Por O Dia
É um feito histórico a aprovação não apenas de uma vacina, mas de várias, contra a Covid-19, uma doença nova, identificada há pouco mais de um ano. Foram cerca de 10 meses do início das pesquisas em laboratórios até a vacinação em massa em diversos países do mundo.

Para se ter uma ideia, a tuberculose necessitou de 45 anos da identificação do agente causador até a validação da vacina. No caso da coqueluche foram 42 anos para tanto. Para a pólio foram 47 anos. Para a meningite foi necessário quase um século. Algumas, como a malária, ainda esperam na fila. A origem da doença foi decifrada em 1880, mas até agora as vacinas seguem em teste em projetos-piloto. O vírus da dengue foi identificado há mais de 100 anos e seguimos vulneráveis a surtos eventuais.

O feito recorde das vacinas contra a Covid-19 exemplifica a importância da ciência, do investimento em pesquisa e tecnologia e da vontade de obter uma solução. Assim como do trabalho conjunto e da cooperação entre países. As vacinas são fruto da colaboração de diversos países e são feitas com insumos vindo de várias partes. Hoje, as vacinas ajudam a prevenir doenças que causaram muitos danos e mortes no passado, como a poliomelite, o sarampo, a rubéola, o tétano e a coqueluche. Atualmente, o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde tem 14 vacinas para bebês e crianças, 7 para adolescentes e 5 para adultos e idosos.

O início de vacinação contra a Covid-19 no Brasil, ainda que tardio, pouco planejado e feito de forma esparsa, é um alento. Por enquanto não há doses suficientes nem para os médicos que estão na frente de combate, nem para a população de maior risco. Mas é um começo. E abre uma perspectiva de interrupção da circulação descontrolada do vírus e da mortandade que já vitimou 210 mil pessoas. Passamos a vislumbrar no horizonte uma volta à normalidade, com escolas funcionando e tribunais reabertos, por exemplo.

É também um reencontro com nossa história. A cobertura vacinal do Brasil é considerada uma das maiores do mundo, comparável a de países como o Reino Unido e Canadá. Nosso país tem um histórico de sucesso em campanhas de vacinação, promovidas para evitar epidemias ou para erradicar doenças. Os exemplos são diversos, como na erradicação da varíola entre 1966 e 1973, durante o regime militar. A experiência da BCG e da poliomielite são outras conquistas importantes. Nas últimas décadas, a cultura da imunização vacinal tem sido uma política de Estado, não de governo, independente de orientação político ou partidária.

Em todos os exemplos bem sucedidos no Brasil houve uma decisão do Estado de priorizar a questão sanitária e organizar a vacinação maciça. E, para além do engajamento do Estado, é fundamental uma boa comunicação da importância e segurança desse método de prevenção. A Revolta da Vacina, em 1904, ocorreu em grande parte por desinformação da população, temerosa com efeitos colaterais e preocupada com boatos falsos. Um deles é a de que as injeções deveriam ser aplicadas nas partes íntimas das mulheres.