Marcas destacam-se na moda também pelo engajamento socioambientalfoto de divulgação

Para que a moda se mantenha no topo da moda é fundamental adaptar-se às necessidades socioambientais e abraçar causas sensíveis ao seu público. Essa atividade é uma das mais poluidoras e precisa mitigar e compensar seus efeitos.
“Em se tratando de diminuir os impactos ambientais, ainda tem muito o que ser feito. Esse setor econômico é um dos maiores poluidores do planeta” – ressalta o professor de Moda da Universidade Estácio de Sá, da Fundação Getúlio Vargas e consultor desta Coluna.
De acordo com a Global Fashion Agenda de 2020, é a segunda maior indústria em emissão de gases de efeito estufa, representando 10% do total global. A previsão é de aumentar um terço, para 2,7 bilhões de toneladas por ano até 2030.

Porém, o consumidor mais consciente exige cada vez mais engajamentos por parte das marcas, não apenas em discursos para suas mídias sociais, mas que demonstre que está aplicando, na prática o que preconiza em seu  processo produtivo. 
“Já com relação às constantes denúncias de exploração de mão de obra, inclusive infantil, é preciso contar com a colaboração do consumidor consciente e também das marcas em não tolerarem esses traços desses abusos em nenhuma etapa da cadeia produtiva. Não tem como uma peça ser tão abaixo do valor, como algumas oferecidas pelo mercado. Alguém está pagando na pele por esse custo tão baixo” – acrescenta Sílvio Duarte.
E o engajamento prático na busca por um mundo mais responsável independe do tamanho, segmento ou valor da marca. O que importa é a consciência por uma moda melhor.
“E também não é mais aceitável apenas um discurso social sem que ele seja colocado em prática nas rotinas de produção das próprias marcas” – ressalta o professor de moda.

Street Pride Rio
A carioquíssima marca que atua no segmento LGBTQIA+ tem se esforçado, pelo menos em duas frentes iniciais, para tornar o segmento mais inclusivo. Os sócios estão desenvolvendo um projeto para capacitar pessoas na área da indústria têxtil. Somente nessa fase experimental já formaram dois profissionais.
“Queremos ampliar e dar mais oportunidades para pessoas que não podem pagar um curso de moda, que costumam ser muito caros” – explica Luyz Sattor, um dos sócios.
A Street Pride Rio também trabalha com tecidos descartados por outras confecções. Essa preocupação com a reciclagem desonera os impactos ambientais. Eles acabam de abrir um atelier próprio e estão colocando no mercado uma linha de moda praia. O lançamento acontece na cidade litorânea de Angra dos Reis no próximo sábado, entre 14h e 22h, em um evento que vai reunir desfile, dança, música, sustentabilidade e inclusão. 
“O conceito da Street Pride nasceu no meio da pandemia com o objetivo de ajudar seus clientes a se verem melhor, com a certeza de estarem usando um vestuário que foi feito com material ecologicamente sustentável e, ao mesmo tempo, buscando ousar nos looks. Com isso, pretendemos incentivar outras marcas a seguir essa forma de pensar”– explica o sócio Jeff Castro que acrescenta mais informações sobre a marca e o evento de lançamento pela conta no Instagram @streetpriderio
“Ao decidirmos fazer nosso lançamento, vimos como uma parceria perfeita, utilizar o espaço do projeto Oca Gastrobar, que é uma experiência amazônica em Angra dos Reis, demonstração de cultura gastronômica da Região Norte do Brasil, trabalho voluntário em preservação ao meio ambiente” – justifica Luyz Sattor 

Mercado Circular
Um outro evento envolvendo Moda Consciente é a terceira edição do Mercado Circular que também acontecerá  neste final de semana, no Instituto Brincante, em São Paulo. A programação conta com 20 expositores de várias partes do país, além de shows. O projeto reúne pesquisas e iniciativas de mercado e planejamento dentro das ações ESG (ambiental, social e governança) para implantação em empresas.
Armário Infinito
Dentro do conceito de Moda Circular, a Maristar reabre, no Rio de Janeiro, sua primeira loja física para adeptos do conceito “armário infinito”. Através de assinaturas mensais, as consumidoras podem escolher as roupas que vão usar e, depois, devolver para que outras também as reutilizem, reduzindo o consumo e sem deixar de ser Fashion.
“Já fui muito consumista, mas, hoje, uma nova realidade. Reaproveitar, reutilizar, alugar aquilo que só usamos uma vez e que ficaria parado em nosso armário”, encoraja a engenheira Priscila Cotrim, sócia do conceito junto com a arquiteta Maryse Melul e jornalista Maristela Alcantara, que ressalta a economia e a diversidade proporcionadas pelo negócio.
“Faz bem para a economia do bolso e para o Meio Ambiente, ter um planejamento de consumo. Às vezes você pensa em comprar algo, que em sua mente você já sabe que não vai usar mais”, explica a jornalista.
Segundo Maryse Melul, a intensão é expandir o showroom como forma de estender a ideia para um público maior.
“Consumir quando for necessário, descartar quando houver o seu fim, e buscar formas de rever sempre o que se tem, para dar o destino ideal”.
Moda sem gênero
A marca brasileira Urban Streetwear lançou sua coleção de verão 2023 com 49 peças com a temática Monsters in the City dentro do conceito libertador sem gênero e sem idade.
“Voltada para pessoas de espírito jovem independente da idade cronológica, pessoas com personalidade própria que escolhem suas roupas para expressar quem são sem rótulos de idade ou de estilo” – conforme a marca se autodefine.

O lançamento ainda foi marcado pelo match perfeito entre a moda e a música: contou com uma trilha exclusiva composta em parceria da marca com o produtor musical Jordan Pereira. Disruptiva e inovadora adotou no evento a estética zombie, inspirada no universo dos cartoons e das séries como Stranger Things e da letra Thriller de Michael Jackson 
"Sintetizar ideias em sons é sempre um prazeroso desafio. Trabalhar elementos abstratos, numa ciência que não é exata, dá aquele frio na barriga de pensar onde essa jornada vai levar.”, comemora Jordan Pereira.

Moda Sustentável
As propostas sustentável e social conectou os estilistas Kevin Germanier e Gustavo Silvestre que tiveram 20 peças apresentadas na Paris Fashion Week. A aproximação surgiu à partir da visita de uma comitiva francesa para conhecer iniciativas brasileiras representativas em relação à sustentabilidade ambiental e social realizadas pela ONG Ponto Firme.
Kevin Germanier se destaca na transformação de lixo em luxo, sendo os conceitos do upcycling como grande diferencial de sua arte. A partir de miçangas, tecidos, plumas e outro itens descartados pela indústria têxtil, o estilista constrói suas peças que já foram usadas por Lady Gaga, Björk, Taylor Swift, Kristen Stewart, Ivete Sangalo e Sabrina Sato.
Já Gustavo Silvestre incorpora o crochê as suas peças, tendo atraído a atenção de Pabllo Vittar, Preta Gil, Anitta e Bruna Marquezine.
O processo de desenvolvimento das peças contou com a participação de algumas alunas do Projeto Ponto Firme que trabalha com detentos, pessoas com vulnerabilidade social, mulheres trans e refugiadas.
“Acredito na ressignificação dos produtos, ou seja, dar um novo propósito a um material já utilizado. Temos tantos recursos à disposição, que com criatividade e sensibilidade, podem ser transformados de uma forma incrível. Esse poder transformador está na essência do Ponto Firme tanto na parte de sustentabilidade quanto na social", acrescenta Silvestre.
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