Rodrigo Neves - Opinião - O DIA
Rodrigo Neves - Opinião - O DIADivulgação
Por Rodrigo Neves*
A pandemia da covid-19 é o marco inaugural do século XXI, e ainda sentiremos nos próximos meses suas consequências provavelmente com muitos milhares de infectados graves e óbitos de conhecidos pela doença. Pelos próximos anos e décadas sofreremos seus efeitos econômicos, sociais, urbanos e até geopolíticos. A democracia, já debilitada pela erosão constante das normas político-jurídicas, pelo ataque sistemático dos autoritários às instituições fundamentais e pelas desigualdades sociais agravadas, corre sérios riscos nesse período histórico que se inicia de prováveis pandemias intermitentes.
Evidentemente que a resposta e superação dessas crises simultâneas não serão feitas por aqueles que negaram a gravidade do problema, desprezaram a Ciência e a vida, provocaram mais mortes ignorando as medidas de prevenção recomendadas pelos órgãos técnicos da Saúde, propagaram criminosamente fake news de tratamento precoce e foram incapazes de proteger cidadãos e a Economia.
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A atual pandemia é um fenômeno social total, muito mais do que uma grave crise sanitária, e precisa ser enfrentada em todas suas dimensões e integrando vários conhecimentos científicos como a epidemiologia, a Economia e a Sociologia, a partir de um pressuposto ético-politico fundamental: a defesa da vida e o convívio democrático.
Nesse momento Portugal e o Reino Unido controlam a terceira onda das novas variantes do coronavírus após mais de dois meses de lockdown e retomam atividades econômicas com programas de forte apoio às famílias e empresas, baixo contágio e óbitos. O Brasil, por outro lado, é um dos principais epicentros do problema no mundo, cada vez mais isolado, média de mais de 3 mil mortos por dia, seguindo ao cadafalso de uma devastação humanitária e econômica como resultados do negacionismo e incompetência.
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O professor e sociólogo português Boaventura de Sousa Santos em seu recente livro "O futuro começa agora", um dos estudos mais completos sobre o fenômeno pandêmico, ressalta que "muitos dos nossos sonhos foram reduzidos ao que existe e o que existe é muitas vezes um pesadelo, e ser utópico hoje é a maneira mais consistente de ser realista". É ainda possível reduzir a dimensão da tragédia no Rio e no Brasil e evitar uma terceira onda de variantes no próximo inverno fazendo o que no mundo estão buscando fazer: distanciamento físico-sanitário, atenção a higiene, uso de máscaras, vacinação, apoio às famílias e empresas, com coordenação federativa.
Mas é necessário mais do que isso para reconstrução após essa catástrofe humanitária e econômica: através da inteligência humana e da força das Instituições democráticas e do povo, projetar novas possibilidades de vida coletiva e individual através de um desenvolvimento mais equilibrado, socialmente justo e ecologicamente sustentável.

É sociólogo e ex-prefeito de Niterói