O empresário Neymar Silva Santos estará neste fim de semana em Paris para discutir a transferência do filho, Neymar, do Barcelona para o Paris Saint-Germain. Os números da transação são absurdos. A multa rescisória está estipulada em 222 milhões de euros (R$ 810 milhões) - a maior da história - e o time francês ofereceu salário anual ao atleta de 40 milhões de euros (R$ 148 milhões), o maior do mundo.
Neymar, obviamente, foi seduzido pelos valores. O salário de R$ 148 milhões supera os 38 milhões de euros (R$ 138 milhões) do argentino Carlitos Tevez na China. É mais que o dobro dos 15 milhões de euros (R$ 54 milhões) que ele próprio recebe no Barcelona. O valor é superior até ao que ganham os donos do mundo: Lionel Messi embolsa 24 milhões de euros (R$ 87 milhões) e Cristiano Ronaldo, 21 milhões de euros (R$ 76 milhões).
O brasileiro aprovou também o projeto francês que o colocaria como o número 1 da equipe e grande trunfo para a conquista da Liga dos Campeões da Europa. No salto que o clube francês pretende dar, Neymar é a mola mestra em um contrato de cinco temporadas. Em Barcelona, Neymar estará sempre à sombra do argentino Messi. Isso pesa para o atacante.
Com a inclinação de Neymar pelo "sim", o desafio dos franceses agora é sentar à mesa com Neymar pai. "Ele é uma pessoa gananciosa", disse um advogado que acompanhou de perto a ascensão do craque. "Colocou Neymar numa fria porque queria mais dinheiro", completou.
A "fria", no caso, são as suspeitas de irregularidade na transferência para o Barcelona. Em junho, a Justiça espanhola inocentou o atacante, seus pais e a empresa N&N da acusação de fraude e simulação de contratos movida a partir de uma denúncia do fundo de investimentos brasileiro DIS. A segunda parte da acusação, de corrupção entre particulares, está mantida. O jogador e seus pais vão ter de comparecer a uma audiência na Espanha ainda neste ano.
O Barcelona anunciou a contratação de Neymar por 57,1 milhões de euros (R$ 208 milhões). Mas a Justiça espanhola calcula que a transação foi de 83,3 milhões de euros (R$ 303 milhões). A DIS considera que Neymar e o Barcelona ocultaram o valor real.
Neymar pai não é do tipo que dá soco na mesa. Ele mantém a calma e fala baixo. Toma cuidado com os erres e esses no final das frases. Mas dificilmente cede e gosta de fazer exigências. O valor do salário de Neymar, por exemplo, os 40 milhões de euros, foi uma exigência dele. Um ex-funcionário do Santos disse que ele se parece com um trator. Por meio de sua assessoria, o patriarca afirmou que "não está fazendo agenda de imprensa".
Em junho, Neymar pai conseguiu um registro na CBF para ser um intermediário, ou seja, agente de jogadores. Seu principal cliente é seu filho, mas ele já auxilia o santista Lucas Lima.
Sua maior preocupação na negociação com o Paris Saint-Germain é a questão tributária, que causou imbróglio até no Brasil. As empresas de Neymar haviam sido condenadas pela Receita Federal a pagar R$ 188 milhões por supostas irregularidades, mas um recurso reduziu o valor para menos da metade. O presidente do PSG, o catari Nasser Al-Khelaifi, prometeu o fim dos problemas fiscais.
A fama de negociador implacável - outro adjetivo que aparece com frequência - é o resultado de uma vida difícil. Quando encerrou a carreira de ponta em times da segunda divisão, aos 32 anos, ele voltou para a casa dos pais. Morava com a esposa Nadine e os dois filhos em um cômodo de 2 por 3 metros quadrados. Neymar Júnior tinha seis anos.
O carro da família era uma Kombi, cujo assoalho era um pedaço de madeira. Conseguiu um emprego na CET de Santos e chegou a ser chefe de manutenção. Parou de trabalhar em 2009, quando a carreira de Neymar deslanchou. Agora negocia outro salto milionário.
Reportagem dos repórteres Ciro Campos e Gonçalo Junior