Desfile da Unidos do ViradouroPedro Ivo / Agência O Dia

Rio - Após o fim da maratona de 12 desfiles do Grupo Especial, na manhã desta terça-feira (13), Unidos do Viradouro e Imperatriz Leopoldinense despontam como as grandes favoritas ao título do Carnaval 2024. Grande Rio, Vila Isabel, Portela, Mangueira, Mocidade e Beija-Flor vão lutar pelas quatro vagas restantes no sábado das Campeãs. Na outra ponta da tabela, Unidos da Tijuca, Paraíso do Tuiuti e Porto da Pedra devem amargar as últimas colocações. Uma agremiação será rebaixada para a Série Ouro. A apuração será nesta quarta-feira (14), às 16h15, na Cidade do Samba, com entrada franca.


Viradouro

A Unidos do Viradouro encerrou o segundo dia do Grupo Especial em grande estilo. Em uma apresentação praticamente perfeita, a escola de Niterói exaltou a ancestralidade e o matriarcado africano, encantando o público com um enredo sobre o culto ao vodum serpente, que teve origem na região do Daomé (atual República do Benim) e foi trazido para o Brasil.

Desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, o tema passeou pela história, levando uma mensagem em defesa da liberdade de culto e do respeito entre as religiões.

Nos quesitos técnicos Evolução e Harmonia, a agremiação também deu um show. O samba-enredo, defendido pelo veterano Wander Pires, funcionou e foi bastante cantado pelos componentes. A bateria de mestre Ciça e da rainha Erika Januza foi outro ponto alto.

A comissão de frente, idealizada por Priscilla e Rodrigo Negri, impressionou pela beleza e foi ovacionada. Houve apenas um pequeno deslize após a passagem pelo segundo módulo de jurados, quando o componente que rastejava, simulando uma serpente, quase foi "atropelado" pelo elemento cenográfico. O "toque" chegou a acontecer e a coreógrafa precisou puxar o componente que deslizava, mas nada que tirasse o brilho posterior do grupo.

Tuiuti

Quinta a passar pela Sapucaí, nesta terça-feira, o Paraíso do Tuiuti fez uma apresentação em homenagem à memória de João Cândido, o Almirante Negro, personagem central da Revolta da Chibata e personagem da canção "Mestre-sala dos Mares", de Aldir Blanc e João Bosco.
Em tom crítico, a agremiação de São Cristóvão contou o enredo com boa leitura e criatividade, no entanto, apresentou falhas no problemas no conjunto alegórico e em evolução, tendo que acelerar o passo no fim para não estourar o tempo. A bateria de mestre Marcão foi um dos destaques.
Mangueira

A Mangueira fez um tributo à cantora Alcione. Mais do que uma torcedora ilustre da Verde e Rosa, a artista se mistura com a história da agremiação, sendo uma das fundadoras da escola mirim Mangueira do Amanhã, na década de 1980. Por tudo isso já merecia ser enredo há tempos. Mas agora "dívida" foi paga em grande estilo.

Embalada pela presença e o carisma de Alcione, que desfilou no último carro, a Estação Primeira empolgou o público. A comissão de frente resumiu a biografia da homenageada, lembrando aspectos da cultura maranhense, como o Bumba meu boi e o Tambor de Crioula. A encenação reviveu, também, a iniciação musical de Alcione, os tempos de cantora da noite e a chegada ao Rio. O trompete, marca da artista, foi "tocado" pelos integrantes masculinos da comissão. O elemento cenográfico serviu de palco para uma sósia da estrela, que trocou de figurino na frente dos jurados, através de um truque de iluminação e efeitos de fumaça.

A parte inicial do desfile contou com a presença magnética de Maria Bethânia, grande amiga de Alcione e tema do desfile campeão de 2016, que veio num "Pede Passagem".

A bateria deu um sacode e garantiu a animação dos componentes. A rainha Evelyn Bastos brilhou à frente da bateria com uma fantasia de "diva ao jazz". 

