Glamour Garcia: "Ser atriz trans no Brasil é um grande orgulho"Divulgação

Nesta terça-feira especial, Dia Internacional Contra a Homofobia, nosso “mulherão” recebe a querida atriz Glamour Garcia, uma mulher trans que conquistou reconhecimento e sucesso na carreira e que inspira outras pessoas do movimento LGBT a não desistirem dos seus sonhos. Símbolo da luta contra a homofobia, a artista é pura doçura e carisma.
Aos 34 anos, natural de Marília, em São Paulo, Glamour hoje sente muito orgulho da carreira e das conquistas que teve ao longo da vida. Ela nasceu Daniel e após o processo de transição escolheu ser chamada de Daniela. Como artista, adotou o nome que mais reflete o seu jeito meigo e doce de ser: “Glamour”. Após viver a personagem Britney, na novela “A Dona do Pedaço”, recebeu o prêmio de atriz revelação.
Militante da luta contra o preconceito e pelo movimento LGBT, a atriz está prestes a estrear um novo momento na carreira, será apresentadora do primeiro Reality LGBT do mundo. Sucesso e fama não mudaram a sua essência e ela fala sobre o seu lado simples, mas também do seu jeito fervoroso de levar a vida.
Como é ser uma atriz transexual?
Ser atriz trans no Brasil é um grande orgulho. A Minha carreira evoluiu junto com o crescimento do próprio movimento LGBT. Nos últimos 10 anos principalmente. Eu realizei esse sonho de ser atriz e representar, mas também sei que tenho privilégio de ser representativa e de estar na vida das pessoas, graças aos personagens maravilhosos que eu pude viver. É emocionante. O preconceito é estrutural, ele é presente sim, mas eu como militante e atriz fui construindo de forma involuntária, alguns comportamentos na carreira que vão contra o preconceito.
Como foi o seu processo de transição?
O meu processo de transição foi acontecendo ao longo da minha vida, em várias etapas. Costumo falar de processos e existência. Não é uma transformação, a gente não está deixando de ser quem a gente é para ser outra pessoa. Você está vivenciando uma experiência que é contínua. Eu passei por várias questões de preconceito, de sentir, avaliar e vivenciar isso. Eu tenho 34 anos e quando mais nova, isso não falado abertamente, nem vivenciado nas famílias. Tive sim alguns desafios. Tive o meu momento clássico de “sair do armário”, algo que foi forte, mas hoje eu entendo que foi a melhor coisa. Graças a esse momento posso vivenciar minhas conquistas e minha liberdade. O amor familiar é a maior conquista de todas nesse sentido, pois é a segurança e meu porto seguro. Fico muito feliz de ter tido esse processo com a presença e apoio dos meus pais, familiares e amigos.
Você já sofreu agressões em um relacionamento, mas teve a coragem de denunciar. Qual recado para mulheres que também sofrem com isso?
A situação da mulher que é vítima de violência é complexa. Conviver com o abusador é difícil e muda a nossa vida e a nossa capacidade de interagir com as pessoas. Acho que a primeira questão é entender que você precisa de ajuda. Buscar ajuda da forma mais segura, sem que isso te coloque em risco, mas nunca deixar de pedir ajuda. Essa situação pode evoluir para casos graves piores e pode levar à morte. Não se pode fechar os olhos para os riscos que a gente corre como mulher, seja uma mulher cis ou trans. Procurar as autoridades e denunciar é muito importante.
Como você é na intimidade?
Eu sou uma pessoa muito simples, sou simplicidade pura. Já fui mais vaidosa. Essa pandemia mostrou o quanto precisamos evoluir em amor e união. Sou do interior, humilde e simples, mas também sou o fervo (risos). Eu também dou trabalho e pinto o sete.
Quais são os próximos projetos?
Meu próximo projeto é a minha participação como apresentadora do primeiro Reality Show LGBT do mundo, que se chama “Cruzeiro Colorido”. Será gravado em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Ainda está em fase de pré-seleção e estão aceitando inscrições. Esse Reality será um babado! Começa em agosto.
Qual seu recado para todas as mulheres trans?
Meu maior sonho é que a gente tenha paz. Que a gente nunca desista dos nossos sonhos, profissionais, pessoais e amorosos. Que a gente siga batalhando e lutando. Existindo, perseverando, conquistando o nosso espaço. Ainda existe muita violência contra as mulheres trans, mas a gente é persistente. A gente é maior que isso, somos superiores a esse preconceito todo. Temos a benção de hoje poder comemorar os nossos direitos.