Em todos esses anos de sindicalismo, jamais presenciei tamanho descaso, falta de comprometimento e respeito por parte dos empresários de ônibus e da prefeitura, em relação aos 19 mil rodoviários profissionais responsáveis em transportar diariamente cerca de três milhões de passageiros em ônibus que, por vezes, não apresentam a mínima condição de estarem circulando. A categoria, que já está há três anos sem nenhum tipo de reajuste, seja de salários, cesta básica e ticket refeição, não suporta mais tanto descaso.
Para piorar a situação, estamos tentando junto ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT) agendar audiência para que possam ser julgar os dissídios dos trabalhadores relativos aos anos de 2020/2021 e 2021/2022, mas até o momento recebemos apenas promessas das empresas, do Executivo Municipal e da Justiça do Trabalho, que simplesmente ignoram a categoria.
Prova disso é a total falta de organização nos BRTs, que não conta uma administração firme e manutenção adequada dos articulados, provocando inúmeros acidentes como rodas que se soltam e veículos quebrando ao longo das viagens, sem falar nas péssimas condições em que eles se encontram, já que circulam com as portas abertas devido à superlotação e falta de manutenção do ar-condicionado, colocando em risco a vida dos usuários.
A falta de segurança nas estações e as péssimas condições das calhas por onde circulam os articulados também colaboram para a insatisfação dos usuários e dos motoristas, que acabam sofrendo agressões físicas. Outra situação que preocupa a categoria diz respeito à violência. Não é de hoje que a direção do sindicato cobra autoridades esquema de segurança mais eficaz e que evite o aumento desproporcional de assaltos dentro dos ônibus.
Somente em 2021 foram registrados mais de dez mil assaltos a ônibus, porém esse número ainda pode ser bem maior, já que muitas vítimas deixam de ir à delegacia para fazer o registro de ocorrência por achar de que nada adianta, tornando-se assim mais um número de uma estatística que não para de crescer. Importante ressaltar que além dos passageiros que foram roubados, os motoristas também sofrem enorme trauma psicológico e, prova disso, é que muitos deles nos procuram pedindo auxílio psicológico para tentar amenizar o trauma; além de se dirigirem à direção das empresas em que trabalham pedindo para que mudem de linha e tenham seu itinerário alterado para evitar que passem por essa mesma situação no futuro.
Vias como Av. Brasil, no trecho entre Campo Grande e Bonsucesso e próximo à passarela 11, em Ramos, são os locais onde são registrados o maior número de delitos. Em 2020, a Av. Brasil registrou 107 assaltos contra 116 em 2021; já na Pastor Martin Luther King, em 2020, ocorreram 82 assaltos contra 127 em 2021.
Esses números cada vez mais crescentes comprovam apenas que somente o uso de câmeras internas nos coletivos, que por vezes não funcionam, se mostra insuficiente para inibir qualquer tipo de violência. É preciso que a PM intensifique as blitzes dentro de coletivos, não dá mais para aceitar com parcimônia a perda de vidas, sejam de passageiros ou de profissionais da categoria, que apenas querem levar para casa o sustento de suas famílias.
Sebastião José é presidente do Sindicato dos Rodoviários do Rio de Janeiro
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