Luarlindo Ernesto, repórter do Jornal O DIA.Daniel Castelo Branco

Não adianta ficar lembrando dos velhos tempos. Afinal, eles não voltam. Mas, o certo é que os furtos aumentaram com o passar do tempo. E, acredito, não foi proporcional à explosão populacional. O que fazer
para nos livrarmos dos amigos do alheio? Alarmes, arame farpado, cães ferozes, cerca elétrica, cacos de vidros, vigias, câmeras de vigilância ? Ou contratar os tais seguranças - antigamente eram conhecidos como Leões de Chácara, lembram ? Voltamos às cavernas, amigas e amigos. Eu já voltei há muito tempo.
Desde o dia 17 de março de 2020. Porque? Ora bolas, estão furtando tudo o que encontram pela frente. Até as grades de casas e prédios. Dá vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo. Estátuas, tampões de bueiros, fios e cabos elétricos, hidrômetros, postes, lâmpadas, e o que aparece na frente dos larápios. Furtos e roubos de celulares são mais recentes. Bancos de jardins, também. A famigerada gatonet é um furto também. Mas os de botijões de gás são quase antigos.
Torneiras de lavatórios, toalhas de motéis, antecederam aos de pneus de carros. Cordões de ouro, ou prata, eram a alegria dos ladrões apelidados de ventania ou punguistas. Eles passavam, viam os objetos, puxavam a joia e corriam. Acontecia muito nos bondes, geralmente vítimas mulheres distraídas. Ah, os homens ficavam sem os relógios de algibeira ou prendedores de gravatas, de ouro. Eu cheguei a perder para ladrões duas canetas Parker 51, o máximo naquela época. E, nos dois casos, estava no bonde, indo para o colégio Marista, na Tijuca.
A filha mais velha, Cláudia, se engalfinhou com um ladrãozinho em um ônibus. Ela estava em um ônibus, indo para o colégio, o Pedro II, na Avenida Marechal Floriano. Ih, isso tem mais de 30 anos. O rapazote queria o relógio de pulso dela, baratinho, mas ela resolveu que não iria ser furtada e se embolou com o delinquente. E ganhou a briga! Fiquei apavorado com a atitude dela. "Você poderia sair machucada, ou morta", resmunguei com ela. "Pai, não admito isso. O relógio é meu, e pronto", resmungou de volta.
Até minha mulher, Josefa, ficou sem o cordão e a medalha de ouro. Ela estava entrando em um ônibus, no Centro do Rio. Pisou no primeiro degrau e, um rapazola arrancou o adorno e fugiu.
Tempos modernos, furtos e roubos acompanhando a vida da gente. Somos furtados por todos os lados. Outra filha, a mais nova, Pitia, entregou o celular ao ladrão que, sem mostrar arma, estendeu a mão e apontou para o celular dela. Isso aconteceu a bordo de um ônibus cheio de passageiros, a caminho do Recreio dos Bandeirantes, em uma manhã calorenta. Tem uns quatro meses. Ela entregou o aparelho, boquiaberta, nervosa, diante de tantas testemunhas que fingiam não ver o que acontecia naquele momento. Ah, depois, o motorista disse que o cara não pagou a passagem. Tive que rir, sem querer ferir a dignidade dela.
Furto, quase hilário, aconteceu com a outra filha, Carla. Ela e o marido, durante um passeio, aproveitaram e fizeram compras, para o mês, no mercado em Rio Bonito. Estacionaram o carro em uma pracinha e resolveram caminhar pela cidade. Quando voltaram, encontraram o carro arrombado. O ladrão escolheu levar todas as sacolas. Já se passaram uns 20 anos.
Vamos ver se vocês conhecem alguém que nunca foi vítima de ladrões. Amigos, parentes, vizinhos, conhecidos. Procurem para tentar alguém tão sortudo que nunca foi vítima. Até o Fred, amigo de mais de 40 anos, perdeu o celular quando, em uma tarde dessas, bebia uma inocente cervejinha no bar-birosca do Refogado, aqui pertinho. Dois jovens, armados, chegaram, renderam os fregueses e fizeram a limpa. Fred segurou firme a garrafa. O telefone, não. Vão os celulares, ficam as cervejas...