Vista aérea de parte da Mata Atlânticafoto de divulgação SOS Mata Atlântica

A árvore que deu nome ao país praticamente não existe mais. Era uma das espécies mais abundante na Mata Atlântica. Hoje é tão rara que poucos já viram ou sabem identificar! Podemos claramente afirmar que foi o primeiro registro de nossa história de extinção (quase completa) pela exploração desordenada e predatória. Por isso, o Pau-Brasil é um símbolo para ressaltar os riscos a este bioma, que de tão representativo, terá uma semana inteira de eventos, como no Jardim Botânico. As atividades no país iniciadas em 27/05 vão se estender por junho a dentro.
O Dia da Mata Atlântica é uma referência a quando o Padre Anchieta assinou a Carta de São Vicente, documento no qual descreveu, pela primeira vez, a biodiversidade das florestas tropicais nas Américas, ainda em 1560.
Relação com a tragédia de Petrópolis
Na área originária de Mata Atlântica concentra 72% da população brasileira, 145 milhões de pessoas que sofrem na pele as consequências dos impactos do desmatamento, da ocupação desordenada e esgotamento dos recursos. Abrange 17 estados sendo responsável pela água, alimentação, energia e regulamentação do clima.
"Se as derrubadas persistirem, vai faltar água, vai faltar alimento, vai faltar energia elétrica. É uma ameaça à vida, um desastre não só para o Brasil, como para o mundo, pois importantes referências internacionais apontam a Mata Atlântica como um dos biomas que precisam ser restaurados com mais urgência para atingirmos a meta de redução de 1,5°C de aquecimento global estabelecida no Acordo de Paris" – alerta o diretor de Conhecimento da Ong SOS Mata Atlântica, Luis Fernando Guedes Pinto.
E justamente o seu encolhimento e destruição tem como consequência direta as mudanças climáticas, deslizamentos, secas, tempestades, inundações e suas consequências trágicas. Um bom exemplo é a tragédia ocorrida em Petrópolis, que completou três meses, deixando um saldo de 240 mortes e três pessoas ainda desaparecidas.

