A atriz Maria CeiçaReprodução

Carioca, criada na Baixada Fluminense, a artista Maria Ceiça tem muitos talentos, atriz, cantora e apresentadora, já participou de muitos trabalhos de sucesso na TV, no cinema e no teatro. Formada pela Escola de Teatro Martins Pena, iniciou sua carreira profissional em 1989 e não parou mais. Ganhadora do Troféu Andorinha, do Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa em 2006, também foi a homenageada especial no African Film Festival em Nova York, em 2005.
Muito além de uma artista, ela também atua na luta contra o racismo e contra a violência de gênero. Defende mais espaço para artistas negros e inspira outras mulheres com sua história e sua carreira. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse mulherão?
Como foi a sua base familiar?
Tive uma infância tranquila, com uma educação bem rígida e meu pai sempre destacou muito a importância da educação na vida de, negros que somos. Morávamos em Duque de Caxias e me lembro bem da minha vontade de brincar com a vizinhança, de pés descalços pela rua, mas meu pai não deixava (risos). Para nós, eu e minha irmã mais nova, Christina, a obrigação era estudar, ler, se educar. Apesar de sempre cantar e fazer teatro desde pequena, na igreja que frequentávamos, nunca fui incentivada a pensar no lado artístico e consequentemente por ser sempre boa aluna, me recomendaram cursar escola técnica e ter uma profissão. Assim, me formei em técnica de eletricidade e fui trabalhar na mesma empresa que meu pai. Depois de casada e já com filhos, me dei conta que estava em um lugar que não me reconhecia. Depois de trancar a faculdade de engenharia duas vezes, resolvi buscar o que realmente me emocionava e tocava fundo no meu coração. A arte de representar. Cursei então a Escola de Teatro Martins Pena e desde 1989  sou atriz, com muita paixão pelo que faço.
Você é mãe de dois lindos homens, como foi a criação deles?
Criei meus filhos com dificuldade pois me separei do pai deles logo no início da minha carreira. Eles amadureceram muito vivenciando o dia a dia de uma mulher negra, na luta pelo trabalho, dignidade e reconhecimento, com todas as "artimanhas" que o racismo e o preconceito na nossa sociedade nos envolve.
O que ainda pensa fazer na carreira artística?
Apesar de muitos trabalhos de sucesso, ainda quero fazer muito mais. Tenho muito a representar, muita bagagem que preciso explorar. Infelizmente, longe de ser ingrata a tudo que construí, não tenho uma carreira de trabalhos contínuos, apesar do sucesso nas personagens que interpretei. Aliás, essa é uma das perversidades que o racismo nos traz: poucas possibilidades de atuar continuamente, por falta de personagens relevantes negros nas novelas, filmes, etc.
Qual o seu trabalho preferido? 
Gosto muito da televisão, do cinema e do teatro e ao longo da minha carreira tenho atuado nesses segmentos. É difícil dizer qual o trabalho preferido, pois cada um que faço, faço com muita paixão e entrega. Tenho muito orgulho dos filmes que fiz, das novelas, das peças porque em todos eu quis muito fazer. Essa escolha para mim é fundamental. Escolher dizer, ser alguém que pode influenciar, fazer refletir, divertir e  emocionar é muito especial para mim. Sou muito grata a Deus pelo meu trabalho, minha profissão e pelo  meu talento. Além de atriz, sou cantora, apresentadora e agora também dubladora.
Recentemente a atriz Claudia Raia anunciou uma gravidez aos 55 anos. Várias mulheres com mais de 50  estão no auge da vida pessoal e profissional. Como é essa fase para você?
Essa fase da mulher acima dos 50 é mágica. Maturidade plena, sabedorias adquiridas e os desejos e alegrias continuam em plena aceitação. E os avanços na área da saúde, medicina e estética, estão cada vez mais expandindo a possibilidade de uma longevidade com boa qualidade de vida.
Você também tem um trabalho na luta contra o racismo e contra a violência de gênero. Pode falar sobre esses temas tão importantes?
Por ser uma mulher negra e atriz, já sou uma atuante natural nas questões raciais e de gênero, pois é impossível não ser parte desse tema. Principalmente pelas dificuldades em ser atuante, com poucos personagens negros na TV e no cinema. Senão estereotipados como personagens subalternos, escravos e bandidos que são delegados aos atores negros. Ainda que eu tenha tido a sorte de fazer personagens fora desses estereótipos, é inegável a falta de visibilidade que encontramos. A população negra sempre esteve longe desses acessos, de protagonismo, da falta de reconhecimento e de reconhecimento de si mesmo, pela falta de não ter seus pares.