceses, de produções agrícolas...
Viver do "se..." é complicado, mas não custa imaginar que "se Sepetiba vencesse a batalha", a realidade seria bem distinta e era capaz de Santa Cruz ser o centro gestor do Brasil Colônia e Brasil Império. Volto a defender que não devemos conjecturar a partir do imaginário "se...", mas que a reflexão vale, ah, isso vale.
Ao pisar no Brasil, fugindo das tropas de Napoleão, a família real morou no Paço Imperial, na hoje Praça XV e, em seguida, na Quinta da Boa Vista, em São Cristovão. Mas não só. Santa Cruz teve peso importantíssimo para Dom João VI e para os sucessores, Dom Pedro I e Dom Pedro II. Na Fazenda Imperial de Santa Cruz, os descansos (entre outros momentos menos alegres) eram curtidos.
Conheça a história de quando Dom João VI foi mordido por um carrapato na fazenda e teve que, a contra gosto, tomar banho de mar:
Nesse mesmo lugar, Dom Pedro I e Leopoldina passaram a lua de mel. Na Fazenda, tempos depois, tanto Dom Pedro I como Dom Pedro II perderam herdeiros.
Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, e mulher quem assinou a Lei Áurea em 1888, tinha Palacete em Santa Cruz. Passava temporadas.
Quando a realeza estava naquela região, o poder administrativo do país ou até mesmo de Portugal e Algarves saia das assinaturas que lá foram produzidas. Qualquer livro sério de história notifica Santa Cruz como peça importante no tabuleiro colonial e imperial.
"O que falta?", o leitor atento deve estar se perguntando. Falta o que muitos, inclusive este que escreve, imaginam que irá acontecer: a assinatura do prefeito Eduardo Paes, valorizando a área e simbolicamente lançando os holofotes para um cantinho da nossa cidade que merece mais atenção e cuidado.
Logo mais, em setembro de 2022, comemoramos os 200 anos da Independência do Brasil. Nada melhor que dar esse presente para uma terra que viu de perto as lutas para nos mantermos distantes do poderio colonizador português.
Santa Cruz é imperial, oras.
*
Passeio guiado por Santa Cruz
Há alguns meses, tive a oportunidade de fazer um passeio guiado por ruelas de Santa Cruz. A guia foi Andressa de Aguiar, da ótima página "Descubra Santa Cruz".
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.