A advogada Sheila Lustoza, especialista em direito criminalDivulgação
Eu vim para o Rio cursar faculdade de biomedicina. Quase no final da faculdade, percebi que queria uma profissão com “mais emoção” (risos). Deixei e Biomedicina e fui cursar direito na Universidade Candido Mendes. Meu pai faleceu em 1998 e minha mãe não tinha condições de arcar com o curso particular, mas eu não desisti! Fui operadora de telemarketing para conseguir pagar a faculdade e depois entrei para o programa de financiamento, o FIES. Assim me formei. Quando era estagiária confidenciei ao meu chefe que, na verdade, queria ser advogada criminal. Ele encaminhou meu currículo e fui contratada para um estágio na área em 2002. De lá para cá, nunca mais deixei a advocacia criminal, minha vocação. Nunca esqueço a frase da minha mãe quando lhe contei sobre a minha decisão em ser advogada criminal: “Mas minha filha, precisava de tanta emoção na profissão?” (risos).
Logo que me formei em 2005, me tornei sócia do escritório do qual fui estagiária. Conclui meu mestrado em 2012 e estudei sobre Justiça Penal Negociada. Falo que recebi um presente de Deus, porque em 2010 já comecei a estudar o assunto que seria, em 2014, a base dos processos da conhecida e nominada Operação Lava Jato. Em 2019 sai daquela sociedade e fundei o escritório que hoje leva meu nome. Tenho uma equipe de sócios maravilhosos.
A advocacia criminal é um sacerdócio e me emociona muito. Eu sou apaixonada pelo ser humano, acredito no ser humano. Sou aficionada pela liberdade. Para mim, o maior desafio é não me envolver emocionalmente com as causas. Eu sofro com meus clientes, seus familiares. Ser mulher em uma profissão tão masculina também tem seus grandes desafios, mas nunca me disseram que seria fácil.
Eu me considero uma pessoa feliz e privilegiada. E quanto maior o meu privilégio, maior e minha responsabilidade. Então esse é o segredo: receber, transformar e partilhar!
Eu amo minha família, meus filhos são minha vida. Eu sou apaixonada pelo meu marido. Sabe uma coisa que amo: o carnaval, a avenida e claro, a Mangueira! Eu também adoro uma festa. Tudo para mim é motivo de comemoração. Eu pisco o olho e já estou armando uma festa, quero sempre encontrar e estar com meus amigos. Costumo dizer que de tédio eu não morro.
As mulheres são vítimas de vários tipos de violência: doméstica, psicológica, institucional, no ambiente de trabalho e por defender suas posições e por serem livres. Eu atuo intransigentemente na defesa das mulheres vítimas. A maior parte das mulheres vítimas, não se vitimizam, esse fato é muito interessante. As mulheres são seres humanos maravilhosos, muito fortes. Eu sempre as apoio e faço ver que, na verdade, o segredo de sair de qualquer ciclo de violência está de dentro para fora. Eu as encorajo a sair desse ciclo, com cautela porque coragem é diferente de destemor.
Uma vez eu escutei uma frase que quem planta tâmaras, não as colhe porque elas levam mais de 80 anos para a colheita. A minha mensagem é que elas (as mulheres) sejam e estejam com quem e onde quiserem. Não importa se irão colher e viver de fato o que anseiam, o que importa é o que vão deixar. Devemos cultivar ações que não sejam apenas para nós, mas que possam servir para todos no futuro.
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