Família realiza buscas há 8 meses por cabeleireiro desaparecido na Baixada
Ronie Simões, de 39 anos, sumiu após sair para fazer compras, em Queimados. Grupo LGBTI reitera cobrança por respostas das autoridades
Cabelereiro Ronie Simões, de 39 anos, desapareceu há 8 meses após sair para fazer compras, próximo de casa, em Queimados, na Baixada Fluminense - Arquivo Pessoal
Cabelereiro Ronie Simões, de 39 anos, desapareceu há 8 meses após sair para fazer compras, próximo de casa, em Queimados, na Baixada FluminenseArquivo Pessoal
Após 8 meses de buscas, familiares e amigos ainda se perguntam: onde está Ronie Simões? O cabeleireiro, de 39 anos, sumiu no dia 9 de maio do ano passado, após sair para comprar um par de chinelos, em um centro comercial próximo de casa, em Queimados, na Baixada Fluminense. O celular dele foi desligado.
Ainda sem informações sobre o paradeiro do cabeleireiro, a família luta com a dor da ausência e busca explicação para o sumiço repentino de Ronie, que, segundo eles, não demonstrou mudanças de comportamentos ou se envolveu em conflitos, tampouco passava por problemas de saúde. Familiares querem uma investigação mais precisa sobre o caso.
“O Ronie estava bem de saúde, mantinha a rotina de trabalho e sem aparentes problemas. Simplesmente, saiu para fazer compras e desapareceu. É um longo período sem informações ou indícios do que ocorreu. Estamos sofrendo e pedimos apoio às instituições competentes para encontrar uma resposta”, disse, emocionada, a irmã do cabeleireiro, Adriana Moura, de 50 anos.
Profissional dedicado
Quando sumiu, o cabeleireiro Ronie Simões estava usando camisa e bermuda, ambos da cor cinza. Na ocasião, a demora no retorno e o fato de o telefone celular estar desligado chamou a atenção de familiares, que passaram a fazer contato com amigos e colegas do cabeleireiro. Ronie trabalhava em um salão de beleza, em São João de Meriti, e o desaparecimento repentino também deixou colegas apreensivos, pois era um profissional dedicado e, dificilmente, faltava aos compromissos.
Grupo LGBTI cobra respostas das autoridades
A despeito das investigações ainda não ligarem o desaparecimento a crimes relativos à homofobia, o Núcleo de Atendimento Descentralizado (NAD) do Programa Rio Sem LGBTIfobia, em Queimados, reitera que irá cobrar das autoridades uma apuração minuciosa do caso.
“O sumiço do Ronie Simões liga um alerta sobre o aumento de desaparecimentos na Baixada. Não descansaremos um momento sequer na cobrança às autoridades policiais. Cabe ressaltar que temos uma boa relação com delegados e comandantes de batalhões da região. Contudo, ainda nesse mês, solicitaremos informações sobre o andamento das investigações ao Setor de Descobertas de Paradeiros (SDP) da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense ( DHBF) “, disse o coordenador do NAD, Eduardo Costa.
Investigações- A Polícia Civil informou que as investigações seguem em andamento no setor de Descoberta de Paradeiros da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). Diligências continuam para localizar a vítima e esclarecer o caso. Informações sobre o paradeiro do Ronie podem ser repassadas ao Disque-Denúncia (2253-1177) ou à DHBF, que deixa à disposição da população o telefone (21) 98596-7442 (whatsapp) e ressalta a importância da colaboração com informações e denúncias, com garantia de total anonimato.
Baixada é a região com maior número de sumiços no Estado
De janeiro a novembro de 2021, foram registrados 3.633 registros de desaparecimentos de pessoas em todo Estado do Rio de Janeiro, conforme dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Baixada Fluminense lidera em número de casos no estado, com 1.130 ocorrências, seguido da Zona Oeste e Norte do Rio, que juntas somam 887. Logo atrás, a Capital teve 598 registros. Região Metropolitana e dos Lagos registraram, no mesmo período, 479 sumiços. O Sul Fluminense e o Norte Fluminense somaram, respectivamente, 213 e 205 sumiços. Com menor número de ocorrências, a Região Serrana apontou 121 casos.
Sociólogo alerta sobre desaparecimentos forçados e sensação de impunidade
Para o sociólogo Adriano de Araújo, coordenador do Fórum Grita Baixada, o aumento dos desaparecimentos na região tem relação multifatorial. O especialista destaca, entre outros, a vulnerabilidade socioeconômica das famílias atingidas, os intensos confrontos armados, a violência policial e o envolvimento de grupos criminosos, que, se somam à falta de resultado na investigações e a sensação de impunidade.
“Os casos de desaparecimentos vêm ganhando cada vez mais repercussão, especialmente daqueles que envolvem crianças e adolescentes. Parte significativa ocorre na Baixada Fluminense, de acordo com registros do Instituto de Segurança Pública. E isso nos faz pensar nas vulnerabilidades socioeconômicas das famílias atingidas. Afinal, cidades da Baixada com registros crescentes de homicídios e de confrontos armados também vêm sendo caracterizadas por números crescentes de desaparecimentos de pessoas”, analisa o sociólogo.
Para Araújo, além dos sumiços voluntários e involuntários, o aumento da incidência de desaparecimentos forçados (ligados às ações criminosas) é preocupante, pois resulta da escassez de investigações e falhas na implementação de políticas públicas.
“Excluindo os casos de desaparecimento intencional ou com motivações conhecidas, preocupa-nos, como Fórum Grita Baixada, os casos recorrentes de desaparecimentos forçados. Nestes, ao contrário dos primeiros, existem sempre o contexto de uma ação ilegal e criminosa, como homicídio, lesão corporal seguida de morte ou violência letal de agentes do Estado. Nestes episódios, o desaparecimento do corpo funciona para o agente da ação criminosa como uma estratégia para dificultar ainda mais as já escassas investigações e assim reduzir as chances de solução do caso e a responsabilização dos autores. Como se diz, se não há corpo não há crime; se não há crime, não são necessárias políticas ou ações de enfrentamento às atividades criminosas”, alerta o especialista.
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