Rio - O caos no trânsito no Centro do Rio tem enlouquecido boa parte dos cariocas e enfraquecido o comércio da região, principal responsável pela arrecadação do município. A demora para chegar e sair do Centro tem feito patrões e empregados chegarem atrasados.
Além disso, consumidores têm ficado menos tempo na região para tentar voltar para casa mais cedo. As compras no fim da tarde, por exemplo, despencaram.
“Não dá para a gente dimensionar. Qualquer número que a gente der, neste momento, vai ser um chute. O prejuízo é incalculável. Não vai ser um ano bom para o comércio do Rio”, afirma Aldo Gonçalves, presidente do Conselho Empresarial da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). Preocupado com os prejuízos iminentes, Gonçalves diz que os comerciantes não têm recebido contrapartida da prefeitura pelos transtornos causados no trânsito.
“Pedem para o carioca evitar o Centro, mas não falam quem vai pagar essa conta. Os tributos não diminuem.” Os problemas são vividos na pele sobretudo por quem mora longe do Centro. Caso do servidor público Maurício Paiva, que trabalha na Zona Portuária e teve de mudar toda a rotina para não passar quase cinco horas por dia dentro do carro.
“Moro no Recreio e tenho que sair de casa uma hora antes, às 6h, para chegar às 7h e conseguir sair do trabalho às 16h. Se eu continuasse saindo no horário de antes, demoraria o dobro do tempo para chegar ao trabalho, o que me obrigaria a ficar uma hora a mais e perder cerca de três horas para voltar para casa. Ou seja, acabaria minha vida social. Viveria só para trabalhar.”
Se para quem vai de carro a coisa está feia, os que têm de utilizar o transporte pública sofrem ainda mais. E também no bolso. Apesar de a prefeitura ter anunciado que, a partir do dia 22, o usuário de transporte público terá mais meia hora para usar o Bilhete Único Carioca na segunda condução, muitos ainda consideram o tempo insuficiente.
“É muito difícil conseguir pegar duas conduções. Venho da Barra e levo duas horas e 20 minutos só para chegar na Central. E termino o trajeto a pé para não pagar outra passagem”, contou o auxiliar administrativo João Benedito de Oliveira, 58 anos, que todos os dias anda cerca de dois quilômetros da Central à Gamboa, na Zona Portuária. “Se não houvesse trânsito, essa viagem poderia ser feita em 40 minutos. Mas é engarrafamento o tempo todo.”
O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, explicou que a decisão de aumentar o limite do Bilhete Único para 2h30 foi baseada em medições nos corredores de ônibus e nas catracas dos coletivos, além das reclamações à ouvidoria da prefeitura.
“Para a economia, é uma grande perda de valor” - Gilberto Braga, professor do IBMEC
O trânsito está caótico. As ruas estão repletas de carros vazios com apenas o motorista e de ônibus cheios e quentes. Barcas, metrô e trens superlotados, com atrasos frequentes e problemas operacionais repetidos. Não está nada fácil se locomover no Rio. Ir ao Centro virou uma aventura, com obras, interdições de ruas e inversões de trânsito e sempre com muita perda de tempo.
Demolimos o elevado da Perimetral sem que a cidade tivesse alternativas reais de escoamento enquanto as obras não ficam prontas. Confio que a cidade ficará linda no futuro, mas o problema é esperar que isso se torne realidade. Enquanto isso, o carioca é só irritação com o perda de tempo, de dinheiro, de paciência, de saúde e com a falta de educação dos motoristas e com desrespeito generalizado com o próximo.
Some-se a isso tido a passividade predominante dos “verdinhos” da Prefeitura, que passam quase o tempo todo abrigados nas sombras, falando em rádios celulares. Para a economia, isso tudo é uma grande perda de valor. Além do tempo improdutivo do carioca preso no transporte publico ruim ou nos engarrafamentos enervantes dos carros, há o desperdício geral de combustível e de energia elétrica.
Isso tudo diminui o tempo livre das pessoas para consumirem, logo o lucro das empresas acaba caindo e todos nós, pessoas físicas e jurídicas, indiretamente acabamos pagando menos tributos. Ou seja, no fim das contas quem mais perde é o próprio Estado. É o feitiço virando contra o próprio feiticeiro.
Congestionamento impacta a saúde
O médico Dirceu Rodrigues Alves, da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, explica que o caos no trânsito do Rio de Janeiro pode gerar uma série de problemas de saúde para os cariocas que perdem boa parte do dia no intermináveis congestionamentos.
“A lista é grande, mas os principais problemas são tensão, ansiedade e angústia, que aumentam consideravelmente o nível de estresse físico. Isto sem falar no estresse psicológico e no social, para aqueles que perdem outros compromissos, como pegar filhos na escola, por exemplo”, explica.
Para minimizar estes efeitos, o médico recomenda uma série de pequenos exercícios que devem ser feitos antes de encarar o trânsito. “Qualquer tipo de alongamento produz endorfina, que é um analgésico natural. Vale a pena”, diz o médico.