Nas alegorias e fantasias, os carnavalescos Annik Salmon e Guilherme Estevão lembraram sucessos da cantora e momentos importantes, como quando Alcione atuou como apresentadora de TV, na Globo, no fim da década de 1970, à frente do "Alerta Geral". A religiosidade, outro traço marcante da Marrom, também foi retratada em diversos momentos.

Na parte técnica, o samba-enredo não "explodiu" a Sapucaí, mas foi bastante cantado pelos componentes e por parte do público. A escola, porém, teve falhas em Evolução e no acabamento de algumas alegorias e esculturas.

Vila 
A Vila Isabel se apresentou com a marca do carnavalesco Paulo Barros, que deu uma roupagem moderna para o enredo "Gbalá, Viagem ao Templo da Criação", desenvolvido em 1993, com samba de Martinho. O tema aponta para a importância das crianças para um mundo melhor, remetendo à criação do mundo.

Presidente de honra da Azul e Branco, Martinho da Vila, que fez 86 anos nesta segunda, desfilou no último carro e ganhou parabéns cantado pela multirão que lotou ar arquibancadas. Filha do artista, Mart'nalia, como é tradição, na bateria.

O "chão" da Vila novamente foi um dos destaques do desfile. O carro de som, comandado por Tinga, que teve um pico de pressão antes do desfile, fez uma grande apresentação. O samba-enredo teve bom rendimento, assim como a bateria comandada pelo mestre Macaco Branco.

Já na comissão de frente, que contou com as participações especiais de crianças, houve falha na iluminação do elemento cenográfico, o que pode tirar décimos preciosos.

Portela

A Portela, segunda escola da noite, fez uma apresentação emocionante, trazendo à Avenida o enredo "Um Defeito de Cor", baseado no livro da mineira Ana Maria Gonçalves, que resgata a saga de Luísa Mahin e seu filho Luiz Gama, abordando ancestralidade, escravidão, racismo e outros temas.

Em seu primeiro ano à frente da maior campeã do Carnaval, os carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga mostraram personalidade e trouxeram uma águia com tons em roxo e motivos africanos.

Algumas personalidades marcaram presença no desfile da Portela, como o ator Lázaro Ramos e o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, as atrizes Taís Araújo e Sheron Menezzes, a apresentadora Adriane Galisteu e a cantora Simone.

Na última alegoria, a escola convidou mulheres negras que perderam os filhos para a violência no Rio, entre elas Marinete da Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018; e Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu, grávida morta no Lins, em 2021.

Apesar da beleza plástica, a Portela teve alguns problemas em alegorias que podem fazê-la receber penalizações. O segundo carro teve esculturas retiradas durante o desfile. Outras alegorias também registraram dificuldades para entrar na Sapucaí, atrapalhando a evolução.

Mocidade

A Mocidade Independente de Padre Miguel abriu a noite levantou a Sapucaí com seu irreverente enredo sobre o caju. Um dos principais destaques foi a comissão de frente, que teve uma componente se apresentando na arquibancada. O grupo simulou a "consagração" do caju como símbolo do Brasil, tirando o "posto" da banana.

Em seu segundo trabalho pela Mocidade, o carnavalesco Marcus Ferreira apresentou um bom trabalho estético em alegorias e fantasias. O enredo, que abordava a relação da fruta com tropicalismo e outros aspectos culturais, teve facilidade para ser absorvido.

Um dos autores do samba-enredo, que viralizou no pré-Carnaval, o humorista Marcelo Adnet participou do desfile fantasiado como o pintor francês Debret. Ao lado dele, a atriz Regina Casé representou a pintora Tarsila do Amaral. Outras personalidades presentes foram o ator Douglas Silva e o surfista Pedro Scobby, que participaram do BBB 22, e a cantora Jojo Todynho;

Estreante pela Mocidade, Zé Paulo Sierra comandou o carro de som com maestria. A bateria comandada pelo mestre Dudu também deu um verdadeiro show.