Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação

Nada mais oportuno do que o livro que a socióloga Bárbara Goulart vem de lançar, “Memórias políticas sobre João Goulart". Na verdade podemos estar vivendo uma situação muito semelhante àquela nos 30 meses de Governo Goulart e neste correto trabalho tem lições a serem observadas.

A autora, neta do ex-presidente, faz isenta narrativa da vida pública do avô a partir de sua presença no Ministério do Trabalho, quando deu início a uma ligação com forças de esquerda, embora ele mesmo fosse um político formado no modelo conciliador de seu mestre Getúlio Vargas. Ouviu, pesquisou e consultou personalidades da época.

No Parlamentarismo como na volta ao presidencialismo, teve a seu lado políticos de bom senso e equilíbrio como Tancredo Neves, San Tiago Dantas, Antônio Balbino, Auro de Moura Andrade e até o aristocrata Carvalho Pinto. Mas sempre questionado por uma aguerrida esquerda revolucionária, tendo à frente o cunhado Leonel Brizola e comunistas conhecidos.

O agravamento da crise na Economia, decorrente em parte pela falta de confiança, o levou a apresentar um programa econômico razoável, da autoria de Celso Furtado, um marxista esclarecido. Mas a esquerda tanto fez que o projeto foi esquecido.

As lições de Goulart na relação com militares, imprensa e o empresariado devem ser avaliadas pelo presidente eleito. Existe um consenso de que ele é muito melhor do que sua turma ideológica revolucionaria. E vingativa como vai se verificar. Lula tem de perceber que estes aliados são mais perigosos do que os adversários.

Na excelente biografia de Samuel Wainer, de Karla Monteiro, está lá que o grande jornalista e amigo de Jango se afastou dele dizendo que não queria assistir a sua inevitável queda. Barbara cita ainda João Pinheiro Neto, outro sensato e leal companheiro, que lembrou que Jango "brigou demais com gente forte demais".

Lula vai ter de optar. O Brasil hoje é muito maior, as empresas maiores e os militares mais informados e conscientes do projeto Foro de São Paulo-Bolivariano. Como está registrado no livro de Bárbara os militares eram unidos no anticomunismo e continuam. Hoje também estão comprometidos com o bem-estar social, o crescimento econômico e a ordem pública.

Lula tem de saber que, empossado, vai ter de medir o que fala e o que fará. E não ceder aos que querem anular a unidade dos militares com nova onda revanchista. O livro é oportuno. Alguém deveria fazer um resumo para o Presidente eleito.
Aristóteles Drummond é jornalista