Karol Conká

Rio - Karol Conká foi uma das protagonistas do 'Big Brother Brasil 21', da TV Globo. No entanto, de forma negativa. A rapper deixou o confinamento com 99,17%, recorde de rejeição do reality. Fora da casa, foi duramente criticada pelos internautas, perdeu shows, patrocínios...  Para enfrentar a fase difícil, ela mergulhou na sua arte, fez terapia, olhou para si, recebeu o apoio da família e se agarrou à fé. Um ano depois, a cantora lança seu novo álbum 'Urucum', onde retrata suas dores e deixa suas 'personas' aflorarem. "Tem a 'Jaque Patombá', a Mamacita, a Karol Conká e tem a Karolina", explica. 
A  artista ainda brinca sobre as características de cada uma delas. "A Karoline é mais centrada, a Mamacita é mais imponente, ela gosta de resolver as coisas. Por isso o: 'qualquer coisa me bota no paredão', 'respeita a Mamacita'. A Jaque Patombá tem os ânimos a flor da pele, a língua de chicote cantando, a animosidade", afirma Karol, que lida bem com todas essas personalidades. "Hoje, sim. Fui aprendendo sobre elas na terapia e decidi deixar todas elas cantarem. É uma forma de limpar aquela energia cinza que estava em mim. Hoje consigo entender e controlar elas. Por isso o tal de 'uma nova mulher'. Uma nova mulher, de 36 anos, que viveu uma grande experiência pós-traumática, se reinventou sem precisar se distanciar da essência". 
O álbum conta com 11 faixas. Durante a produção, Karol confessa que se emocionou: "Esse trabalho foi o mais emocionante, profundo e intenso que já fiz. Estava em uma situação vulnerável, fazendo terapia. Então, as coisas que ia aprendendo e observando nas minhas sessões eu trazia pro momento de produção criativa do álbum. É possível notar nesse trabalho que falo sobre situações bem específicas do ano de 2021. Foi uma escolha minha falar sobre isso, externalizar e brincar com as diversas personas que compõe a minha personalidade. Eu e o RDD (Rafa Dias, produtor), produzimos e gravamos tudo no meu estúdio. Em relação as músicas, sempre me inspirei nas minhas vivências, no que está ao redor. Mas esse trabalho, específico, foi a primeira vez que eu deixei as 'personas' cantarem, olhei pra cada uma delas com carinho, respeito, afeto, acolhimento e, dessa forma, descobri que ia conseguir equilibrar elas. Ou eu estou muito pra cima ou muito igual agora. É tudo 8 ou 80. E não aguento mais viver assim. Quero ser o caminho do meio". 
Este projeto foi produzido no auge do cancelamento da cantora. No entanto, ela não teve medo de seu novo trabalho não ser bem recebido pelo público. "A verdade, paciência, humildade...foram peças chaves para lidar com o cancelamento. Não rolou medo, mas o 'caiu a ficha'. É natural que algumas pessoas não queiram mais consumir a minha arte por conta das minhas atitudes no reality. Pensava, é natural, não tenho o que fazer, é seguir. Mas tinha certeza que tinham pessoas para curtir meu álbum, pessoas que não estavam me reduzindo a 30 dias em um programa, onde a pressão e o jogo te induz a discordar dos outros participantes, a rivalizar. Cada um lida de uma forma e eu lidei com a pior possível. Mas sabia que tinham pessoas que me enxergavam além daquilo. Tem meus fãs que me conhecem há anos e sabiam que eu não merecia ser reduzida a aquilo. Que eu merecia um acolhimento pra entender o que estava errado e que precisava de ajuda. Identifiquei o abandono de mim mesma. O medo que tive quando sai (do 'BBB') foi de perder minha saúde mental. Porque sem saúde mental a gente não consegue contar nossa própria história. O que aconteceu dentro do reality poderia ter acontecido com qualquer outra pessoa que tivesse vivido as experiências que vivi ao longo dos anos e precisei vestir daquela soberba ou daquele deboche todo pra me manter firme, porque eu já estava caindo".
Karol reconhece que em alguns momentos fraquejou, mas não deixou se abater. "Tirei forças através da terapia, das redes de acolhimento, mas não adiantava ter tudo isso em volta se eu não entendesse meu interior. Era um momento de usar essa oportunidade para acrescentar algo na minha vida como pessoa, como ser humano. O autoconhecimento trouxe essa força. A partir do momento que me conectei comigo mesmo, o achismo alheio, a verdade dos outros que não era a minha realidade, já não tinha mais efeito. Porque a mesma disposição que tive pra me analisar, analisei também o público que me julgou. Encontrei diversas incoerências no discurso. Não entendi como pessoas que pedem por amor e respeito, não entenderam numa situação como aquela do reality. Apedrejaram o outro. Busquei força também na minha ancestralidade, na história de vida da minha avó, da minha mãe, que passaram por situações pesadas e sobreviveram. Pensei: 'então, posso sobreviver ao cancelamento'. Ele é real, ele afeta mesmo. No meu caso afetou muito. Ainda sim, por mais que eu esteja considerada descancelada, ainda existem pessoas que não querem associar seus nomes com o meu, acreditam que eu vou colocá-las no 'paredão' toda hora que discordarem de mim".
