Por victor.abreu

Rio - Não são poucas as incumbências de Ricardo Leyser, secretário executivo do Ministério do Esporte. O ministro George Hilton tomou posse em janeiro, a pouco menos de dois anos do início dos Jogos Olímpicos. Deputado federal, radialista, apresentador de televisão e pastor da Igreja Universal, Hilton tinha experiência praticamente nula no âmbito esportivo antes de ser indicado. Obviamente, Leyser, que começou a trabalhar com esporte na gestão de Marta Suplicy na prefeitura paulistana, em 2001, passou a ser considerado o homem-forte da pasta. Ele é responsável por monitorar não só o erguimento das instalações do Rio como também a preparação do chamado Time Brasil, que tenta cumprir a ambiciosa meta, estabelecida pelo COB, de se colocar no top 10 no número de medalhas em 2016.

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O Secretário de alto rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo LeyserDivulgação / Ministério do Esporte

A um ano do início dos Jogos, Leyser é todo otimismo. Segundo ele, as preocupações já se deslocam das obras para as operações. Quanto aos resultados esportivos, o secretário não só considera que o Brasil pode alcançar o objetivo em 2016, como também pode melhorar em 2020. "Tudo aponta para um momento de esperança", diz.

iG: Como estão os preparativos para a Olimpíada? Onde residem as maiores fontes de preocupação?
Ricardo Leyser: A gente começa a entrar numa fase em que deixa de se preocupar tanto com obras e passa a se preocupar mais com operações. Não existe nenhum grande atraso no horizonte. Passamos a lidar, por exemplo, com operação de fornecimento de energia elétrica, que é bem complicada, com transporte animal, operação de aeroportos, chegada de chefes de estado e percurso da tocha olímpica, que vai passar por mais de 300 cidades. É claro que temos que continuar prestando atenção nas obras, mas o risco vai se deslocando. Não temos nenhum indicador de que algo não vá ficar pronto a tempo dos eventos-teste. Não tem nada rigorosamente exato no cronograma. Ele indica que uma obra está 70,3% pronta, mas pode ser que isso represente 70%, por exemplo, na realidade. O importante é que não temos nada com índice de conclusão de 25% no momento. Não há nada que achemos que não vá ficar pronto.

Como o COI está avaliando os trabalhos? O que chega para nós sempre são declarações com viés político, diplomáticas. O que está sendo discutido internamente?
A escolha da sede da Olimpíada é uma eleição. Tinha gente que era contra o Rio e continua não gostando. Existe má vontade de A, B ou C. E tem gente que votou no Rio. A alguns interessa tirar as regatas de vela da Baía de Guanabara, porque isso é bom para os adversários do Brasil. A raia de Londres era favorável aos velejadores britânicos, a raia de Sydney era favorável aos australianos, e a raia da Baía é favorável aos brasileiros. Isso é o fator casa.

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Por falar nisso, a despeito de haver o interesse dos adversários de tirar a competição da Baía, não é de fato constrangedora a situação?
A despoluição é uma tarefa do governo do Estado do Rio, para a qual a União destinou recursos. É inegável que um volume muito grande de esgoto foi tratado. Se antes tínhamos um índice de 11%, ele se elevou para cerca de 50%. Um progresso muito grande foi alcançado. O Estado está refinando seus cronogramas, é um grande esforço. Até quando vai chegar esse índice quando começarem os Jogos? Talvez não se atinjam os 80%. Mas os projetos continuarão em andamento após os Jogos e vão permitir que se supere esse índice. Não sabemos quando, existe uma interrogação. Talvez no final de 2017. Mas a despoluição continuará e ficará como legado dos Jogos. Nunca houve um avanço como este.

Voltando à esfera esportiva - como você avalia hoje a possibilidade de se alcançar a meta estipulada pelo COB, de que o Brasil atinja uma colocação no top 10 no número total de medalhas em 2016? Em que medida o desempenho no Pan fornece indicadores de que esse objetivo será ou não atingido?
Os indicadores que os Mundiais desde 2013 nos deixam é de que temos potencial sim para atingir esse objetivo. O planejamento está sendo cumprido. Mas não podemos esquecer que se trata de uma competição esportiva. Cada vez fica mais difícil conquistar uma medalha olímpica. Cada vez mais países conquistam medalhas. Veja o caso do Irã, por exemplo. É um país que tem ótimo trabalho no taekwondo, e tantos outros emergentes esportivamente podem ser citados. A despeito disso, todos os indicadores nos dizem que temos boa perspectiva de alcançar o objetivo.

Existem planos de que o investimento feito no esporte olímpico no atual ciclo seja direcionado para o esporte de base e social no próximo. Eles serão mesmo colocados em prática?
Essas fronteiras entre esporte de base e esporte de alto rendimento não são tão fixas. Veja que os centros de treinamento que construímos servem às seleções principais, mas servem também às seleções de base. Você vai ao centro de treinamentos de saltos (de atletismo) e vê que há jovens das comunidades locais aprendendo a praticar.

Como ficam as pespectivas para o desempenho esportivo do Brasil depois de 2016, num cenário altamente provável de redução de investimento governamental?
Os atletas das gerações mais novas poderão atingier resultados melhores porque já iniciarão sua vida esportiva em condições muito melhores. Veja o caso dos jogadores de basquete do NBB (Novo Basquete Brasil). Eles estão jogando em ginásios com piso flutuante. Quando chegarem aos 30 anos, terão sofrido muito menos impacto nas articulações. Os atletas dos saltos ornamentais treinam em ginásio seco, para sofrer menos o impacto da água. As novas gerações vão continuar se beneficiando desse investimento que já está feito, e terão condições de obter melhores resultados. Não trabalho com a perspectiva de redução de investimento na preparação esportiva, apenas na construção de estruturas, e a estrutura já está construída. A redução que vai haver em obras em nada vai comprometer a preparação. Alguns dos nossos técnicos preveem que nosso desempenho em Tóquio, em 2020, poderá ser até superior ao do Rio, o que não é pouco, porque não teremos o fator casa lá. E já vemos essa nova geração. Na natação, por exemplo, temos o Matheus Santanna, a Etiene Medeiros, o Bruno Fratus. Não vivemos mais apenas de nomes como Cesar Cielo e Thiago Pereira. No basquete do Pan, não estavam os medalhões, jogadores mais experientes como Alex e Guilherme Giovannoni, e fomos muito bem. Tudo aponta para um momento de esperança. O que a gente vê são novas gerações surgindo.

Muitos dos progressos esportivos alcançados em várias modalidades foram proporcionados pela contratação de técnicos estrangeiros. Vai haver verba depois de 2016 para manter essa política? Houve uma transmissão de conhecimentos aos treinadores brasileiros que torne a importação de treinadores menos necessária?
Nossas projeções apontam para um cenário de sustentabilidade dessa política. Esse investimento vai continuar sendo necessário. Já viajei por alguns centros de treinamento e fiquei impressionado com a quantidade de técnicos norte-americanos na Universidade de Esportes de Pequim, por exemplo. Isso é uma coisa dinâmica. Você pode evoluir em alguns esportes e até prescindir de alguns treinadores estrangeiros, mas pode ter que recorrer a eles em outras.

* Reportagem de Alessandro Lucchetti para o iG

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