Mata Atlântica: o pouco que restou
Hoje resta apenas 12,4% da cobertura da vegetação natural da floresta original. Segundo o Atlas da Mata Atlântica, entre 2020 e 2021 foram desmatados 21.642 hectares. Isso representa um aumento de 66% em relação ao período anterior. Só para se ter uma ideia, essa perda representa o equivalente a 20 mil campos de futebol!
O Rio de Janeiro, juntamente com São Paulo, Sergipe e Pernambuco retrocederam alguns passos. Esses estados voltaram a desmatar depois de anos com interrupção quase zero dessa atividade predatória. No entanto, a situação mais grave acontece em Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraná,  e Santa Catarina.
A Mata Atlântica é a segunda maior floresta tropical do Brasil e uma das maiores biodiversidades do planeta. Mesmo depois de mais de 500 anos, quase que a cada dia surge uma novidade. Constantemente são reveladas novas espécies da flora e fauna num potencial de muitas novas descobertas. Até agora catalogados: 850 espécies de aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 mamíferos e 350 de peixes.
Unidades de Conservação
Boa parte do que se mantém de pé é graças as implantações das Unidades de Conservação.
“Temos uma biodiversidade muito ameaçada e o que sobrou dela está nas UCs, que são o tesouro da conservação no país” explica Luis Fernando Guedes Pinto.
Na área mais protegida, entre as Regiões Sul e Sudeste, existem 42 desses espaços de preservação entre federais, estaduais e municipais. São 30%  de proteção integral e 60% para uso sustentável. Isso sem contar os parques.
Esse corredor melhor protegido vai da Serra do Mar - no Rio de Janeiro, se estendendo pelos litorais de São Paulo, Paraná e terminando na Serra Dona Francisca, no entorno dos municípios de Jaraguá do Sul e Campo Alegre, já em Santa Catarina. E nessa área encontram-se o que restou dos animais de topo da cadeia alimentar do bioma, como a onça-pintada.
“Não só é um contínuo de floresta, mas um mosaico de Unidades de Conservação dos mais relevantes do país, que forma um corredor importante de biodiversidade - ressalta o coordenador da Grande Reserva da Mata Atlântica, Ricardo Borges.
Embora seja o trecho melhor preservado da Mata Atlântica, não quer dizer que esteja numa posição confortável conforme revela cada edição do Atlas Florestal.
Um dia no Parque
Não resta a menor dúvida da necessidade da manutenção efetiva e expansão das Unidades de Conservação. Para isso, é fundamental a ocupação e utilização dessas áreas pela população. E esse é um dos objetivos da criação de “Um Dia no Parque” (UDNP) que fecha o períodos de eventos sobre a Mata Atlântica iniciado em 27 de maio. A escolha de 24 de julho para o evento é uma forma de reverenciar o aniversário do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Jardim Botânico
Embora seja um espaço de pesquisa e estudo com espécies mundiais, o histórico Jardim Botânico do Rio de Janeiro, está em uma área originária da Mata Atlântica, inclusive com preservação de muitas espécies desse bioma. Não a toa, esse Centro de Pesquisa e Conservação está com uma ampla programação, que naturalmente, não cabe em um dia só. Uma das atividades é o percurso da Trilha de Mata que passa por 27 espécies raras, como o Pau-ferro, Sapucaia, Jequitibá-rosa, Palmiteiro e claro, o  Pau-Brasil. Ainda na agenda: Circuito Fauna, Caça ao Tesouro, Frutos e Sementes Curiosos, Herbários, experiências de plantios, Plantas Medicinais. Neste último, os visitantes vão saber para que males são indicadas espécies como: espinheira-santa,a aroeira, erva-baleeira, entre outras.
Recebe ainda destaque especial a experiência completa “Palmitos fantásticos e onde habitam”. Os participantes irão conhecer as semelhanças e diferenças entre os tipos juçara e pupunha no laboratório e na cozinha. Dicas de plantio, de identificação, conservação e de culinária. A pupunha é uma alternativa para produção e consumo de palmito de modo que o juçara seja preservado na natureza. Quem for nesse período ao Jardim Botânico poderá ainda saborear o cardápio especial no restaurante Green Garden. Entre as delícias típicas da Mata Atlântica: dadinho de tapioca, spaguetti de pupunha, sobremesa de cupuaçu e o refrescante drink-açaí.

Recuperação da Mata
Uma boa notícia é o investimento de R$ 3 milhões no projeto Floresta Naveia, através de “bombas de sementes” que lançam uma enorme quantidade, aumentando as chances de germinação em relação a introdução de mudas.  O projeto, financiado por uma marca de leite vegetal carioca, adquiriu 220 hectares altamente degradado em Ibitipoca, no sul de Minas.
“Não é um somente um projeto de crédito de carbono porque não acreditamos que ‘basta empatar’ emissões de gases. Nossa ideia é negativar, ou seja, zerar e começar a gerar impacto positivo. E, mais do que olhar para emissões, nossa intenção aqui é trazer de volta a biodiversidade”, conta Felipe UFO, fundador da Naveia.

Serra do Mar
Outra ação significativa conta com a ajuda dos genuínos guardiões da Floresta: a comunidade indígena Tupã Nhe'é Kretã. Está sendo desenvolvido no trecho da Serra do Mar paranaense abrangendo os municípios de Morretes, Guaratuba e São José dos Pinhais.
“Os indígenas já desempenham a função de protetores. Será possível restaurar a cobertura florestal de uma área antes usada como plantação de pinus e contribuir com a geração de renda da comunidade”, conta Juliano José da Silva Santos, coordenador do Centro de Pesquisa Lactec.
Parte da recuperação envolve a extração dos pinus. “É considerado uma espécie exótica e invasora que pode causar danos à unidade de conservação ambiental e expulsar espécies nativas, um processo que chamamos de contaminação biológica”, explica o pesquisador.