Abrainc lembra que no Casa Verde e Amarela o financiamento vem do FGTS, ou seja, as taxas não têm relação com o novo aumento da SelicFreepik

A taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) sofreu mais um reajuste, passando de 13,25% para 13,75% ao ano, conforme decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Essa é a 12ª alta seguida, colocando o percentual no mesmo patamar de novembro de 2016. Os reflexos no setor imobiliário dividem as opiniões de especialistas. Para a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), a decisão é considerada uma medida técnica e necessária para conter o processo inflacionário no país. A entidade considera que o atual patamar não impede o investimento em imóveis, principalmente ao se avaliar o histórico brasileiro em que a Selic quase sempre esteve acima de dois dígitos e, mesmo assim, o mercado imobiliário não deixou de se desenvolver.

A Abrainc lembra ainda que no programa Casa Verde e Amarela (CVA), que corresponde a 80% das unidades produzidas nos últimos anos, o financiamento habitacional é proveniente do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), ou seja, as taxas de financiamento não apresentam correlação com o novo aumento. Já para o mercado de Médio e Alto Padrão (MAP), cujo empréstimo depende dos recursos da poupança, a Abrainc observa que o impacto tem sido bem menor do que a elevação da Selic. Enquanto a taxa básica subiu 10% de junho/2021 a junho/2022, os percentuais médios do crédito imobiliário subiram apenas 2%. “O brasileiro vê a compra do imóvel como uma forma de proteger parte do patrimônio da alta inflacionária, assim como obter ganhos reais no longo prazo. Os empreendimentos atraem cada vez mais compradores e investidores, que veem maior interesse neles em relação às aplicações financeiras tradicionais. Isso explica o fato de uma recente Pesquisa de Intenção de Compra feita pela Brain, em parceria com a Abrainc, revelar que 34% dos entrevistados têm a intenção de comprar imóveis nos próximos 12 meses”, comenta Luiz França, presidente da Abrainc.

Para Marcelo Moura, presidente do Creci-RJ (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis), o novo aumento da Selic impacta na questão do crédito em geral. "Porém, não afeta tanto o mercado imobiliário porque os bancos não estão acompanhando a taxa de juros na questão do financiamento. Consequentemente, o setor ainda tem muito espaço para crescer. É compreensível a apreensão da população, mas a tendência é que os bancos não aumentem o financiamento acompanhando essa elevação. Podemos ser otimistas!”, analisa Moura.
Já Marcos Saceanu, presidente da Ademi-RJ (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado), ressalta que a nova elevação da taxa é uma notícia que sempre gera atenção especial no mercado imobiliário. "O aumento deixa o custo do crédito mais caro para os fornecedores da indústria e pode gerar alguma alta futura no financiamento dos imóveis para os compradores. Apesar deste aumento, há indicação de recuo na curva de juros ao longo de 2023", diz Saceanu.

Cerca de 500 mil famílias impactadas

Na outra ponta, Cláudio Hermolin, presidente do Sinduscon-Rio (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro), avalia que a alta da Selic gera uma expectativa de retração no setor porque ela pode impulsionar a taxa do crédito imobiliário, essa sim diretamente ligada ao número de famílias com capacidade de crédito para adquirir um imóvel. “Na nossa visão, a cada 0,5 ponto percentual que aumenta na taxa de juros do crédito imobiliário, são retiradas do mercado cerca de 500 mil famílias com capacidade de compra. E isso para um país de proporções continentais e com déficit habitacional dos maiores do planeta, é bastante preocupante”, avalia Hermolin.

Outro ponto destacado por ele diz respeito ao aumento no custo da produção. “Com a alta da Selic, o financiamento da produção e os recursos que são normalmente investidos no mercado imobiliário acabam ficando mais caros. Além da concorrência que o investidor passa a ter entre optar por manter o seu dinheiro parado rendendo a uma taxa Selic, sem risco, em vez de colocar o capital dele na produção”, ressalta Hermolin.