Vitor Del Rey, presidente da ONG Instituto GuettoDivulgação

Uma experiência de sucesso na área de educação financeira na África começará a se implementada no Brasil. O Instituto GUETTO, em parceria com a plataforma global Paxful, pretende formar capacitadores em educação financeira de pessoas negras, com ênfase no uso de criptomoedas. O projeto tem como objetivo fortalecer aqueles com pouco ou nenhum acesso aos serviços financeiros tradicionais, estimulando também o empreendedorismo.
O curso terá duração de cinco semanas. Os 12 selecionados receberão um incentivo no valor de R$ 1.300. As aulas abordarão questões como educação antirracista, teoria e prática sobre criptomoedas, inglês e disciplinas optativas sobre análises de dados. Para a conclusão da formação, cada aluno ministrará palestras à comunidade negra, como forma de multiplicação do conhecimento.
Segundo o presidente do Instituto Guetto, Vitor Del Rey, promover a formação financeira das pessoas negras com base nas criptomoedas é uma iniciativa inédita na América Latina. Ele destaca que o curso busca, em primeiro lugar, resgatar o sentido original dos criptoativos como ferramenta de democratização da geração de riqueza.
"Nossa ideia é, em primeiro lugar, permitir que as pessoas pretas acessem um tipo de informação pouco disseminada e tenham condições de organizar a própria vida financeira. Os criptoativos surgiram como uma maneira democratizar a geração de riqueza. Depois, esse sentido foi alterado. Queremos mostrar que as moedas digitais podem, sim, ser uma ferramenta importante para uma parcela da população que muitas vezes sequer tem acesso aos serviços bancários e financeiros tradicionais. Isso deu muito certo em diversos países africanos. Agora, trazemos essa metodologia para o Brasil, em um projeto inédito não só no país, mas na América Latina", explica Del Rey.
Contra golpes
Para o presidente da ONG, além de desmistificar a imagem das criptoativos, o curso fornecerá informações para que as pessoas não caiam em golpes. "O GUETTO trabalha com o conceito de ‘futuro no presente’. Quando as tecnologias se tornam disponíveis para os pretos e as pretas, na maioria das vezes já não novidade. Queremos inverter essa lógica", ressalta.
Segundo Del Rey, cada aluno do curso terá condições de repassar o conhecimento para 300 pessoas. A ideia é que as informações circulem nas comunidades e atinjam “um número cada vez maior de pretos e pretas”. Nesta perspectiva, um dos focos consiste em preparar a pessoa para que não caia em golpes que prometem ganhos altos e de forma muito rápida.
“Entendendo como funciona o mercado de criptomoedas, aquele morador lá de Japeri saberá identificar, por exemplo, um golpe de pirâmide financeira com bitcoin, algo que se tornou comum ultimamente. Ele perceberá que pode usar o criptoativo no seu dia a dia, que é algo simples, seguro e fácil, proporcionando liberdade financeira e transformação social”, explica.
Perfil dos candidatos e diversidade
Para a primeira turma do curso, a ONG definiu o perfil do candidato. A seleção avaliará a capacidade do inscrito a capacidade do inscrito em ministrar palestras e aulas, além de levar em conta o nível de familiaridade com o universo das criptomoedas. O candidato deve ser negro e enviar um vídeo motivacional. Ele também passará por entrevistas individuais.
Outra característica importante, segundo Del Rey, é a busca pela diversidade. "Reservamos 40% das vagas para a população LGBTQIA+ e 60% serão divididas entre homens pretos e mulheres pretas. "Garantir a diversidade é uma preocupação permanente no Instituto Guetto. Por isso, quisemos garantir 40% das vagas para pessoas LGBTQIA+. É uma forma inovadora de inserção social e contribui no combate à discriminação", explica Del Rey.
As vagas serão divididas entre Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. As duas primeiras cidades, pelo histórico de concentração da população negra. Segundo Del Rey, a escolha da capital paulista se deu por ela ser o centro financeiro do país e também para, mais uma vez, ressaltar a importância da diversidade:
"Qual é o perfil de quem trabalha no mercado financeiro de São Paulo? São homens e mulheres brancos, com um determinado tipo físico e um jeito característico de se vestir. Não há diversidade. As vagas para São Paulo representam uma iniciativa para começar a mudar essa realidade, quebrar essa barreira colocada para os pretos e pretas."
A ONG busca atrair para o curso um público com oportunidades escassas no campo da educação financeira. Del Rey ressalta que, "é muito importante ter pessoas de Japeri, Queimados, da Zona Oeste, áreas distantes do Centro do Rio".
"Uma pessoa preta da Maré ou do Complexo do Alemão tem acesso a uma série de iniciativas e projetos interessantes. Quem mora na Baixada Fluminense ou na Zona Oeste não tem a mesma oferta. É importante chegar até essas áreas", diz.
Como se inscrever
As inscrições para o curso de educação financeira já estão abertas. Os interessados em participar do processo seletivo devem se inscrever neste link.
Cronograma
Até 15/7 – Inscrições
De 8 a 25/7 - Dinâmica de grupos
De 25 a 27/7 – Entrevistas individuais
Dia 30/7 – Divulgação dos nomes dos selecionados
Dia 1/8 – Início do curso
Dia 2/9 – Encerramento das aulas