CBF lança grupo de trabalho contra o racismo no futebolfoto de divulgação CBF

O problema é global. Em várias partes do planeta registros desse tipo de agressão passaram a fazer parte da rotina dos estádios. Envolvem desde dirigentes, passando pelos jogadores e ecoando nas torcidas. O problema chama atenção das autoridades de alguns países, inclusive o Brasil. A grande apreensão é com relação a possíveis registros desse tipo de comportamento durante Copa do Mundo no Catar.
No continente europeu
Na Europa, a cada ano tornam-se mais constantes. No mês passado, o brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid, foi chamado de “macaco” por ter comemorado um gol com passinhos de samba durante uma partida na Espanha.
Isso sem falar na agressão sofrida pelo jogador da Seleção Brasileira, Richarlison durante a partida Brasil x Tunísia, o último amistoso antes da Copa do Mundo no Catar. Enquanto o atleta comemorava, foi arremessada uma banana pela torcida tunisiana.
Em contraponto, a federação húngara suspendeu o técnico holandês Ricardo Moniz do Zalaegerszegi depois que ele recebeu um cartão vermelho ao tentar tirar seu time de campo quando ruídos racistas foram emitidos em direção a seus jogadores negros. Moniz também era treinador do clube holandês Excelsior em 2019, quando o atacante Ahmad Mendes Moreira foi alvo de provocações dos torcedores do Den Bosch. Esse incidente foi a primeira vez que uma partida profissional na Holanda foi interrompida por causa do racismo.

Casos no Brasil
Aqui no país do futebol e que foi a última nação a abolir a escravidão, os gritos racistas ecoam nos estádios com forte ressonância. Esse ano já batemos recorde de denúncias segundo levantamento do Observatório Racial do Futebol. Até Outubro, foram 70 casos envolvendo atletas brasileiros, sendo 15% em competições sul-americanas.
No mês passado, torcedores do Clube Sampaio Corrêa denunciaram um dirigente do Chapecoense depois de uma partida no Maranhão. Ele teria apontado o braço fazendo uma referência a cor da pele.
E ainda, os registros de revolta do volante Fellipe Bastos, do Goiás, na saída do gramado do estádio Antônio Accioly, após o clássico com o Atlético de Goiás em maio. Ainda os casos de Edenilson - do Internacional, que disse ter sido chamado de macaco pelo lateral-direito Rafael Ramos - do Corinthians, além do técnico Edinho Rosa Aimoré, ofendido por torcedor do próprio time em partida da Série D.

Duplo preconceito: de cor e gênero
Essa semana, o Grêmio se manifestou sobre as injúrias raciais direcionadas a atletas do time feminino no Gre-Nal, válido pela presença na final do Gauchão. Às atletas Luany, Brito e Paixão registraram boletim de ocorrência junto ao Juizado Especial Criminal.
Com a frase "estou precisando de um desse (em referência ao cabelo) para fazer espanador aqui casa" foi dita para a atacante Luany. Ao irem proteger a colega, a zagueira Stephanie Brito e a goleira Iasmin Paixão também foram vítimas de injúrias raciais.

Outro caso no futebol feminino envolveu a jogadora Silmara, do Paysandu que denunciou ter sido agredida durante um jogo do Parazão. De acordo com o clube, a atleta foi chamada de "macaca" por um homem que estava do lado de fora do campo, atrás do gol adversário.

Nem crianças escapam
Um goleiro de base, de 10 anos também foi vítima durante uma partida na região da Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais. A criança foi chamada de “Bob Esponja Negro” por adultos que acompanhavam a partida, que teve que ser interrompida com a polícia acionada.

CBF contra o racismo
Diante do aumento desses registros, a Confederação Brasileira de Futebol começou uma série de reuniões oficiais para discutir a prática deste crime e formas de coibi-la. Foi formado um grupo de trabalho que tem por objetivo discutir os aspectos legais e operacionais relacionados ao aprimoramento do marco regulatório das políticas públicas e dos procedimentos desportivos. 
"Hoje, estamos dando um passo importante na aproximação de todos os agentes envolvidos no Grupo de Trabalho. O combate ao racismo e a qualquer forma de violência e discriminação é uma prioridade da minha gestão", ressaltou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
São 46 integrantes, representando instituições como a Fifa, Conmebol, as federações brasileiras de futebol e o Ministério Público. Entre os nomes: Maurício Neves Fonseca, Vice-Presidente Administrativo do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), o ex-goleiro Aranha, Marcelo Medeiros Carvalho (fundador do Observatório da Discriminação Racial no futebol), Onã Rudá Silva Cavalcanti (do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ), dentre outros.
O grupo passará a se reunir periodicamente. Nesta primeira fase, que deve ser concluída até dezembro, o objetivo é aproximar os diferentes agentes envolvidos no enfrentamento, possibilitando que todos se familiarizem com diferentes perspectivas sobre o tema.
Ao todo, serão quatro etapas, que envolverão ainda o mapeamento de problemas, a geração de ideias e desenvolvimento de soluções. Ao final, as recomendações propostas serão reunidas no relatório final "Estratégia para o Combate ao Racismo e à Violência no Futebol", que será encaminhado aos órgãos competentes. A previsão é que isto aconteça até agosto de 2023.

Times contra o Racismo
Após vencer o Fluminense no Maracanã, o América lançou uma camisa especial em campanha contra o racismo. A peça é toda preta e faz parte da linha “Consciência Negra Todo Dia”. Propositalmente foi lançada antes do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro.

No campo internacional, jogadores da Premier League se ajoelharam em manifestações antirracistas durante as partidas que disputaram entre oito e 16 de outubro pela Liga Inglesa. O time aderiu à campanha “No Room for Racism”, em português, “Sem espaço para o Racismo”.
E essa ação deve ter prorrogação durante o tradicional "Boxing Day", rodada de fim de ano após a Copa do Mundo de 2022.