'Sou uma pessoa de muita fé'
A cantora ressalta que é uma pessoa de fé. "Sou e graças a isso não definhei. Sem isso, podia ter psicólogo, amigos, fãs, rede de apoio, sem a fé, não conseguia sair daquilo. Tem que acreditar que vai passar, que é normal do ser humano errar e reconhecer que errou. O que não é natural é errar, não reconhecer que errou e ainda se fazer de vítima. Vítima todo mundo é, vilão todo mundo é, mocinho todo mundo é. Depende dos fragmentos da nossa vida. Se colocar uma câmera na casa de todo mundo por 30 dias e as pessoas se assistirem elas vão ver o quanto são vítimas, injustas, maravilhosas, intensas e vilãs também, porque não?", questiona. 
Sem tabus e filtro
A conversa com Karol Conká é sem rodeios. Como muitos sabem, ela fala sobre sexo, religião, política abertamente. "Eu falo sobre tudo mesmo. Sou sem filtro e isso é muito triste. Porque o filtro ele é necessário. A gente não precisa falar tudo o que pensa, o que está no coração e eu escuto isso desde criança. Minha mãe sempre falava: 'Me poupe dos detalhes'. Mas com o passar da carreira, fui entendendo que esse é o meu jeito. É um jeito que desperta nas pessoas reflexão e o que é ser espontâneo. Qual o problema de falar de sexo? todo mundo faz. Qual o problema de eu falar da minha participação do BBB? Tem gente que acha que vai me incomodar. Não me incomoda, é uma realidade. Acho que eu só preciso aprender a filtrar o que eu sinto pra que eu não precise controlar a minha fala", reflete.
"É importante só saber o que está falando, não deixar a emoção falar mais alto. As vezes a gente acha que sabe de tudo, mas não sabe. Sempre costumei a falar somente do que sei, mas fiquei com essa fama de 'garota problema' depois da minha participação no reality. E entendo que tenho que dosar algumas coisas nas minhas falas, que podem ser mal interpretadas", avalia.
Ameaças de morte 
Em meio aos ataques por sua participação no 'BBB 21', Karol Conká e seu filho, Jorge, de 16 anos, receberam ameaças de morte. Após um ano, a cantora diz que a situação melhorou. "A gente não sofre mais ameaça. Nunca sofri nenhum ataque na rua. Meu filho também não. Só uns bullyings do colégio. Mas expliquei pra ele que é natural, tendo a mãe como figura pública. Falei pra ele que era como se eu tivesse virado um mito ou uma coisa que as pessoas comentam para ganhar likes, para destilar ódio, para aliviar suas frustrações. E que a gente não precisava trazer essa realidade de fora para casa, que aquilo não fazia parte da nossa vida, do nosso cotidiano, essas pessoas não nos conhecem. E essas pessoas não tem coragem de cumprir com o que elas falam nas redes sociais. Porque todos sabem que existem consequências pra qualquer crime que vá cometer", afirma.
A rapper, que desenvolveu síndrome do pânico e chegou a ficar meses em casa, começou a reagir. "Com o passar do tempo passou o medo de sair na rua, de se posicionar. Porque chegou uma hora que parecia que eu não tinha mais o direito de réplica, de reconhecimento, segunda chance. Isso foi bem cruel. Optei pelo silêncio mesmo, fui fazer minhas coisas. Só o tempo mesmo pra provar que esse personagem que se criou em cima de mim dentro do reality, não é uma realidade. Aqui fora não tem pressão de jogo. É outra coisa. Mas trouxe muito aprendizado pra mim e pra minha família", acredita. 
'Nunca me vi casando de véu e grinalda'
Karol e o namorado, Polidoro Júnior, estão juntos há seis meses e compartilham alguns momentos da relação nas redes sociais. Ao ser questionada se os dois pensam em subir ao altar, a cantora pondera: "Não tenho planos de casar. A gente brinca, óbvio. Nunca me vi casando de véu e grinalda. Se um dia eu casar, sentir essa vontade, com certeza,  vou armar um casamento bem diferente, um vestido muito diferente. Mas por enquanto nessa relação, eu estou curtindo bastante, a gente aprende muita coisa um com outro. Minha carreira é uma loucura. Prefiro viver o aqui e agora e guardar essa ansiedade na gaveta. Vou curtir o momento, viver, enquanto ele dura. E se ele durar pra sempre, maravilha".