Você já ouviu falar em anorgasmia ou disorgasmia? A primeira é a ausência de orgasmos e a segunda é a dificuldade de chegar a um orgasmo. Pesquisas apontam que cerca de 30% das mulheres brasileiras nunca chegaram ao clímax durante o ato sexual. É isso mesmo que você acabou de ler: em cada 10 mulheres, três nunca tiveram um orgasmo. Isso não é normal, não é saudável e a boa notícia é que tem jeito. A coluna bateu um papo super interessante com a fisioterapeuta pélvica, especialista em Saúde da Mulher, Mônica Lopes, que explicou as principais causas que provocam essa dificuldade e também detalhou as diversas possibilidades de tratamento.
Por que existe um percentual tão grande de brasileiras que nunca chegaram ao orgasmo?
No Brasil, cerca de 40% das mulheres nunca se masturbaram, isso quer dizer que elas não conhecem seu corpo, não conhecem suas áreas erógenas, o caminho a ser percorrido até o orgasmo. Elas acreditam que fazê-las chegar ao orgasmo é uma tarefa de sua parceria (seja ela heterossexual ou homossexual) e isso é um erro porque o orgasmo é uma responsabilidade da mulher. É claro que numa relação heterossexual se o parceiro tem dificuldades de ereção ou ejaculação rápida, isso pode dificultar que a mulher chegue ao orgasmo.
Como agir nesses casos em que o parceiro tem alguma dificuldade?
Infelizmente os casais não conversam muito sobre sexo, isso ainda é um tabu nos dias de hoje. As pessoas tendem a acreditar que se apontarem ajustes num relacionamento, o outro pode achar que não existe mais sentimento. Eu sempre digo às minhas pacientes que é exatamente o contrário, se o parceiro ou parceira quer falar sobre ajustes na sexualidade do casal, é porque ainda existe interesse. O diálogo e a cumplicidade são muito importantes pra uma vida sexual saudável.
Existe uma faixa etária em que seja mais difícil chegar ao orgasmo?
A dificuldade de chegar ao orgasmo é mais comum em mulheres jovens por conta da inexperiência e também nas mulheres a partir de 60 anos, que estão na fase da menopausa, com queda na produção de estrogênio e diminuição da lubrificação.
Existem motivos externos que podem dificultar o orgasmo?
Sim. As causas de origem comportamental e social. É importante entender como foi a criação dessa mulher que não atinge o orgasmo, a tendência é que uma educação repressora e castradora, gere crenças limitantes e contribua negativamente para que a mulher tenha prazer. A questão religiosa também é um fator importante porque em muitos casos o sexo é visto como pecado.
Quais são as causas físicas que podem atrapalhar?
A menopausa é um período em que existe uma diminuição dos hormônios ligados à sexualidade e desejo, e também pode ocorrer um ressecamento vaginal, assim como no pós-parto e na gestação. Isso é fácil de ser contornado com o uso de um lubrificante íntimo e nesses casos, eu sempre indico os óleos de origem vegetal por serem mais naturais e não fazerem mal para a mucosa vaginal, como por exemplo, o óleo de coco, semente de uva ou girassol.
Outra causa física importante é a fraqueza do músculos do assoalho pélvico (períneo). Uma das atribuições desse músculo é a função sexual, estão ligados diretamente ao prazer feminino. As mulheres que apresentam esse problema devem procurar a fisioterapia pélvica, que é capaz de coordenar e fortalecer a musculatura do assoalho por meio de exercícios pélvicos e de alguns aparelhos. Em muitos casos, a fisioterapeuta pélvica trabalha em conjunto com a psicologia e a ginecologia. O importante é que as mulheres saibam que é totalmente possível chegar ao orgasmo. Temos diversas ferramentas para isso.
Que ferramentas são essas?
A fisioterapia pélvica é muito importante, tem respaldo científico e é mais eficaz que o pompoarismo porque os exercícios são individualizados. Fazemos uma avaliação prévia dessa musculatura e a partir disso, é feito um monitoramento.
Quando se fala em fisioterapia, a gente pensa em aparelhos. Existem aparelhos para fisioterapia pélvica?
Sim. Vou explicar como cada um deles funciona:
Biofeedback – é um sistema que permite observar a contração do assoalho pélvico por meio de uma tela de computador. Desta forma a mulher é capaz de entender a coordenação desses músculos. Ela pode fazer os exercícios pélvicos de maneira lúdica, como se fosse um jogo de videogame.
Eletroestimulação pélvica – é semelhante a uma espécie de corrente russa, totalmente indolor, e indicada para as mulheres que têm dificuldades em contrair o assoalho pélvico ou que estão na menopausa, apresentando fraqueza ou flacidez nessa área.
Cones vaginais – são pesos vaginais que atuam como uma verdadeira musculação. A mulher aprende esses exercícios com a supervisão de um profissional e depois pode, inclusive, fazer em casa.
Sexualidade é um assunto super extenso, falar da importância do orgasmo é falar de saúde. Se você quer saber mais sobre esse assunto, a Dra. Mônica Lopes tem um canal no Youtube e um perfil no Instagram que se chama @monicalopesmuitoprazer. Informação nunca é demais.