Um mês antes o problema foi no Ministério da Saúde, quando cerca de 200 milhões de registros com informações pessoais ficaram expostos. No caso do Ministério da Saúde foi a terceira grande falha de segurança tornada pública em seis meses.
Mas esse vazamento em janeiro foi o maior até agora. Ele trazia praticamente todas as informações mais relevantes sobre qualquer indivíduo: nome completo, idade, CPF, RG, gênero, filiação, estado civil, endereço, email, número do telefone com o tipo de plano na operadora, número do PIS, título do eleitor e escolaridade. Segundo os especialistas, ele revelava diversos dados financeiros como o score de crédito, a renda e salário, se havia registro de algum cheque sem fundo ou de alguma dívida. Também fornecia a situação na Receita Federal, com detalhes do Imposto de Renda. Nos casos em que o trabalhador tivesse carteira assinada, vinha o nome e o CNPJ do empregador.
Não só. Em certos casos havia fotos de identificação das pessoas. Sobre algumas era informado o vínculo familiar até o segundo grau. Para mais de 1,5 milhão agraciados havia menção à faculdade feita, com o ano de entrada e o de graduação. Em outros casos era informado se a pessoa era beneficiário do Bolsa Família e qual o valor recebido.
A variedade de possibilidades de fraudes e golpes para quem detiver esses dados é quase ilimitada. E, em boa parte deles, quem tiver seus dados usados em ilícitos pode ficar sabendo apenas depois que o estrago tiver sido feito.
Esses exemplos deixam claro a falta de segurança nas bases de dados de empresas e órgãos públicos. Um problema já evidenciado de modo diferente em outras situações, como no ataque de hackers aos sistemas do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) anunciou que irá apurar os vazamentos para responsabilizar e punir os envolvidos. No entanto, por causa da pandemia, as punições previstas na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) estão em uma espécie de moratória.
Independente disso, é preciso que a ANPD crie planos de contingência. Não apenas para reduzir os riscos de utilização criminosas desses dados. Mas com protocolos para informar os titulares desses dados acerca do risco e sobre como proceder em casos de fraudes.
A LGPD foi um avanço ao tentar trazer um pouco de ordenamento ao mundo virtual e proteção para seus usuários. Mas, para além do que diz a lei, ainda há um longo caminho a percorrer na implantação de medidas práticas e ferramentas de segurança eficientes.