Dira Paes é a Filó na segunda fase do remake de ’Pantanal’fotos TV Globo / Divulgação

Rio - Dira Paes é uma das grandes estrelas do remake de "Pantanal", da TV Globo. Aos 52 anos, a atriz paraense vive uma das personagens mais emblemáticas da novela e empresta toda sua força e talento para Filó, que na versão original foi interpretada por Jussara Freire. No folhetim, a jovem Filó (Letícia Salles) chega à fazenda de José Leôncio (Renato Góes/Marcos Palmeira) grávida de Tadeu (José Loreto) e lá encontra seu lar, se transformando na verdadeira alma da casa e em uma grande companheira do peão.
"Sem dúvida nenhuma a Filó é um personagem que faz aquela ponte que talvez sejam os dois lados de uma mulher, que é a mulher que vai da prostituta à mãe. Porque o começo da Filó é um começo nesse universo machista que é o Pantanal, o interior do Brasil, tanto quanto a cidade, onde o machismo é mais oculto, vamos dizer assim. Mas quando a gente viaja para esses recônditos do Brasil, a gente vê que esse universo existe e ele vai estar também no Pantanal. Faz parte da nossa discussão dentro da novela", explica a atriz.
"E a Filó é complexa porque é uma mulher que começa na vida muito cedo. Eu vejo esses exemplos em outros lugares do Brasil, meninas que não têm chances, se entregam a prostituição. Só que a Filó é resgatada por um encantamento de um jovem por uma mulher. Eu já vi isso acontecer também, muitos homens se apaixonarem por mulheres da vida. Só que a Filó tem os dois pés no chão. Ela é muito realista e isso faz com que ela traga uma carga, no meu olhar, muito contemporânea. É uma personagem que vem para equilibrar esse universo de masculinidade que habita o Pantanal", completa.
Para Dira, ao contrário do que pode parecer em um primeiro momento, Filó é uma mulher com muitas camadas e segura de si. "Ela e o José Leôncio têm uma relação meio moderna porque eles têm quartos separados, ela tem liberdade total com ele... Eu acho que eles têm uma comunicação de olhar e uma interdependência que a gente sabe que não tem coisa mais casal do que isso, você depender de alguma forma da outra pessoa para se sentir completa", analisa a atriz.
"O próprio nome da Filó é uma alusão a essa camada de proteção (da Filó ao José Leôncio). Ela é um filó mesmo, protegendo ele das coisas. Ela é essa rede que você não percebe, ela não quer reconhecimento. Ela é uma mulher muito evoluída, tem uma autoanálise muito madura. Não precisa do reconhecimento alheio para se sentir forte, para se sentir segura e para se sentir dona de si mesma".
Parceria com Letícia Salles
Na primeira fase do remake de "Pantanal", Filó foi vivida pela estreante Letícia Salles. Dira conta que as duas se conectaram muito durante as gravações e que tentou deixar a colega livre para interpretar a personagem do seu jeito.
"Nós tivemos algumas preparações juntas e foi maravilhoso. Nós ficamos tentando imaginar o que teria em comum entre nós. Falei: 'você tem que ficar livre, não se preocupe, a gente vai estar conectada'. Nós penetramos o Pantanal juntas. A gente teve tempo para conversar, eu sei da vida da Letícia inteira, ela sabe da minha vida. É uma troca que vai ficar pra vida".
Marco da teledramaturgia
Quando "Pantanal" foi exibida pela primeira vez, em 1990, na TV Manchete, Dira tinha apenas 21 anos e estava estreando na TV Globo em "Araponga". A atriz conta que era uma assídua telespectadora da trama e comemora a oportunidade de participar da refilmagem.
"'Pantanal foi um acontecimento. Nunca antes o Brasil tinha sido desnudado da forma como 'Pantanal' se desnudou na televisão brasileira. Nunca antes personagens femininas tinham ficado tão plenas dentro daquela realidade que se apresentava aos nossos olhos, foi um momento marcante pra mim como expectadora e como atriz", diz a artista, relembrando como a personagem Guta, que atualmente é vivida por Julia Dalavia, era considerada uma mulher à frente de seu tempo na época.
"A Guta era uma personagem que vinha com uma força de uma mulher e uma postura que a gente não costumava ter. A gente está falando de liberdade feminina. A novela tinha essas personagens femininas que traziam uma nova mulher para aquela nova década que surgia e a gente entendeu isso rapidamente. Esse é um lugar que ficou muito marcante também para mim, muito mais até que a própria trama. Eu lembro da Guta sendo um farol da modernidade e isso pra mim como espectadora foi muito bom. Foi muito bom para a minha formação como mulher. Esse traço de você se ver dona dos seus desejos, das suas vontades...".
Potência
Dira acredita que tanto o sucesso da primeira versão como o da segunda não são à toa. "'Pantanal' é uma novela muito generosa com os atores. Não tem personagens pequenos, não tem passagens que não sejam percebidas, tudo tem potência", finaliza a atriz.