Luarlindo Ernesto, repórter do Jornal O DIA.Daniel Castelo Branco

O cartão de visita chama atenção. "Ato ou desato uniões amorosas. Faço a pessoa amada voltar em poucos dias. Resolvo impotência e mal humor. Mostro como se livrar de dívidas". Pronto, a armadilha está lançada. E, de preferência, para turistas de outros estados. Nada de moradores da localidade.
Assim, Ostógeno inaugurou o serviço de macumba, como ele mesmo chama, o trabalho feito nas encruzilhadas ermas de Angra dos
Reis. É o "despacho" via WhatsApp, pelo celular. Se dá certo? Bem, não consegui contato com os clientes dele para confirmação.
Mas, o negócio vai bem, obrigado, segundo ele mesmo demonstra com o vestuário novo, mais esmerado, longe da calça de brim, surrada, e a mesma camiseta e os par de chinelos. Parece outro homem. Barba feita, cabelos alinhados, vestimenta apresentável. Parece um homem de negócios, de férias. Ah, não quer mais saber de biscate corriqueiro e, geralmente, mal remunerado.

O golpe é simples e, cada cliente paga pelo tamanho do problema que apresenta ao "pai (ou padrasto ?) de quase santo". Ostógeno sempre procura carros caros, estacionados em Angra dos Reis, com toda a pinta de que o dono é de outro estado. Deixa o cartão de visita, onde se apresenta como o cara que resolve todos os problemas. Os interessados entram em contato por celular e pronto. Ele resolve com os despachos que cada caso merece. Tem de todo valor. Depende do tamanho do problema.
Tudo acertado, recebe o dinheiro via Pix, ele monta o "despacho", faz o vídeo, envia pelo zap. Depois, recolhe todo o material e pode montar outro cenário para um outro cliente. Simples, né? O cara é um artista esperto. Ah, o cliente tem um monte de regras para cumprir após receber o vídeo: inúmeras rezas, velas, preces, algumas esmolas a pedintes. Tudo depende do tamanho do problema a ser resolvido. Muito organizado.

Mas, Angra ainda tem mais espertos atuando. Tô lembrando de mais um. O José (nome fictício) é um cara esforçado. Começou revendendo roupas, de porta em porta, a serem pagas em duas ou três vezes. Tudo dependendo do valor da compra. Mas, o José, uma ou duas vezes ao mês, viaja para adquirir novas peças, de fornecedores da Região Serrana.
A verdade, entretanto, é que, não deixa de ser golpe. Ele se dirige ao Rio, mais exatamente à Saara. Mas, anuncia que as mercadorias são da Rua Teresa, de Petrópolis. Então, tá explicado o preço mais alto. E, deu tudo certo. É conveniente que eu deixe claro um detalhe: em Angra, até os poucos camelôs têm preços mais elevados. Tudo na Bandeira Dois. Agora, imaginem os preços do José...E, ele atua já há algum tempo na área, lá na Japuíba.
Atualmente, alugou uma loja e deixou de ser mascate. O esquema, entretanto, é o mesmo. Difícil foi explicar aos fregueses que, com a tragédia que abalou meio mundo em Petrópolis, em fevereiro (233 mortos), ele continuou a ir buscar mercadorias novas. Mas, malandro é malandro: "Meu estoque é grande...Afinal, o freguês quer saber é do valor da prestação. Não importa o preço final. A parcela é baixa e cabe no bolso de cada um". E exemplifica: "Valor de R $400, faço em quatro parcelas de R$ 100. E, tudo resolvido". Só que na primeira parcela, o freguês já pagou o valor da compra...
E, assim, José enfrenta a onda de comércio fraco, tal qual Ostógeno. O negócio é vender felicidade. Todos felizes, andando na moda e cuidando para que o amor predileto ande nos eixos. Crise? Que crise? Covid? O que é isso? E, amigas e amigos, vocês ainda lembram que eu avisei, aqui neste cantinho, que tem gente falsificando ovos cozidos? Será que tem gente que não acredita? Ou já comeram o produto, com a metade da gema?