Carnaval 2022: Beija-Flor retrata contribuição intelectual negra no Brasil
Assinada pelo carnavalesco Alexandre Louzada, o enredo 'Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor' levará para a Marquês de Sapucaí o 'levante quilombista'
Alexandre Louzada é o carnavalesco da Beija-Flor de Nilópolis - Foto: Divulgação / Eduardo Hollanda
Alexandre Louzada é o carnavalesco da Beija-Flor de NilópolisFoto: Divulgação / Eduardo Hollanda
Rio - Inspirado na figura do Pensador, do povo tchowkwe, a Beija-Flor vai trazer um retrato da contribuição intelectual negra no Brasil. Sob o comando do carnavalesco Alexandre Louzada, o enredo "Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor" levará para a Marquês de Sapucaí o "levante quilombista", em nome do reconhecimento da intelectualidade preta.
Ao DIA, Louzada ressaltou a honra em assinar um desfile da agremiação de Nilópolis, Baixada Fluminense. "De verdade, é uma grande responsabilidade, mas eu não direcionei para mim os holofotes. É um enredo que me fez ouvir mais do que o exercício da fala. Todo o tempo fui o intérprete plástico de muitas vozes. Temos aqui uma equipe brilhante e que, juntos, construímos um grandioso Carnaval", comemorou o carnavalesco.
Com "Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor", a Azul e Branca de Nilópolis vai retratar na Marquês de Sapucaí as diversas contribuições de intelectuais pretos ao longo do tempo. "O samba-enredo da Beija Flor é uma poesia contundente que aborda de forma magnífica todas questões que iremos retratar, além de belo, ele toca diferentemente as pessoas em cada verso, cada frase, criando identidades diversas como um hino que representa esse levante", explicou.
Com várias passagens pelo comando da Beija-Flor, Louzada deu um pequeno spoiler de uma homenagem ao carnavalesco Laíla. Aos 78 anos, o diretor de Carnaval Luiz Fernando Ribeiro do Carmo foi uma das vítimas da covid-19 em 2021. Com mais de 50 anos de trabalho com o Carnaval carioca, Laíla dedicou mais de 30 à Beija-Flor de Nilópolis, sendo campeão 14 vezes.
"Se a Beija-Flor se credencia como escola de samba e de vida, voltada para a sua comunidade, tem sim, muito do trabalho do Laíla em sua história. Ele será homenageado, tanto pelo seu legado mas também como ícone, junto com tantos outros personagens exemplo expostos nesse enredo. Laíla sempre será inspiração para todos nós", defendeu Alexandre Louzada.
Com o desenvolvimento do desfile todo feito durante a pandemia da covid-19, o carnavalesco enxerga que trabalhar durante o período foi um desafio. "Acho que a pandemia, primeiramente, mexeu com o nosso psicológico, reconheço que foi bastante difícil pensar em alegria e festa num momento tão avassalador. Foi um grande exercício de superação e resiliência. De cuidados com protocolos sanitários, pois a empatia do povo do samba para com todas as perdas humanas, sejam dos notórios ou dos anônimos, nos uniu na dor e na luta para vencer essa adversidade", argumentou Louzada, que continuou:
"No que diz respeito ao trabalho, foi uma tarefa que exigiu paciência porque o número de pessoas envolvidas foi reduzida e também porque tivemos que buscar alternativas de matéria prima devido à escassez de oferta".
O samba-enredo é de autoria de J. Velloso, Léo do Piso, Beto Nega, Júlio Assis, Manolo e Diego Rosa e é interpretado por Neguinho da Beija-Flor. A agremiação será a sexta e última a passar na Avenida já no sábado, 23 de abril, ainda na primeira noite dos desfiles do Grupo Especial.
No último Carnaval, sob o comando de Alexandre Louzada, a Beija-Flor de Nilópolis conquistou o quarto lugar da competição com o enredo "Se essa rua fosse minha". O samba-enredo foi composto por Magal Clareou, Diogo Rosa, Julio Assis, Jean Costa, Dario Jr e Thiago Soares.
Confira o samba-enredo:
Confira a letra:
A nobreza da corte é de Ébano Tem o mesmo sangue que o seu Ergue o punho, exige igualdade Traz de volta o que a história escondeu Foi-se o açoite, a chibata sucumbiu Mas você não reconhece o que o negro construiu Foi-se ao açoite, a chibata sucumbiu E o meu povo ainda chora pelas balas de fuzil Quem é sempre revistado é refém da acusação O racismo mascarado pela falsa abolição Por um novo nascimento, um levante, um compromisso Retirando o pensamento da entrada de serviço
Versos para cruz, conceição no altar Canindé Jesus, ô Clara!! Nossa gente preta tem feitiço na palavra Do Brasil acorrentado, ao Brasil que escravizava
E o Brasil escravizava!!
Meu pai Ogum ao lado de Xangô A espada e a lei por onde a fé luziu Sob a tradição Nagô O grêmio do gueto resistiu Nada menos que respeito, não me venha sufocar Quantas dores, quantas vidas nós teremos que pagar? Cada corpo um orixá! Cada pele um atabaque Arte negra em contra-ataque Canta Beija Flor! Meu lugar de fala Chega de aceitar o argumento Sem senhor e nem senzala, vive um povo soberano De sangue azul nilopolitano
Mocambo de crioulo: Sou eu! Sou eu! Tenho a raça que a mordaça não calou Ergui o meu castelo dos pilares de Cabana Dinastia Beija Flor!
Ficha técnica:
Nome: Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis Posição do desfile: sexta escola a desfilar Dia e hora: sábado, às 3h Cores: Azul e branco Presidente: Almir Reis Presidente de Honra: Anízio Abraão David Carnavalescos: Alexandre Louzada Rainha de Bateria: Raíssa de Oliveira Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Claudinho e Selminha Sorriso Intérprete: Neguinho da Beija-Flor Composição: J. Velloso, Léo do Piso, Beto Nega, Júlio Assis, Manolo e Diego Rosa
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