Já estamos no Ano do Tigre, 4720, segundo o calendário chinês. Enquanto os asiáticos comemoram com festas, comilanças, e desfiles de fantasias, por aqui, amigas e amigos, o negócio anda meio esquisito. Melhor apertar o botão de atenção, pisar no freio e aguardar o sinal abrir.
Já vi alguns vizinhos com galhos de arruda nas orelhas. O Paulo César, autônomo, foi um deles. O de bombordo, que não é de fazer estripulias financeiras, chegou a comprar um pacote de velas. Cheguei a pensar que ele iria fazer um despacho na encruzilhada. Mas, não o fez.
O de boreste pendurou anúncio no muro, vendendo a casa. Quase esqueci do morador mais novo na área, bem em frente à caverna: vendeu um dos carros e ficou com o mais antigo. Então, vou recolhendo os pequenos movimentos dos moradores da área e, depois de juntar os detalhes, resolvi investir no feijão e arroz. Ah, desta vez, não detectei a corrida desenfreada para a compra de papel higiênico.
Lembram que aconteceu em março de 2020 ? Mas, os bares, e praias, ainda continuam cheios. Antes que eu esqueça: Manoel The Best, um velho amigo, acabou de informar que 4720, aqui no Brasil, é a milhar que corresponde ao cão, para quem tem mania de fazer apostas, o que é ilegal, é proibido. Contravenção dá cadeia.
Bem, após esse pequeno relatório, vamos à história de hoje, antes que os combustíveis tenham outro aumento de preço. Coloquei o baú de memórias na mesa, fui lá no fundo e iniciei a busca. Achei fotografias, em preto e branco, dos anos 1960. Caramba, que diferença. As roupas, os carros, os bondes, os anúncios nos jornais e revistas, as promoções oferecendo medicamentos para todos os males, os penteados femininos. As jovens usavam bombril para dar volume e altura nos cabelos ! O Fusca reinava nas páginas.
Propagandas de remédios eram comuns e alardeavam curas milagrosas. Mas, infelizmente, não encontrei o que procurava e que sempre achei espetacular: Dor? Guaraína. Não ataca o coração. Que pode ser da década de 1950. Alguém recorda? Como tenho cabelos lisos e finos, usava Glostora. Vi o anúncio na revista, comprei, usei e aprovei. Ajudava a manter fixo o topete, tipo Elvis Presley. Então, deixei de lado o Gumex, que era uma espécie de laquê.
Ih, estão tocando o sino da porteira. Um momentinho, amigas e amigos. É rapidinho, tipo vapt vupt. Viram? Já estou de volta. O vizinho Paulo César, com o galho de arruda na orelha esquerda, chamou e ofereceu um aparelho tipo split, de ar condicionado, seminovo. Vizinho está sem dinheiro e pediu R$ 300. Pô, expliquei que já paguei o IPTU, o IPVA, o GRT e ainda estou brigando com a nova companhia de águas que, pasmem, mandou a conta de mais de R$ 800. Eu nunca bebi tanta água ! Nem meus amigos vão acreditar no meu consumo do precioso líquido.
Só em pensar nas contas, todas com aumento, perdi o fio da meada. Confesso que estou neurastênico com tantas contas a pagar. E, depois de velho, consegui levar uma vida mais regrada, sem desperdício. Acho que perdi mesmo o fio da meada... Ah, os anúncios dos velhos e bons tempos. Melhor deixá-los para outra ocasião. Vou preparar um chá de erva cidreira. Afinal, tenho a planta aqui, no quintal. Somente vou gastar um pouquinho da cara água e um tantinho do caríssimo gás. Tudo para não perder a calma.
Bem, antes do final: o vizinho que está tentando vender a casa, já me ofereceu uma máquina de costura, e uma pipoqueira, elétricas. Quero não. A energia elétrica tá muito cara. Desconfio que a vizinhança acredita que estou bem de vida. Todos querem me vender alguma coisa. Vou confeccionar um cartaz para deixar no portão: Aceito doações - inclusive de bebidas, não perecíveis.
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