Vítima passou por cinco transferências de local e oito trocas de horário de trabalho Thiago Brandão

Por O Dia
Rio - Um ex-locutor dos Supermercados Mundial acusa a unidade de Ramos, na Zona Norte do Rio, de intolerância religiosa, após ter sido demitido, nesta quarta-feira (7). Rafael da Silva Oliveira, de 37 anos, é sacerdote de culto afro-brasileiro e afirma ter sido perseguido depois de ir trabalhar com uma máscara estampada com o Orixá Ogum, símbolo das religiões de matriz africana, no último dia 17.
Segundo Rafael, na ocasião, ele foi chamado à sala da gerência e obrigado a trocar de máscara pelo gerente da loja. No mesmo dia, Rafael foi transferido de unidade e relata que a partir de então, passou por sucessivas mudanças em seu horário e local de trabalho, sem aviso prévio. Segundo a vítima, nas últimas semanas foram cinco transferências de local e oito trocas de horário de trabalho.
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"O gerente começou a me questionar e gritar sobre a máscara, dizendo que não era o padrão. Porém, havia outras pessoas usando máscaras de time e outras escrito ‘’fé’’. Depois disso fui transferido, mudaram meu horário e agora me mandaram embora após a minha denúncia ao RH da empresa" contou o ex-funcionário.
Na última sexta-feira (2), a vítima foi até a sede da empresa, no bairro de Inhaúma, também na Zona Norte, para denunciar a suposta perseguição por parte da gestão. Menos de uma semana após a queixa, Rafael foi dispensado do trabalho. Ele conta que foi coagido a assinar o documento de demissão e que seguranças à paisana o acompanharam enquanto ele tentava ligar para o "Disque 100", de Direitos Humanos, para comunicar o ato de intolerância.
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Rafael ainda declarou que sofreu uma crise de ansiedade e se trancou no banheiro por três horas, com fortes dores musculares, por conta do curto espaço em que permaneceu sentado. O relator da CPI que investiga a intolerância religiosa no estado, o deputado estadual Átila Nunes (MDB), prestou assistência jurídica à vítima, que só aceitou sair do banheiro acompanhado do assessor do parlamentar, que seguiu com ele até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo do Alemão.
"Uma empresa deve contratar ou desligar um funcionário por razões de competência e conduta profissional, mas jamais por questões raciais, de gênero ou religiosa. É gravíssimo o que aconteceu com Rafael, considerando que após ter que retirar a máscara, ainda foi transferido de unidade e horário. E quando confiou na administração da empresa para contar o que estava acontecendo, perdeu seu emprego", disse o relator da CPI.
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O primeiro atendimento médico prestado à vítima foi realizado pela equipe do supermercado. A rede explicou à equipe do parlamentar que a possibilidade de mudanças no horário e transferências de unidade estão previstas no contrato de trabalho e que as máscaras são padronizadas, mesmo que alguns funcionários usassem máscaras com outras estampas. O caso será investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). A especializada também investiga outra denúncia da vítima, feita em setembro de 2020, quando Rafael foi expulso de uma corrida de aplicativo por estar vestido com roupas do culto afro-brasileiro.
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Em nota, o Mundial informou que não compactua com qualquer ato de discriminação ou intolerância religiosa, e respeita todas as crenças. Segundo o Supermercado, desde o início da pandemia, segue rigorosamente todos os protocolos de segurança contra a covid-19, sendo um deles a obrigatoriedade do uso de máscaras por todos os colaboradores, que "precisam respeitar as normas técnicas dos órgãos oficiais de saúde e um bom estado de higiene." A rede alega que o desligamento de Rafael não ocorreu por conta de sua religião.
"O Mundial reforça que a declaração não condiz com a cultura da marca, e oferece treinamentos constantes para todos os colaboradores e funcionários terceirizados sobre cuidado com o cliente, excelência, valores e propósito da companhia. O colaborador mencionado não integra mais a equipe do Mundial. As razões do desligamento do mesmo não possuem qualquer relação com o fato por ele narrado", continua o Mundial.