Lei determina tombamento do Terreiro de Joãozinho da Goméia, em Caxias, devido a sua importância histórica e cultural. Local é considerado sagrado pelos praticantes de religiões de matriz africana
Lei determina tombamento do Terreiro de Joãozinho da Goméia, em Caxias, devido a sua importância histórica e cultural. Local é considerado sagrado pelos praticantes de religiões de matriz africanafotos Divulgação
Por O Dia
Duque de Caxias - A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro aprovou o projeto de lei Nº 3814/2021, que prevê a inclusão de 27 de março como o Dia Estadual de Conscientização contra o Racismo Religioso — Dia Joãozinho da Goméia — no calendário oficial de datas comemorativas do estado. Com autoria da deputada estadual Mônica Francisco (Psol), o projeto também inclui uma série de ações de conscientização para o respeito à diversidade religiosa e de credo, a serem realizadas, anualmente, pelo Poder Executivo. O governador em exercício, Cláudio Castro, tem até o dia 29 de abril para sancionar ou vetar o PL, que tramita na Assembleia Legislativa desde o mês de março.

Caso haja sanção, caberá ao Poder Executivo promover atividades educativas e campanhas em escolas e universidades — públicas e privadas —, e espaços como meios de transporte, praças e teatros. Além disso, serão produzidas cartilhas e cartazes educativos de estímulo à liberdade de culto.
A implementação, divulgação e acompanhamento das ações poderá ser de responsabilidade da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, assim como podem ser integradas pela Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Alerj.

Em março, a Alerj aprovou o processo de tombamento, por interesse histórico e cultural, do local onde funcionou o Terreiro da Goméia, liderado por Joãozinho da Goméia até sua morte, em 1970, no município de Duque de Caxias. O projeto também aguarda sanção do governador.

Quem foi Joãozinho da Goméia?
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João Alves de Torres Filho, conhecido como Joãozinho da Goméia ou Tata Londirá, sua dijina — nome iniciático recebido pelos praticantes do Candomblé de origem bantu —, foi um sacerdote que marcou a história das religiões de matriz africana, não somente em Duque de Caxias, onde se consagrou, ou em Salvador, onde viveu até o início da década de 40. Sua representatividade se espalhou pelo Brasil, o tornando um dos nomes mais conhecidos dentro do culto.

Negro, homossexual e nordestino, o candomblecista nasceu no município de Inhambupe, Bahia, e fundou seu primeiro terreiro na capital baiana. Anos depois, migrou para o Rio de Janeiro, onde inaugurou a casa que o celebrizou, no bairro Vila Leopoldina, em Duque de Caxias — o consagrado Terreiro da Goméia, em referência à Rua da Goméia, em Salvador, onde estava localizado o primeiro terreiro.

O pai de santo Joãozinho da Goméia morreu no ano de 1971, aos 56 anos. Pouco tempo depois, as atividades do terreiro foram encerradas. Durante anos, o espaço onde funcionava a casa de candomblé — hoje em processo de tombamento — esteve abandonado. O legado permanece através de seus descendentes espirituais, atuantes na luta pela preservação e pelo reconhecimento do Terreiro da Goméia como patrimônio cultural.