Alexandre Knoploch fala dos planos do PSLReprodução/Alerj

Ao longo de seis meses nos quais estive à frente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Crianças Desaparecidas, na Assembleia Legislativa do Rio, foram muitas as denúncias de desaparecimentos de crianças nunca desvendados, casos de negligência no atendimento às mães que buscavam por seus filhos nas delegacias, e infindáveis pedidos de ajuda dos familiares de crianças e adolescentes sumidos em todo o Estado.
Ainda em junho, no início dos trabalhos, percebi que a missão seria árdua, mas não desistiria. Afinal, a CPI também serviria de importante instrumento para, além de ajudarmos as famílias necessitadas, cobrarmos as operadoras de telefonia para que colocassem o Alerta Pri em prática. A lei 9.182/ 2021, de minha autoria, já foi sancionada e regulamentada pelo governador Claudio Castro e prevê disparos de SMS nos celulares de toda a população, sempre que uma criança desaparecer no estado.
Finda a CPI, cabe a mim, criador da comissão, prestar contas à população. Balanço que me deixa satisfeito. Conseguimos fazer um pacotão de projetos de leis, para dar mais visibilidade à causa. Um dos PLs, criado por mim, é o que fixa a divulgação das imagens dos desaparecidos durante os jogos de futebol. Isso já ocorreu no passado e traz bons resultados. Sigo na briga para que entre na pauta de votações da Casa o quanto antes. Certamente, nos ajudará a salvar muitas vidas.
Mas, sem dúvida, uma das principais lições da CPI é que os desaparecimentos de crianças no estado podem ser evitados por meio de políticas públicas voltadas para famílias de baixa renda, principalmente na Baixada Fluminense. Quando realizamos as primeiras reuniões da comissão, achei que fôssemos nos deparar mais com questões relacionadas ao crime. Vimos, porém, que o problema é, em sua grande parte, social. Políticas públicas simplesmente não existem para essas famílias, que, em sua maioria, pertencem às classes D e E.
Um bom exemplo disso é que mais de 70% dos desaparecimentos de crianças e adolescentes, segundo nos apontou a  Fundação para a Infância e Adolescência (FIA), está atrelado à fuga do lar. Uma questão social. Ao longo dos trabalhos, ouvimos representantes da Polícia Civil, das secretarias estaduais, dos conselhos tutelares, das delegacias especializadas e da FIA.
Nos debruçamos e o cenário, em muitos momentos, foi desolador. Uma das denúncias que recebemos foi de que, em São Gonçalo, por exemplo, existem quatro conselhos tutelares, com apenas dois psicólogos, para uma população de um milhão de habitantes. Um absurdo que será apontado em nosso relatório final.
Na Baixada, onde mais desaparecem crianças, simplesmente não há uma delegacia especializada, como ocorre na capital, com a Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA). Mas conseguimos firmar um compromisso com o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, para que uma delegacia especializada seja criada para atender a população da região.
Não podemos mais aceitar que as mães que queiram registrar o desaparecimento de seus filhos tenham que fazer isso na Delegacia de Homicídios da Baixada. Isso significa presumir que seus filhos já estão mortos. Uma crueldade ainda maior com essas mulheres já tão sofridas.
Alexandre Knoploch é deputado estadual e criador e Presidente da CPI dos Desaparecidos da Alerj