Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação

Há anos estamos em guerra. O Rio nunca esteve tão violento, em qualquer parte da cidade, a qualquer hora. Quem nunca sofreu um ato de violência no Rio? Quem não anda com medo de ser abordado por marginais a qualquer hora e lugar? Vivemos sob a mira de terroristas domésticos que, agora, se camuflam de ambulantes, mototaxistas, entregadores e etc. Inimigos invisíveis e que nada têm a perder. Nos tornamos reféns de uma guerra que só cresce nas últimas décadas e precisamos sair dela.
Em ano eleitoral como este, o que fica mais em evidência é a polarização, muita discussão e os holofotes da mídia. A busca pelo poder é a prioridade, enquanto a guerra urbana se agrava sob o olhar inerte dos governantes em geral.
As mortes nas incursões no Jacarezinho, na Vila Cruzeiro, entre tantas outras que já ocorreram e que, infelizmente, ainda estão por vir, chocam a sociedade, mas o roteiro é o mesmo com os policiais sendo recebidos a tiros e tendo que revidar. Mas a arma do policial que mata o marginal é a que defende a sociedade. Morrem bandidos e pessoas de bem, mas até isso é característico de um estado de guerra, pois não há uma sem que morram inocentes.
Neste balaio também estão os policiais. Estudo do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio revelou que, entre 2016 e 2020, sete a cada dez policiais militares e civis mortos por causas não naturais no estado foram assassinados. Do total de 506 agentes que morreram, 364 (72%) foram vítimas de homicídio ou latrocínio. Mais de 90% eram PMs.
Nos últimos dois anos, as restrições e limitações do Supremo Tribunal Federal (STF) para operações em favelas do Rio, por conta da pandemia, fortaleceu o narcotráfico. Com a devida data vênia à Suprema Corte, ela não pode interferir na política de segurança pública, pois o Poder Judiciário tem a competência de processar e julgar. Essa proibição fortalece a criminalidade e desprotegem o cidadão de bem que mora lá dentro, sendo escravizados por criminosos que aliciam jovens, impõem ordens, punem, matam, estupram etc.
A PM faz a sua parte dentro do possível, mas passou da hora do comando federal envolver de forma mais contundente as Forças Armadas numa ação mais ampla. É preciso maior inteligência e rigor no combate à entrada de armas e drogas no país. Tem que haver uma operação de asfixia, abalando as estruturas das organizações criminosas. Mas para isso, é importante estar no comando estratégico das políticas públicas, profissionais que conhecem a guerra urbana, que já enfrentaram as ruas e favelas, com experiência de campo. E não pessoas que só ficam nos livros e na teoria.
Falta uma política de Estado nacional para a segurança pública, pois estamos sempre um passo atrás das organizações criminosas, que se profissionalizaram, atuando com funções definidas e um modus operandi eficaz em todo o território nacional. Em paralelo, a maior prioridade do Rio hoje é a geração de emprego e renda para os jovens, promovendo profissionalização, investindo na Educação e diminuindo o acesso deles ao mundo do crime.
Enfim, precisamos sair desse estado de guerra, caso contrário continuaremos reféns da violência e perdendo vidas.
Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública