Anderson Santos é diretor financeiro do VascoArquivo pessoal
"O pessoal da Matix, que intermediou o negócio, me chamou para almoçar porque tinha me indicado para trabalhar em um clube do interior de São Paulo, a Inter de Limeira. Estávamos conversando muito sobre isso e um dos sócios da empresa, que é vascaíno, queria muito apresentar a 777 Partners para o Vasco. Ele me contou sobre a empresa e eu consegui marcar uma reunião com o vice-presidente de finanças, o Adriano Mendes. Almoçamos duas vezes e de lá pra cá as negociações foram avançando até chegar ao dia de hoje. Eu fui o cupido, que apresentou os dois no início do namoro. Agora com o casamento, eu fico muito feliz. A gente conseguiu fechar todo o ciclo que representa uma mudança na história do clube".
O acordo prevê o investimento de R$ 700 milhões em três anos. Vale lembrar que os R$ 70 milhões do empréstimo-ponte feito em fevereiro já foram descontados desse montante. O primeiro aporte, de R$ 120 milhões, será feito logo após a transferências de 70% das ações. Além do investimento, a dívida de até R$ 700 milhões do clube associativo foram assumidas pelo Vasco SAF. Para Anderson Santos, trata-se do melhor modelo de SAF feito no Brasil, que possibilitará ao Cruz-Maltino disputar com Flamengo e Palmeiras.
"A partir do ano que vem, com o acesso, e eu acho que vai subir, o Vasco já estará com uma outra perspectiva. A 777 está muito animada, eles estão dispostos a investir, a estruturar o clube. Com todo respeito ao Ronaldo, ao Cruzeiro, ao Botafogo, mas o modelo do Vasco é diferente. Atrás da 777 tem um fundo estruturado, com uma gestão de governança bem definida. Os caras não entram no negócio para perder. Lidam com muita grana de investidores e sabem que o Vasco é uma potência, não só no futebol brasileiro. Eu vejo o Vasco brigando lá em cima e voltando ao tempo de glória do final da década de 1990. O torcedor pode criar uma expectativa boa. Eles são muito profissionais, estão planejando fazer uma estrutura bem interessante, investimento no time de futebol, CT e base. O Flamengo e o Palmeiras que se cuidem, o Vasco está chegando".
Apesar de ter sido o elo da negociação entre Vasco e 777 Partners, Anderson Santos não participou das tratativas. Coube a ele apresentar as análises financeiras do clube, dando argumentos para o presidente Jorge Salgado e o vice-presidente de finanças, Adriano Mendes, responsáveis pela elaboração do acordo entre as partes. O profissional revelou que vai continuar na SAF, porém não como diretor financeiro, cargo que será ocupado por Lúcio Barbosa.
"Já imaginava isso, vim do mercado e essas práticas são comuns. Os caras buscaram um homem de confiança deles, que é o Lúcio Barbosa, para fazer a gestão financeira. É um profissional gente boa para caramba e estou com ele desde a semana passada. Vem de empresas grandes como a Apple. Tem um currículo bastante interessante. Eu fui convidado para trabalhar na parte da controladoria e fiquei feliz com esse reconhecimento. A diretoria entende que sem o meu trabalho e as coisas que a gente construiu, nada disso seria possível. Além da questão financeira, o reconhecimento é importante. Eu estou apostando nisso também. A gente faz um trabalho esperando colher lá na frente os frutos".
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Sem a SAF, qual era a perspectiva para o Vasco?
"Não tinha outra solução para o Vasco. Estou desde 2018 no clube e já fiquei quatro, cinco meses com o salário atrasado. Eu não sei se o Vasco passaria do primeiro trimestre se não fosse o empréstimo-ponte de R$ 70 milhões. Não tinha outra solução a não ser a SAF. Muito se falou sobre a entrada de um investidor na época da campanha, mas me pareceu uma utopia. Conhecendo a realidade econômica do Brasil e do mundo, a única maneira era a transformação para clube-empresa e a venda para um investidor".
A SAF é o caminho para o Vasco ou para todos os clubes brasileiros?
"No futebol brasileiro não tem alternativa. Mais cedo ou mais tarde, os clubes, mesmo aqueles que possuem uma estrutura como Flamengo e Palmeiras, uma hora eles irão se render à SAF, porque vão ficar para trás. Não é só uma questão financeira, mas sim de governança, que é muito prejudicada em um clube associativo por causa da política. Ela interfere muito. Até mesmo para o investimento de capital, patrocínios. Os investidores tendem a preferir um clube-empresa que seja estruturado, do que se arriscar em um clube associativo. O Vasco está em um momento muito bom. Sem dúvida é a maior transação do futebol brasileiro, a maneira como o contrato foi feito, a preocupação sobre garantias, os valores para o clube, a marca, a história, além do aspecto financeiro".
E o clube associativo, o Club de Regatas Vasco da Gama, como vai ficar?
"Eu prevejo que o clube vá se tornar forte nos esportes olímpicos, mas isso não é em curto prazo. A partir de setembro, já tem uma previsão para regularizar algumas pendências financeiras para que em meados de outubro, a gente tenha as Certidões Negativas de Débitos (CNDs). Já conseguimos a Certidão Negativa do FGTS e a Certidão Negativa do TRT. Só falta a Certidão Negativa dos Tributos Federais com a Procuradoria. Com essa emissão, o clube voltará a ter acesso aos recursos dos projetos incentivados e o Vasco tem um grande histórico nos Esportes Olímpicos. A previsão é de arrecadação com recursos incentivados na casa de R$ 8,5 milhões. Vai ter a receita do sócio-estatutário, cerca de R$ 400 mil por mês, quase R$ 5 milhões por ano. Tem a parte dos royalties por licenciamentos destinados ao clube associativo. Eu estimo uma capacidade financeira de investimentos nessas outras áreas do esporte, que eram bancadas pela receita do futebol e muito limitada pelo endividamento do clube".
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