Um abraço afetuoso nos dois filhos, na mulher, e um adeus. O último contato com a família e dezenas de perguntas sem respostas perfazem as circunstâncias do desaparecimento repentino do chef de cozinha Gustavo Fernandes Calmon Garcia, de 37 anos, há cerca de 40 dias, na Zona Norte do Rio.
Morador de um condomínio em Oswaldo Cruz, Gustavo sumiu após sair de casa, na noite do último dia 21 de junho. Desde então, familiares e amigos realizam buscas e fazem mobilização nas redes sociais para encontrar o paradeiro do cozinheiro, que trabalhava em uma renomada casa de festas na Taquara, na Zona Oeste do Rio.
Casado há 16 anos, Gustavo é caseiro, gostava de ficar com a família e o nunca havia ficado fora sem avisar. De acordo com familiares, o chef vinha passando por momentos de instabilidade emocional, sobretudo devido à pandemia, mas não demonstrou mudanças de comportamento ou tomava medicamentos controlados.
‘Excelente marido e pai exemplar’
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“Nós tivemos alguns conflitos em família, mas nada que o levasse a abandonar a casa. O Gustavo é um excelente marido, um pai exemplar. Nossa preocupação é o longo tempo sem respostas. Estamos fazendo as buscas. Nossa esperança é vê-lo de volta nos dia dos pais. Ele está fazendo muita falta”, disse, emocionada, a secretária Ana Cláudia Martins de Jesus, de 42 anos.
Investigações- Devido à demora no retorno, familiares registraram o sumiço do chef Gustavo Garcia na Delegacia de Descobertas de Paradeiros (DDPA). Quando saiu de casa, ele vestia calça jeans, camiseta azul marinho, boné azul e tênis preto. Gustavo levou uma mochila, os documentos, mas não portava aparelho de telefone celular.
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Solicitamos informações sobre as investigações do caso, mas, até o fim desta edição, a assessoria de comunicação da Polícia Civil não retornou ao nosso contato. Informações sobre o paradeiro do chef podem ser passadas ao Disque-Denúncia (2253-1177) ou à DDPA (2202-0338).
Estado registrou 1.893 desaparecimentos em 2021
De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), de janeiro a junho deste ano, foram registrados 1.893 desaparecimentos, em todo Estado do Rio de Janeiro. A Baixada Fluminense teve maior número de ocorrências, com 576 casos, seguido das Zonas Oeste e Norte do Rio, com 452 sumiços registrados.
Pandemia e isolamento social geram abalos emocionais e contribuem para aumento de sumiços voluntários
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Segundo especialistas, durante a pandemia, aumentaram os casos de desaparecimentos espontâneos ou voluntários. Em sua maioria, por transtornos psicológicos ou conflitos familiares. Segundo dados do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid) do Ministério Público (RJ), 3,5% das ocorrências são motivadas por conflitos intrafamiliares, 7,5% para os casos de perda de contato voluntários e 12,5% por algum tipo de problema psiquiátrico.
“São tempos difíceis. O isolamento social despertou ou intensificou transtornos psicológicos. Sintomas de depressão e ansiedade têm se tornado a queixa principal. A convivência familiar, forçada pelo isolamento social ou pelo desemprego, pode fazer emergir conflitos que estavam ‘adormecidos’ e, com isso, a convivência tornou-se dolorosa. A prevenção aos desaparecimentos passa pelo tratamento de saúde mental adequado e apoio da família”, ressalta a psicóloga Maríangela Venas.
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